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Antes de conduzirmos nossa discussão ao propósito ora firmado, torna-se altamente sugestivo que analisemos os dizeres abaixo descritos:
Ninguém é escritor por haver decidido dizer certas coisas, mas por haver decidido dizê-las de determinado modo.
SARTRE, Jean Paul. Que é a Literatura?. 3ed. São Paulo: Ática, 2004.
Será este o segredo da linguagem literária?
Tal questionamento aponta para uma recorrente prática, amplamente difundida nos ambiente escolares, sobretudo no que diz respeito à primeira e à segunda fase do Ensino Fundamental. De forma inegável, em se tratando das fases vindouras (Ensino Médio), o que se pode “colher” de tudo isso, nada mais é que alunos desmotivados e desinformados quanto ao sentido que a Literatura para eles representa, em termos didáticos.
O que na verdade ocorre é que as atividades relacionadas à leitura literária são realizadas, na maioria das vezes, apenas no intuito de cumprir um cronograma – estabelecido de acordo com o planejamento anual. Contudo, o educador não prioriza a importância de enfatizar acerca do verdadeiro significado desta arte, constituída de tamanho esplendor.
Como ler alguns clássicos, agora também em HQs, sem ao menos saber quem foi o autor e em que época ele viveu? Neste caso, como compreender o Alienista, se a linguagem machadiana se perfaz de alguns “rebuscamentos” e recursos próprios que não se encontram assim tão nitidamente compreensíveis aos olhos do leitor?
No sentido de repensar algumas práticas, faz-se necessário que o educador, desde as primeiras fases, permita que os educandos se familiarizem mais com o texto literário, no sentido de valorizar o trabalho que o escritor realiza com a linguagem. Nesse sentido, é essencial torná-los aptos a identificar algumas divergências manifestadas por discursos semelhantes a:
A sabedoria é uma virtude humana. / Tudo vale a pena quando a alma não é pequena (Fernando Pessoa)
Incialmente, sugere-se que o educador se proponha ao trabalho com diferentes gêneros, tais como a reportagem, textos instrucionais, crônicas, poemas, anúncios publicitários, entre outros. Após lidos, nada mais significativo do que explorar a finalidade discursiva neles presente – certamente que aí reside a diferença demarcada pela leitura de um texto informativo e um poema.
No caso da crônica, anúncio publicitário e do poema, é ideal fazê-los reconhecer que se trata de um discurso singular, único, no qual a linguagem se revela por características específicas ao utilizar recursos expressivos próprios da modalidade. Neste ínterim é altamente valoroso enfatizar acerca das figuras de linguagem, da sonoridade, ritmo, enfim, da forma como um todo. É o que nos revela João Luís Tápias Ceccantini, professor de Literatura da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp):
É primordial que os estudantes tenham certeza do que faz um texto ser literário e quais características garantem a identificação dele. E isso só é possível se todos tiverem familiaridade com esse tipo de leitura.
Com base em tais postulados, a proposta que aqui se evidencia se baseia na tentativa de modificar o fator que tende a cada vez mais imperar no cotidiano escolar: o distanciamento existente entre os conteúdos, abordagens e métodos de ensino e os sujeitos envolvidos em todo o processo de aprendizagem – os educandos. Diante disso, no sentido de promover rupturas com paradigmas estereotipados, faz-se necessário que o educador priorize o trabalho realizado por meio da leitura literária, fazendo com que a literatura se torne para eles instrumento de reflexão, com vistas a incitá-los a valorizar a estética realçada por meio da linguagem. Tal afirmativa parece nos revelar um teor ainda mais significativo ao nos atermos às palavras de Afrânio Coutinho, assim expressas:
A literatura é uma arte, a arte da palavra, isto é, um produto da imaginação criadora, cujo meio específico é a palavra, e cuja finalidade é despertar no leitor ou ouvinte o prazer estético.
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola