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No trabalho com os conteúdos ligados à Idade Média, muitos professores já demonstram a visível preocupação de discutirem a antiga noção que compreendia esse período como sendo a “idade das trevas”. Nesse sentido, indicam aos alunos que foram os pensadores do século XVII que perpetuaram essa visão preconceituosa que sugere a ausência da produção de qualquer forma de conhecimento nesse período marcado pela predominância de concepções religiosas.
Segundo essa mesma visão oitocentista, o “atraso” intelectual supostamente estabelecido no período medieval foi somente superando no exato momento em que o movimento renascentista recuperou as concepções e valores desenvolvidos pela civilização greco-romana. Nesse sentido, os professores costumam salientar que tal crítica não leva em conta o importante papel de preservação da cultura clássica desempenhado pelos monges copistas que viveram na época medieval.
Para que essa relação dos intelectuais medievais com a cultura greco-romana seja bem salientada, sugerimos que o mestre demonstre uma interessante citação feita por um professor do século XII. Mestre Bernard, ao falar sobre o legado da cultura clássica, refletiu:
“Somos anões carregados nos ombros de gigantes. Assim vemos mais, e vemos mais longe do que eles, não porque nossa visão seja mais aguda ou nossa estatura mais elevada, mas porque eles nos carregam no alto e nos levantam acima de sua altura gigantesca.”
Nessa geniosa alegoria apontada pelo docente medieval, o professor pode primeiramente levantar o fato de que as primeiras universidades construídas foram erguidas no período medieval. Além disso, vemos que no tributo prestado pelo personagem histórico aqui sugerido, os alunos podem enxergar um interessante exercício de interpretação sobre o conhecimento produzido na Antiguidade Ocidental.
Dessa forma, podemos provar que a perspectiva do século XVII esteve impregnada de preconceitos e imprecisões históricas. E mais do que isso, levamos os alunos a compreenderem que os filósofos, matemáticos e outros intelectuais greco-romanos eram lidos pelos homens da “idade das trevas”. Ao mesmo tempo em que o pensamento medieval ganha nossos ouvidos, estabelecemos um novo olhar sobre o passado.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola