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O ensino dos tempos verbais apenas como regra gramatical – uma discussão metodológica

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O ensino da gramática, por vezes descontextualizado, tende a provocar repulsa por parte dos educandos  

Torna-se plausível, antes de tudo, mencionarmos as possíveis aversões que os educandos possuem em relação à Língua Portuguesa. Muitas vezes, tal fato decorre da dificuldade encontrada por eles em apreenderem as tantas regras que dela fazem parte – fato que a torna, infelizmente, um objeto de estigma para muitos.

Em face de uma ocorrência tão preocupante, surge a necessidade de haver uma mudança quanto a essa concepção, e tais mudanças estreitam laços significativos com algumas práticas pedagógicas inerentes ao ensino da língua materna, uma vez materializado de forma mecânica e descontextualizada – o que muitas vezes remete apenas ao ato da decoreba, tornando-se vago, sem sentido, para os aprendizes. É o que nos explica Jeane Mari Sant’Ana Spera, docente do Departamento de Linguística da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), campus de Assis:


Não é adequado ensinar os verbos descolados da função comunicativa dos textos. Dessa forma, os estudantes não percebem os diferentes efeitos que eles, os verbos, podem produzir no uso da língua culta. 

Nesse artigo, de modo enfático, referir-nos-emos ao ensino dos tempos verbais, em especial àqueles referentes ao pretérito, que na maioria das vezes não fogem à realidade anteriormente ressaltada – ensinados apenas como meras regras gramaticais. Desse modo, a presente discussão pauta-se por elucidar acerca de propostas metodológicas que tendem a revelar-se de forma positiva em todo esse processo.

Como passo inicial, torna-se importante que o educador enfatize a importância dos verbos – dada a sua recorrência e importância mediante as situações corriqueiras de interlocução. Nesse sentido, podemos afirmar que os verbos desempenham uma função vital em qualquer língua. É exatamente em torno deles que se organizam as orações e os períodos e, consequentemente, é em torno deles que a estruturação do pensamento e a formulação de nossas ideias se concretizam.


Depois de realizado tal procedimento, tendo em vista os reais objetivos firmados com a proposta, o professor poderá expor dois poemas de Carlos Drummond de Andrade, um na íntegra e outro somente com alguns fragmentos, e pedir que os alunos analisem os tempos verbais neles presentes, sobretudo o pretérito imperfeito, pretérito perfeito do modo indicativo e o pretérito imperfeito do modo subjuntivo. 

Para uma melhor apreensão da atividade, sugere-se que os alunos sublinhem todos os verbos, analisando-os posteriormente. Eis, portanto, os exemplos:


Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

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José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?

[...]

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
[...]

Em vez de simples memorizações acerca de como se conjugam os verbos, os alunos têm a oportunidade de constatá-los na prática, por meio da interpretação do discurso propriamente dito. Dessa forma, ao se depararem com o pretérito imperfeito, hão de reconhecer que se trata de uma ideia de continuidade, de processo que no passado era constante ou frequente, como também para exprimir o processo que estava em desenvolvimento quando da ocorrência de outro: amava... amava...

Quanto aos verbos “acabou, apagou, sumiu, esfriou”, quando analisados, há que se constatar que exprimem processos concluídos e localizados num momento ou período definido do passado. O referido procedimento permite que os alunos interiorizem tal aspecto e, consequentemente, façam o correto uso deles (os verbos) em situações orais ou escritas. A afirmativa parece ganhar maior expressividade ao citarmos as palavras de Lazuita Goretti de Oliveira, professora de Língua Portuguesa da Escola de Educação Básica (Eseba) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU):

Reconhecer esses aspectos da narrativa é um importante passo para que o aluno perceba tanto a dinâmica e a pontualidade dos acontecimentos ao utilizar o pretérito perfeito quanto os movimentos prolongados com o uso do imperfeito. 

Ao se aterem aos verbos expressos no pretérito imperfeito do subjuntivo (gritasse, gemesse, tocasse...), os alunos constatarão que eles expressam processos imprecisos, tornando-se possíveis ou não de acontecer, anteriores ao momento em que se fala ou escreve.

Outras propostas tendem incidir também em bons resultados, tais como a análise e reflexão de contos, crônicas, letras musicais, entre outros. Por meio deles os educandos terão a oportunidade de identificar as características de cada um e reconhecer os tempos verbais utilizados, analisando acerca do uso desses no contexto discursivo. Sobre os benefícios, ressalta Vilma, outra professora da Eseba: 

O objetivo é levar a turma a entender que há diferentes maneiras de contar o passado e que isso é essencial para produzir textos de qualidade.  

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola