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Atualmente, quando os professores lecionam nas séries finais do Ensino Médio, é comum perceber que muitos alunos se preocupam bastante com sua escolha profissional. A questão financeira, a aprovação de familiares e amigos, e as predileções pessoais são alguns dos fatores que estabelecem uma terrível equação na cabeça dos jovens. Sendo esse um problema típico de tal fase escolar, cabe ao professor levantar alguns pontos que permeiam essa significativa questão.
Para promover uma rica e atrativa discussão sobre o tema, sugerimos que o professor distribua entre os alunos um interessante texto de Millôr Fernandes, onde temos a seguinte reflexão:
Como é que foi, Ronaldo? Você, eterno injustiçado, vítima da crueldade do mundo, declara, alto e bom som, que não tem obrigação de jogar bem todas as vezes? Tem, Ronaldo, tem. O diabo é que você, quando não joga bem, recorre às palavras, que não são bem sua especialidade. Você já imaginou se um escritor, quando fosse criticado pelo que escreve, corresse pra dentro do campo e gritasse pra galera: “Deixa essa que eu chuto!”? Você às vezes – ultimamente quase sempre – não consegue jogar bem. Deveria se sentir tão constrangido quanto goleiro que engole pênalti. Pois, pelo que ganha, você tem a obrigação de jogar sempre bem. Te digo, garotão, eu, medíocre artista plástico, se ganhasse o que você ganha, ficaria profundamente envergonhado se não pintasse uma Capela Sistina por semana. (Millôr, Revista Veja, 28/06/2006)
Nessa espécie de cobrança que o escritor faz ao jogador de futebol Ronaldo, podemos destacar que Millôr relaciona a questão do desempenho profissional e a compensação financeira alcançada. Segundo o texto, se um pobre artista plástico ganhasse o mesmo salário do afamado jogador, teria a obrigação de executar a criação de “uma Capela Sistina por semana”.
Por meio da provocação, podemos empreender uma reflexão entre a turma sobre o prestígio reservado para determinadas profissões em nossa cultura. Em uma breve abordagem, não é muito difícil elencar quais seriam os ofícios que se mostram mais valorizados por conta dos salários a eles destinados. Através das informações levantadas, o professor pode solicitar a opinião dos alunos sobre os critérios salariais direcionados a cada atividade posta em destaque.
Caso ache interessante, o professor pode equiparar as profissões elencadas em classe com a tabela de concorrência do processo seletivo de alguma grande universidade. Com isso, é possível congregar um conjunto de informações seguras a respeito do prestigio de cada uma das profissões. Ao encerrar essa primeira etapa do exercício, o professor pode questionar as escolhas profissionais de seus alunos.
Em suma, por meio da troca de experiência e do diálogo, é possível transmitir aos alunos que a escolha profissional nem sempre supre todas as nossas expectativas. Nesse sentido, cabe ao educador frisar que as escolhas profissionais variam bastante em uma mesma área de conhecimento. Além disso, também se pode salientar que a felicidade financeira não está assegurada pela simples opção por um determinado curso ou que o fracasso pessoal seja o destino daqueles que facilmente escolhem sua carreira.
Por meio dessas e outras questões, o professor pode utilizar o espaço de uma única aula para salientar algo de grande importância para os estudantes. De fato, mais do que se prender aos conselhos de Millôr a Ronaldo, o texto abre caminhos múltiplos para que os alunos façam uma importante ponderação. Afinal de contas, quais são os anseios, valores e dilemas que devem ser levados em conta no momento da escolha profissional? Fica a pergunta!
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola