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Esse texto pretende situar as danças folclóricas na disciplina de Educação Física. Não é preciso grande esforço para compreender por que as danças folclóricas se apresentam como conteúdo fundamental, desde a educação infantil até o ensino médio: trata-se da possibilidade de trabalhar as tradições culturais de determinada localidade por meio da junção de ritmo com movimentos corporais.
É bastante provável que a dança folclórica mais trabalhada nas escolas brasileiras seja a festa junina, que no Brasil é uma festa em homenagem aos santos católicos de comemoração no mês de junho, em especial Santo Antônio e São João. Em geral, as escolas buscam representar essa festa tradicional brasileira por meio da organização de barracas, que vendem comidas típicas e promovem gincanas, e da principal atração da festa: a quadrilha, uma dança que apresenta o ritual para a celebração de uma festa de casamento em pequenas cidades da zona rural brasileira. Embora as festas juninas sejam um elemento riquíssimo para estudo não apenas nas aulas de Educação Física, mas também para um profundo trabalho interdisciplinar, ela é tratada como uma atividade obrigatória nas escolas, e com a qual poucos professores pretendem se envolver, inclusive os de Educação Física. O resultado é que todas as crianças brasileiras certamente já dançaram quadrilha alguma vez na vida, mas só entenderão o motivo, já bem mais velhas.
O trabalho com danças folclóricas requer, assim como provavelmente qualquer outro conteúdo, que o professor apresente o contexto social em que a dança é executada na sua região de origem, o que apresenta múltiplas alternativas para o trabalho com alunos, desde a pesquisa em casa sobre a região em que a dança é praticada – o que engloba os costumes sociais, as comidas típicas da região, as práticas religiosas locais, entre outros – até o aprendizado da execução da dança. Nessa perspectiva, o que se propõe é enriquecer o aprendizado sobre a dança, ao invés de trabalhar o simples aprendizado da dança. Trata-se, então, de privilegiar o homem e sua produção cultural, em detrimento de uma cópia coreográfica despida de sentido.
As possibilidades de trabalho com danças folclóricas brasileiras ou estrangeiras são inúmeras. Nosso país é bastante rico em tradições populares e, por apresentar dimensões continentais, agrupa grupos regionais com traços culturais bastante distintos, fato que precisa ser questionado com os alunos e que pode ser feito por meio das danças. Exemplos de danças, para além da quadrilha, são o Cacuriá (tradicional do Maranhão), a Dança da Fita (de origem europeia, dançada no Rio Grande do Sul e Santa Catarina), a Catira (grande parte da região sudeste), o Tambor de Crioula (Maranhão), a Ciranda (Pernambuco), entre muitas outras. Isso significa que trabalhar com dança folclórica permite a exploração de um universo muitas vezes desconhecido para os alunos.
Essa exploração do desconhecido apresenta mais uma vantagem, que extrapola o universo educacional para atingir a condição humana: a redução do preconceito. A delimitação de um universo cultural e social remete às pessoas a um estranhamento do desconhecido. E é exatamente o não reconhecimento do outro e, ao mesmo tempo, a necessidade de afirmação de sua própria cultura, que estimula o preconceito. Logo, quando as culturas passam a serem conhecidas, a tendência ao preconceito é diminuída.
Por Paula Rondinelli
Colaboradora Brasil Escola
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Doutoranda em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo - USP