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Jogos eletrônicos, brincadeiras tradicionais e a educação infantil

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É de uso corrente nas aulas de Educação Física, principalmente aquelas voltadas à educação infantil, o recurso das brincadeiras tradicionais para o trabalho com crianças. Entende-se aqui como brincadeiras tradicionais, as brincadeiras que nossos avós e nossos pais brincavam, e que foram passadas de geração para geração.

Os argumentos usados pelos professores são três: o primeiro se refere ao resgate e à transmissão de uma cultura tradicional, que as crianças precisam aprender a valorizar; o segundo é o de que essas brincadeiras são, geralmente, brincadas em grupos, propiciando a sociabilidade; e, finalmente, o terceiro argumento aponta para a qualidade de vida, haja vista que nesse tipo de atividade o movimento corporal é obrigatório. Serão discutidos os três argumentos, pontualmente.

1. O fato de as aulas de Educação Física escolar valorizarem as manifestações culturais do movimento humano é extremamente relevante, inclusive à medida que acompanham as propostas pedagógicas mais recentes. Por outro lado, existe outro discurso embutido nesse primeiro, que afirma que essas brincadeiras “são melhores do que as novas”, e costuma ser acompanhado pela frase “na minha época não tinha videogame e nem computador”. Ora, é impossível negar que se as brincadeiras tradicionais são apresentadas às crianças e que, como resultado, elas ainda preferem jogar no videogame ou no computador, então as novas brincadeiras tendem a ser mais divertidas do que as tradicionais.

2. O ponto referente à convivência com outras crianças também é importante, haja vista que o homem vive em sociedade e, por isso, em função das relações com outras pessoas. Como instrumento integrador, as brincadeiras tradicionais são fundamentais. Por outro lado, o universo virtual apresenta novas formas de integração social com as quais os adultos (e, por isso também os professores) estão pouco habituados. Há inúmeros tipos de jogos online em que é possível jogar e conhecer outras pessoas sem o contato real. E esse é um elemento de integração social, de relação com o outro, que apenas os jogos eletrônicos podem proporcionar.

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3. O terceiro ponto seria indiscutível, se não fosse a existência de uma nova geração de videogames que obriga as crianças a se movimentarem: de posse de um controle sem fio e em frente a uma tela de televisor, a criança observa um boneco que se move de acordo com os movimentos que a criança faz. Nesse sentido, a atividade física é constante enquanto joga videogame, e isso também ocorre durante a prática das brincadeiras tradicionais.

Logo, não se trata de supervalorizar a prática das brincadeiras tradicionais em detrimento dos jogos eletrônicos. Os dois tipos de atividades apresentam características distintas que podem ser bem utilizadas durante as aulas. Há um texto (que não lembro qual é) de uma grande socióloga brasileira, já falecida, chamada Maria Isaura Pereira de Queiróz, em que ela afirma que o processo de renovação de práticas culturais em um dado grupo social é normal, ou seja, algumas manifestações morrem, mas outras surgem. De modo algum aqui se propõe que as brincadeiras tradicionais devam morrer. O que se pretende é afirmar que atualmente participamos de um momento histórico, cujas características são bastante distintas dos tempos dos nossos avós, e que os professores precisam aprender a lidar com as novas tecnologias, já que elas são parte desse momento.


Por Paula Rondinelli
Colaboradora Brasil Escola
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Doutoranda em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo - USP