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O ideal de riqueza no Brasil Colônia

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Detalhe de uma pintura em que os escravos carregam o seu proprietário.

No processo de formação da sociedade colonial percebemos que a condição econômica do indivíduo era traço fundamental para se determinar sua posição. Já nos primeiros anos do projeto colonial lusitano, houve uma tentativa de se formar uma pequena elite de proprietários de terra que poderia exercer várias funções de cunho político e judicial nas capitanias cedidas pela Coroa.

Logo em seguida, com o desenvolvimento da economia açucareira, o senhor de engenho se tornou uma figura política central. Somente aqueles que possuíam terras poderiam ter participação ativa no interior das câmaras municipais. Conhecidos como “homens bons”, esses proprietários estabeleciam a exclusão da grande maioria de uma população também composta por brancos pobres, escravos libertos e mestiços.

Apesar da propriedade das terras, por meio das informações levantadas, expressar um campo de privilégios, não podemos restringir a distinção de nossa elite somente por esse dado. Nas ações cotidianas, outros símbolos também se encarregavam da tarefa de traçar quem seriam os privilegiados do mundo colonial aqui construído. De fato, esses outros artifícios representavam o poder da elite para fora dos limites da própria fazenda ou da esfera particular.

Caso queira trabalhar tal ideia, o professor pode expor para os alunos uma interessante fala de José da Silva Lisboa (1756 - 1835), o visconde de Cairu, que registrou a seguinte descrição da sociedade de seu tempo:

“É prova de mendicidade extrema o não ter um escravo; é indispensável ter ao menos dois negros para carregarem uma cadeira ricamente ornada e um criado para acompanhar este trem. Quem saísse à rua sem esta corte de africanos estaria seguro de passar por um homem abjeto e de economia sórdida”.

Nesse depoimento, destacando a circulação de um indivíduo pelo espaço urbano daquela época, o visconde enfoca a importância dos escravos como elemento fundamental na certificação da posição social de alguém. A propriedade de escravos era um símbolo que assegurava o reconhecimento de uma situação econômica privilegiada, principalmente quando estes eram estritamente destinados ao transporte do seu senhor.

Além de resolver o problema da posição social pela posse de escravos, podemos ver que a propriedade de objetos de luxo (no caso, a “cadeira ricamente ornada”) era outro elemento de destaque. Com isso, o professor pode questionar aos alunos como seria possível que a posse de dois escravos fosse mais prestigiada, mesmo sendo um lote de terras muito mais caro.

Nesse momento, o professor pode destacar que tal característica estava justificada pela situação financeira indefinida de alguns proprietários. Em muitos casos, a atividade agroexportadora passava por sérias crises decorrentes das oscilações do mercado externo. Com isso, sem condições de obter lucro, muitos proprietários de terra acabavam reforçando a sua renda promovendo o aluguel dos escravos que não tinham sua força de trabalho aproveitada.

É dessa forma que a simples exposição pública de escravos acabava, em certas ocasiões, superando a propriedade de terras enquanto mecanismo de distinção social. Com isso, por meio desse simples depoimento, a turma pode perceber uma curiosa nuance muitas vezes encoberta pela condensação de informações imposta pelo livro didático. Ao fim, o trabalho com tal fonte documental cumpre a função de ampliar a capacidade interpretativa dos estudantes.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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