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Em vários manuais que debatem o ensino de História vemos a recorrente preocupação em se abrir espaço para que os alunos enxerguem a contribuição dessa matéria no exercício de espírito crítico. Percebemos que a organização dos debates deve ser sistematicamente privilegiada como forma interativa de compreensão dos fatos passados. Dessa maneira, sugerimos aqui a elaboração de um debate que pense sobre os possíveis significados do processo de independência dos Estados Unidos.
Para que isso seja possível, indicamos que o professor ambiente a turma com os conceitos de “revolução” e “reforma”. Sob o aspecto sócio-político, a primeira define a deflagração de um acontecimento histórico capaz de suprimir a ordem vigente estabelecendo uma forma inédita de se organizar as estruturas que regem uma sociedade. Já o conceito de reforma imprime uma limitação conceitual ligada a um conjunto de mudanças que não chega a transformar radicalmente essa mesma sociedade.
Trabalhados esses dois conceitos, o professor retoma os conteúdos sobre a Independência dos Estados Unidos. Após revisar alguns pontos dessa experiência passada, lance em sala a questão: “Afinal, a Independência dos EUA foi uma reforma ou uma revolução?”. Por meio dessa pergunta, o mestre pode dividir a sala em dois grupos que devem advogar em favor de apenas um dos conceitos que foram primeiramente definidos: a reforma ou a revolução.
Dessa forma, uma aula posterior deve ser marcada para se debater as justificativas de cada um dos grupos. Montando um quadro-resumo, cada uma das partes deve apresentar suas argumentações para um outro grupo de alunos de outra turma ou para outras pessoas que não pertençam à sala, para que estes optem, através do voto, por algumas das compreensões discutidas em classe. Por meio dessa pequena sugestão é possível instigar o interesse do alunado em participar ativamente da pesquisa.
Após a realização do debate e da votação, o professor define qual dos dois grupos que conseguiu convencer o “corpo de jurados” envolvido nessa atividade. Para que o esforço do grupo menos votado não seja desvalorizado ou inferiorizado, o professor deve ter o cuidado de encerrar essa atividade com uma citação de um especialista que pesquisou sobre o assunto.
Como sugestão, deixamos registrada a opinião de Jacques Godechot, autor da obra “As Revoluções: 1770-1799”. Segundo esse estudioso:
“A luta dos Estados Unidos contra a Inglaterra foi apenas uma ‘guerra de independência’ ou foi uma revolução? (...) Alguns têm procurado ver, na guerra de independência americana, uma revolução (...), outros negam que essa guerra tenha trazido às antigas colônias inglesas profundas modificações econômicas e sociais. O meio termo é a opinião que deve prevalecer”
Através dessa frase, o professor pode mostrar que ambas as opiniões tem seu valor e uma coerência que não pode ser simplesmente invalidada por meio de uma opinião divergente. Com isso, a Independência dos EUA pode ser vista como uma reforma ao manter os interesses dos grupos sociais que já controlavam as 13 Colônias. Mas ao mesmo tempo, pode ser enxergada como revolucionária a instigar o desenvolvimento de outras revoltas que marcam o fim da colonização das Américas e a defesa do liberalismo.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola