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Durante o século XIX, o Brasil experimentou um longo processo de dinamização de seus quadros sociais e econômicos. A elevação das taxas alfandegárias, os grandes lucros obtidos pelo café e o fim da escravidão foram elementos cruciais para que o Brasil experimentasse um novo momento em sua trajetória. A hegemonia das cenas rurais e a fragilidade de uma economia agroexportadora deram lugar para a chegada dos imigrantes e a instalação de nossas primeiras fábricas.
Para que possamos demonstrar os primeiros estágios dessa situação inédita, recomendamos aos professores que trabalhem com a fala de dois personagens históricos justamente situados nessa passagem entre os séculos XIX e XX. Nesse sentido, sugerimos uma passagem de “O cortiço”, romance escrito por Aluízio de Azevedo em 1900, e que faz o desenho do seguinte cenário:
O zunzum chegava ao seu apogeu. A fábrica de massas italianas ali da vizinhança começou a trabalhar, engrossando o barulho com seu arfar monótono de máquina a vapor. Rompiam das gargantas os fados portugueses e as modinhas brasileiras.
Além desse primeiro relato, a exposição do primeiro quadro pode ser ainda reafirmada com a seguinte descrição realizada por Alfredo Moreira Pinto em sua obra “A cidade de São Paulo em 1900”, onde compara:
São Paulo, quem te viu e quem te vê! Tinhas então as tuas ruas sem calçamento, iluminadas pela luz baça e amortecida de uns lampiões de azeite; tuas casas, quase todas térreas, (...) Estás completamente transformada, com proporções agigantadas, possuindo opulentos e lindíssimos prédios, praças vastas e arborizadas, ruas todas calçadas, cortadas por diversas linhas de bond, centenas de casas de negócios e a locomotiva soltando seus sibilos progressistas.
No primeiro exemplo, o professor pode abrir caminho para a exposição desse processo de urbanização por meio de informações bastante simples. Inicialmente, é possível ressaltar que o próprio título do romance adotado já faz referência a um ambiente de natureza tipicamente urbana, o cortiço. Além disso, pode também salientar na sonoridade descrita (“o zunzum”, o som das fábricas e as canções percebidas) a multiplicidade de sensações que poderiam ser apenas compreendidas no espaço urbano.
Logo em seguida, já trabalhando o segundo relato, podemos experimentar um rico deslocamento que sai da compreensão sensorial e chega até a descrição de uma cena. Retomando o passado da cidade de São Paulo, Alfredo Moreira realiza um verdadeiro contraste entre as primeiras históricas imagens que poderiam descrever a cidade e os “prédios”, “praças vastas”, o “bond”, as “casas de negócio” e a locomotiva que integravam o seu novo cenário.
Para finalizar o trabalho com essas fontes documentais, o professor pode recomendar um divertido trabalho de artes em que os alunos fabriquem algum tipo de ilustração, gravura ou colagem inspirado nos dois textos trabalhados em sala de aula. Dessa forma, a compreensão desse conteúdo pode ganhar possibilidades infinitamente mais atraentes e interessantes para a turma.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola