Sabemos que a erosão é um fenômeno natural causado pelo desgaste dos solos em virtude da ação dos agentes exógenos de transformação do relevo, como os ventos e a água. Sabemos também que esse processo é natural, mas que se intensifica graças à ação humana. Nesse sentido, observa-se o seu caráter social, uma vez que o seu local e o seu grau de ocorrência irão obedecer à forma com que a ação humana acontece sobre o espaço.
Tal observação torna-se evidente quando se analisa a lógica da produção agrícola no país, caracterizada pela expansão da fronteira agrícola ao longo dos séculos desde o período da colonização. As áreas mais afetadas pelo desmatamento em prol da agricultura registram a maior incidência de erosões, uma vez que o solo passa a ficar mais desprotegido e, portanto, mais susceptível ao desgaste.
Luiz Gonzaga, em sua canção cujo título é justamente “Erosão”, deflagra o nível de incidência desse fenômeno na região Nordeste do Brasil, um dos primeiros pontos da fronteira agrícola do país, de tal modo que essa música pode ser um excelente instrumento didático-pedagógico. Após uma aula prévia sobre as causas e incidência dos processos erosivos, o professor poderá utilizá-la em uma aula específica, fornecendo a letra da música para que os alunos a observem atentamente.
Erosão
Ainda hei de ver um dia
A minha terra sem a praga da erosão
Ai! Quem me dera se eu pudesse
Se Deus me desse uma atenção
E ajustasse todo o povo
No mutirão para acabar com a erosão
Ainda hei de ver um dia
De novo o verde
Se espalhar no meu sertão
A erosão parece uma serpente
Rachando a terra, devorando o chão
E a riqueza que era da gente
Vai toda embora com a erosão
Por isso, agora estou aqui cantando
Chamando o povo pra esse mutirão
Vamos minha gente, salvar nossa terra
Das rachaduras da erosão
No meu pedacinho de chão
Não tem perigo de erosão
Eu aprendi o jeito certo
De proteger a terra e a minha plantação
Ai, minha gente, que fartura
Tanta riqueza se espalhando pelo chão
É macaxeira, girimum caboclo
Batata- doce, melancia e melão
Feijão de corda se enroscando em tudo
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Dá gosto de ver minha plantação
Lá no açude, a água tão limpinha
Espelha o verde e a criação
É tão bonito este meu pé-de-serra
Com a terra livre da erosão (bis)
(Composição: Walter Santos e Tereza Souza)
Ao observar a letra, percebemos que o autor, explicitamente, queixa-se do problema da erosão que atrapalha a utilização das riquezas produzidas pela sua terra. A erosão propicia a perda de solos agricultáveis pelas famílias.
Ao apresentar a letra dessa música aos alunos, o professor de Geografia poderá, antes de uma exposição sobre o assunto, fazer perguntas, na forma escrita ou verbal, que estimulem o pensamento dos estudantes sobre o tema:
- Por que o autor se queixa tanto da erosão na letra da música?
- Qual é o método sugerido na letra para acabar com a erosão?
Com isso, espera-se que o aluno compreenda os prejuízos causados pela erosão e a ação conjunta da população na letra da música para eliminar o problema.
Após esse momento, recomenda-se que o professor realize uma breve exposição, relacionando a produção do espaço geográfico aos processos de transformação do meio, que se altera conforme os interesses da ação humana.
É interessante observar o trecho da canção que diz: “A erosão parece uma serpente/ Rachando a terra, devorando o chão/ E a riqueza que era da gente/ Vai toda embora com a erosão”. Nele, observa-se um duplo sentido da letra, pois aparentemente o autor se queixa que a erosão faz com que as riquezas (do solo) esgotem-se. Mas é perceptível também que o autor insinua que as erosões surgem ao mesmo tempo em que a riqueza some, ou seja, que a pobreza e agressão dos solos são duas resultantes das dinâmicas econômicas e sociais.
O professor poderá ressaltar esse aspecto para demonstrar como o processo de concentração fundiária e de controle dos recursos naturais são responsáveis pela miséria e pela agressão ao meio ambiente. A opinião dos alunos pode ser importante nesse momento de interação.
Como sugestão, o professor poderá pedir aos alunos que escrevam um texto interpretando a letra da música a partir dos debates realizados em sala de aula.
Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia