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O Estado, o crime e a favela

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Populares lamentam a morte de um traficante: discuta o porquê dessa situação.

Dia após dia, os nossos alunos presenciam notícias que fazem alerta à disputa de poder ocorrida entre os órgãos do Estado e os traficantes que dominam as favelas das grandes cidades. Tendo a violência como mote principal, poucos meios de comunicação têm o interesse expresso de debater este problema sob a ótica daqueles que vivem o desenrolar desse conflito diariamente.

Para iniciar um debate sobre este tema, o professor pode organizar a turma em círculo e pedir para que cada aluno descreva como ele imagina ser a vida em uma favela. Valorizando a participação individual, faça breves anotações no quadro, destacando a opinião de alguns participantes. Após registrar cada uma das perspectivas expressas, pergunte se alguém tem uma noção divergente daqueles que opinaram inicialmente.

Após ouvir algumas perspectivas, valorize especialmente as falas em que os alunos relacionam a presença de traficantes com os problemas vividos naquele lugar. A partir desse argumento, ofereça à turma uma notícia em que a relação entre os moradores das favelas e os traficantes seja alvo desse tipo de matéria. Como sugestão, indicamos a reprodução da matéria “’Pitbull’ é enterrado, e com honras de chefe do tráfico”, veiculada no dia 31 de janeiro de 2009, no Jornal do Brasil.

Realizando a leitura das primeiras linhas do texto, podemos perceber que os vários moradores que estiveram no cortejo fúnebre dirigiam palavras de agradecimento e homenagem ao traficante. Nesse ponto, o professor pode questionar por quais motivos um criminoso foi ostensivamente homenageado pelos moradores de sua favela. Com isso, a questão do papel do Estado começa a ser introduzida no interior do debate.

Depois de apreciar a opinião dos alunos sobre a matéria de jornal, o professor pode trazer à turma a leitura de uma canção composta em homenagem a um traficante preso. Na letra de “Meu bom juiz”, dos sambistas Serginho Meriti e Beto Sem Braço, essa mesma questão pode ser vista através dos versos que tentam redimir a figura de um sujeito que é visto como criminoso pelas autoridades.

Terminada a execução da música, peça para que os alunos grifem os versos que dizem “mas quando alguém se inclina com vontade/ em prol da comunidade/ jamais será marginal”. Ao apontar esse verso, o professor passa a ter condições de explicar porque muitos criminosos e traficantes da favela são defendidos pela população desse mesmo local. A essa altura, para explicar essa questão, o professor deve traçar um breve comentário sobre a origem das favelas.

Em seguida, discorra a respeito da ausência de políticas públicas, programas assistencialistas, projetos de integração do indivíduo à sociedade e a própria concentração de renda que estão vinculadas a essa discussão. Em resumo, os alunos podem notar que ao assumirem papéis que deveriam ser cumpridas pelo Estado, esses criminosos são vistos como “pessoas de bem” que “lutam pelo pessoal da comunidade”.

Apesar da situação não justificar a prática criminosa, podemos ver que o olhar das autoridades e veículos de comunicação se difere profundamente de parte da população que convive com esses criminosos. Dessa forma, o professor tem condições de revelar uma dinâmica das relações sociais muitas vezes encoberta pelos dados estatísticos oficiais e as notícias de jornal. Caso ache interessante, o mestre pode recomendar o filme “Cidade de Deus” para a turma.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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