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Uma das formas possíveis de estimular os alunos a estudar a Revolução Russa é o trabalho em torno da arte produzida principalmente durante a década de 1920. Neste período, de fortalecimento do regime que estava se constituindo, uma série de artistas de várias áreas se dedicou à causa revolucionária. Um dos principais e mais engajados foi, sem dúvida alguma, Vladimir Maiakovski.
Poeta, dramaturgo, artista plástico e, em alguns momentos, ator, Maiakovski se destacou pela entrega às tarefas de divulgação das ações do novo regime, utilizando principalmente da criação de poesias e da confecção de cartazes. A proposta de aula que é feita neste texto busca estimular os alunos a pesquisarem esses dois tipos de produção artística de Maiakovski, mesclando com fatos de sua biografia.
Participante do partido bolchevique desde a década de 1910, Maiakovski se inseriu inicialmente no trabalho junto a pintores que compartilhavam das premissas do cubofuturismo, um movimento artístico de vanguarda russa que aliava as influências do cubismo e do futurismo ocidentais com as formas de arte populares da Rússia. No caso da poesia, havia uma preocupação em criar novas fontes e formas de localização de letras e palavras que fugissem da construção tradicional dos poemas.
Essa criatividade e inovação iriam acompanhá-lo quando estourasse a Revolução de 1917, levando Maiakovski a se dedicar ao auxílio na construção do regime soviético. Dessa forma, o professor pode aliar as produções artísticas de Maiakovski com o estudo dos fatos históricos da revolução russa. Um exemplo pode ser encontrado no cartaz abaixo feito para uma das campanhas do Estado.
Em uma tradução livre, com o auxílio de alguns tradutores eletrônicos, o significado seria o seguinte:
VOCÊ QUER? Adere
1. Você quer vencer o frio?
2. Você quer vencer a fome?
3. Você quer comer?
4. Você quer beber?
Apresse-se para se juntar ao trabalho exemplar da equipe de ataque.
É possível perceber o interesse em convocar os trabalhadores a aderirem às campanhas do Estado para o aumento da produção, trabalhando em cima das dificuldades surgidas principalmente após o fim da Guerra Civil e o início da NEP. Tais imagens possibilitam aliar o estudo dos fatos do processo revolucionário com as imagens criadas. Neste caso, produzidas contemporaneamente a estes mesmos fatos.
Isso também pode ser feito em relação às poesias de Maiakovski, pois inúmeras delas tinham o objetivo de contribuir na agitação e propaganda das ações do Estado Soviético.
Meu melhor verso
O auditório arremessa
suas perguntas ferinas,
insiste num desafio de papeletas:
“Camarada Maiakóvski,
leia seu melhor verso”.
Enquanto penso
talvez ler-lhes este
apanhado sobre a mesa
ou talvez aquele outro;
enquanto revejo
meu velho arsenal poético
e, muda, a sala espera,
o secretário do O Operário do Norte
lentamente
a meu ouvido
disse...
E eu gritei, saindo do tom poético,
mais alto do que as trombetas de Jericó:
“Camaradas:
Os trabalhadores
e as tropas de Cantão
tomaram Xangai!”
Como se amassassem o aplauso
com a palma das mãos
crescia a ovação,
crescia em força.
Cinco,
dez,
quinze minutos,
o salão aplaudia.
Parecia que a tormenta
cobria léguas e léguas
em resposta a todas as notas chamberlênicas
e rodava até chegar à China,
afastando os torpedeiros de Xangai.
Não comparo
a melhor geleia poética,
qualquer das maiores glórias poéticas,
com a simples notícia de jornal,
se a esta
nosso auditório aplaude.
Haverá por acaso
liga de maior força
que a solidariedade
da colmeia operária?
Aplaude,
obreiro têxtil,
aos desconhecidos
e queridos
coolies da China!
(Tradução de Emilio Carrera Guerra)
Neste poema, tomado como exemplo, é possível ver tanto a questão estética dos poemas de Maiakovski como seus temas ligados ao trabalho junto a grupos de operários, a participação de dirigentes do partido e a menção a lutas operárias em outros países, buscando fomentar uma solidariedade entre os trabalhadores.
Interessante também é pesquisar a vida de Maiakovski e mostrar como o avanço do poder de Stálin e o aumento da censura sobre a criatividade artística acabaram desmotivando-o a continuar contribuindo para a URSS, levando-o ao suicídio em 1930, como uma série de artistas e cientistas também havia feito.
É possível ao professor dividir as turmas em pequenos grupos, que ficariam responsáveis por apresentar imagens e poemas de Maiakovski e estabelecer as relações com os fatos da Revolução Russa. Podendo utilizar recursos audiovisuais ou mesmo colagens após uma estimulante pesquisa no laboratório de informática da escola.
* Crédito da imagem: http://feb-web.ru/feb/mayakovsky/texts/ms0/ms1/ms1-459-.htm
Por Tales Pinto
Graduado em História