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Estudar a língua portuguesa, constituída de suas muitas regras e possíveis exceções, torna-se objeto de estigma para muitos alunos – isso é fato. O que na verdade acontece é que ele tem consciência da importância da língua, porém não se sente motivado para compreendê-la sob seus reais aspectos. Diante dessa perspectiva, o que muitas vezes ocorre é tão somente o ato da decoreba, reforçada na apreensão de meras nomenclaturas descontextualizadas.
Todavia, torna-se de fundamental importância que o educador priorize o fato de que a língua deve ser considerada um organismo vivo, tendo em vista seu aspecto funcional. Mediante tal postura, espera-se que o aluno deixe de apenas aprender a descrever a língua, tendo como base as normas que regem a variedade padrão, e passe a operá-la como um todo, ou seja, apropriando-se de seus recursos de expressão, sejam esses orais ou escritos e utilizando-os de forma consciente.
Não raras as vezes, constatamos a repulsa antes mencionada no que se refere à aprendizagem das orações coordenadas e subordinadas, ambas representando um conteúdo extenso e um tanto complexo. Mediante essa realidade, o que se pode constatar é que os educandos, em meio a uma listagem de conjunções, apenas decoram-nas e, diante de um exercício de classificação, nem se dão ao trabalho de analisar o enunciado linguístico, apenas as classificam pelo simples fato de terem se familiarizado com as nomenclaturas preexistentes.
Com base nesses pressupostos, o artigo em questão tem por finalidade apontar algumas propostas metodológicas que revelam sua eficácia no intuito de propiciar a observação dos fatos linguísticos numa situação concreta de interação verbal e, sobretudo, promover a reflexão acerca dos recursos semântico-expressivos da língua.
Sugere-se, dessa forma, que o aluno passe a reconhecer as diferenças que demarcam as orações coordenadas e as subordinadas, como vistas sob um aspecto hierárquico, como por exemplo:
As subordinadas, no que tange à relação de dependência, podem ser comparadas à relação que se estabelece entre o chefe e seus respectivos subordinados, na qual estes mantêm uma efetiva dependência com aqueles. Assim sendo, de igual forma ocorre com as subordinadas e a oração principal, ora retratadas por meio do exemplo que segue:
Como ninguém resolveu se pronunciar, o assunto foi encerrado.
Or. subord. adverbial causal Or. principal
Outro aspecto, também passível de ser mencionado, reside no fato de que uma mesma conjunção pode assumir posições distintas, tendo em vista o contexto em que se encontra empregada. Mais uma vez entra em cena a importância de priorizar o uso efetivo da língua, ora analisado sob o aspecto semântico-discursivo, abstendo-se de quaisquer traços que porventura apenas rotulem as orações, sem antes analisá-las. Assim sendo, citamos como sugestão alguns casos mencionados abaixo:
Como ninguém resolveu se pronunciar, o assunto foi encerrado
Or. subord. adverbial causal Or. principal
Tinha cabelos pretos como as asas da graúna.
Or. principal Or. subord. adverbial comparativa
Como havíamos combinado, cheguei no horário marcado.
Or. subord. adverbial conformativa Or. principal
Quanto às orações coordenadas, torna-se plausível que o educador enfatize acerca da não relação entre os termos sintáticos que compõem o período, ou seja, as coordenadas são independentes entre si. Um excelente passo é ensinar o aluno a desdobrá-la, pois assim perceberá tal fato mais facilmente. Para tanto, eis um exemplo:
Ele não estudou para a avaliação, porém obteve bom resultado.
Quando desdobradas, temos que ambas possuem:
1ª oração:
Sujeito – ele
Predicado – não estudou
Complemento – para a avaliação
-------- PORÉM -------------
Apenas funciona como um elemento que as conecta, que as une.
2ª oração:
Sujeito – mesmo que subentendido – ele
Predicado – obteve
Complemento – bom resultado.
Como fator de grande relevância também reiteramos a importância de levar em consideração a análise do sentido estabelecido por elas, pois uma conjunção coordenada, que em princípio é considerada aditiva, dependendo do contexto, pode assumir um valor adversativo, como em:
Você me aconselhou e eu não quis ouvi-lo.
Constata-se de forma nítida que o sentido aqui não é de adição, mas sim de adversidade: Você me aconselhou, mas eu não quis ouvi-lo.
Em face dessas elucidações, surge-nos a seguinte constatação: se fossem somente decoradas, não haveria a possibilidade de tais interpretações.
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola