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Infelizmente, o tráfico de animais silvestres é uma situação recorrente em nosso país, cerca de 38 milhões de animais silvestres (principalmente aves) são retirados anualmente de suas áreas nativas no Brasil, segundo dados de 2012 da Organização não Governamental WWF. Essa prática consiste em um crime ambiental previsto na Lei de Crimes Ambientais, Nº 9.605/98, e vem contribuindo para a extinção de muitas espécies da nossa biodiversidade.
Trabalhar essa temática em sala de aula é muito importante para o processo de conscientização dos alunos sobre os prejuízos dessa ação, além de os colocarem como participantes ativos no combate ao tráfico de animais silvestres.
O filme de animação norte-americano “Rio”, produzido em 2011 pela Fox Filmes e dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, é um ótimo instrumento para se trabalhar em sala de aula o tráfico de animais silvestres. “Rio” retrata a história de uma ararinha-azul chamada Blu que ao nascer foi capturada na floresta do Rio de Janeiro e levada para a ilha de Minnesota, nos Estados Unidos. Lá foi criada por Linda, sua protetora, que cuidava muito bem da ave e tinha muito carinho pelo animal. A vida de Blu e Linda mudou quando um ornitólogo brasileiro contatou Linda dizendo que Blu era o último macho da espécie e que, no Rio de Janeiro, sob sua tutela, encontrava-se a última fêmea viva, a Jade. Então Linda e Blu partiram para o Rio e teve início a história dessas duas aves juntas, que demoraram a se entender e passaram por diversas aventuras a partir do momento que foram capturadas por uma quadrilha que vendia aves raras.
Como podemos perceber, o filme todo gira em torno da temática “tráfico de animais”, desde a captura de Blu e sua venda para o exterior até o momento que Blu e Jade foram capturados para serem comercializados. Além de retratar a realidade do tráfico de animais, o filme mostra o risco que essa prática pode trazer às espécies.
Como sugestão, o filme pode ser passado aos alunos após uma breve explanação sobre o “tráfico de animais silvestres”, quais são as suas consequências e as punições a esta prática de acordo com a legislação brasileira. Em seguida, pode-se passar o filme e dar início a um debate com os alunos. No debate, as discussões podem girar em torno do porquê de Blu ter que retornar ao Brasil; os riscos que Jade e Blu sofreram ao serem capturados pelos traficantes e como essa captura poderia prejudicar o casal e a espécie, de acordo com o filme. Por fim, uma recomendação seria trabalhar os erros de biologia perceptíveis no filme.
No geral, a maior parte dos filmes de animação que retratam a vida de animais apresenta erros de biologia. Contudo, devemos ter em mente que, normalmente, esses filmes não apresentam finalidades didáticas e, por isso, não possuem rigor nos aspectos biológicos (tanto que os animais têm a capacidade de falar), não perdendo seu mérito por apresentar tais erros. Vale ressaltar que o aspecto de evidenciar os erros de biologia do filme é uma forma de trabalhar o senso crítico dos discentes, de modo a torná-los críticos a diversos pontos de um conteúdo apresentado e propensos a perceberem falhas. Abordar esse aspecto dentro de uma aula de ciências ou biologia contribui para o desenvolvimento de temas paralelos ligados à biologia.
Durante o debate promovido ao final do filme, questione os alunos se eles perceberam algum erro de biologia na animação. Com certeza os alunos começarão a destacar um monte de erros, alguns corretos e outros não. Liste os erros apresentados no quadro negro e discuta com eles cada um, dizendo se vem ou não a ser um erro de biologia e o motivo. Como exemplos de erros no filme, podemos destacar a morfologia dos pés das ararinhas Blu e Jade e a distribuição geográfica da espécie. Na animação, as ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) possuem três dedos nos pés, sendo dois voltados para frente e um voltado para trás, além de serem nativas do Rio de Janeiro. Na verdade, esses animais possuem quatro dedos, dois voltados para frente e dois voltados para trás, uma característica distintiva da ordem que pertencem - Psittaciformes. A área de ocorrência da espécie nunca foi o Rio de Janeiro, e sim a Bahia, antes de terem sido extintas da natureza.
Ao final da proposta didática terá sido possível trabalhar a temática “tráfico de animais silvestres” e “aspectos da biologia das aves”.
Por Flávia Figueiredo
Graduada em Biologia