Professor, quando negligenciamos a existência das variedades linguísticas em sala de aula e desconsideramos as idiossincrasias dos falantes da língua portuguesa, contribuímos, ainda que sem intenção, para a manutenção do preconceito linguístico. Teoria que vem sendo cada vez mais discutida nos meios acadêmicos, o preconceito linguístico prestigia a variedade padrão em detrimento dos outros registros, especialmente aqueles utilizados por grupos sociais menos favorecidos e com menores níveis de exposição aos saberes difundidos nas escolas e livros.
Para mostrar aos alunos que não existe um jeito pior ou melhor de falar, sugerimos uma proposta que contempla os diferentes dialetos e registros nas aulas de língua portuguesa. É preciso conhecer os aspectos sociais e históricos que forjaram nossa identidade cultural e que influenciaram sobremaneira o idioma, ferramenta que pertence aos falantes. A aula deve ser desenvolvida em cinco etapas e pode contemplar as séries finais do Ensino Fundamental e também as turmas do Ensino Médio. Acompanhe os diferentes estágios e boa aula!
Proposta de aula sobre dialetos e registros
1ª Etapa: Se possível for, apresente aos alunos o livro “Preconceito linguístico”, de Marcos Bagno. A expressão “preconceito linguístico” é utilizada entre leitores e estudiosos da Sociolinguística, disciplina que estuda o fenômeno da variação linguística e as atitudes da sociedade em relação às variedades, sobretudo à variedade não padrão. Faça uma discussão sobre o tema com seus alunos para fazer um levantamento sobre as diferentes opiniões.
2ª Etapa: Discuta o conceito de dialetos e registros. Aponte as seguintes diferenças entre esses dois elementos:
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Dialetos: fazem referência à maneira de falar, ou seja, à forma como uma língua é realizada em um determinado território. Grupos sociais que se identificam cultural e historicamente costumam utilizar uma linguagem aproximada, com vocabulário, expressões e gírias específicas. Não se esqueça de apontar para seus alunos que os dialetos são considerados variedades linguísticas, não erros.
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Registros: Chamamos de registros as variações relacionadas com os níveis de fala. Na língua portuguesa existem a variedade padrão, ou norma culta, e a variedade não padrão. Cada situação de uso da língua determinará qual registro será mais apropriado, cumprindo de maneira mais eficiente o papel da comunicação.
3ª Etapa: Leve para a sala de aula exemplos de variações linguísticas encontrados nos textos literários, como poemas e músicas. Dê preferência aos autores regionais e seus diferentes dialetos, como Patativa do Assaré, Guimarães Rosa, Dalton Trevisan, entre outros. Os exemplos encontrados na Literatura servirão para desmistificar a ideia corrente de que apenas a variedade padrão deve ser prestigiada.
4ª Etapa: Peça que os alunos entrevistem e gravem as falas de familiares e amigos para a construção de um “mapeamento linguístico”, cuja finalidade é a de registrar diferentes pronúncias, formas verbais, construções sintáticas e também diferenças relacionadas com o léxico encontradas principalmente entre falantes de diferentes estados e regiões.
5ª Etapa: Os alunos poderão apresentar seus trabalhos em uma feira cultural ou em seminários. O objetivo final desse projeto é mostrar para a turma que o preconceito linguístico é, na verdade, um preconceito social, uma discriminação sem fundamentação científica que atinge falantes inferiorizados por alguma razão e por algum fato histórico. Isso não quer dizer que a norma culta não seja relevante ou até mesmo que não deva ser ensinada, significa somente que os diferentes registros devem ser respeitados e contemplados em sala de aula.
Por Luana Castro
Graduada em Letras