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O trabalho com História muitas vezes se aproxima com outras áreas das ciências humanas extremamente importantes na condução dos conteúdos. Dentre elas, podemos dar lugar especial à Antropologia. Tendo a diversidade das culturas como um dos principais objetos de estudo, essa área do conhecimento oferece recursos e temas interessantíssimos para a discussão de assuntos de caráter histórico. Nesse sentido, a antropologia abre um campo de possibilidades infinitas ao educador em sala de aula.
Assim como nas cadeiras iniciais de um curso superior, o aluno dos ensinos médio e fundamental pode ser inserido em uma discussão sobre o conceito de cultura. O debate sobre esse conceito toca as esferas mais íntimas do cotidiano do aluno. Discutindo hábitos de higiene, a vestimenta ou padrões estéticos, o professor pode destacar como a questão dos costumes é socialmente construída através da perpetuação daquilo que seus alunos julgam ser normal e, muitas vezes, universal.
Essa discussão é muito delicada, pois ninguém tem facilidade para olhar criticamente aquilo que envolve o seu dia-a-dia. No entanto, esse tipo de trabalho pode otimizar enormemente nosso trabalho com relação ao passado. Em História, devemos salientar o fato de que lidamos com épocas distintas, não em sentido estritamente temporal, mas com sociedades construídas de valores muito diferentes dos atuais. A cada tempo histórico, podemos dizer que é necessário elaborar o desenvolvimento de uma nova cultura.
Relacionando História e Antropologia, é possível elaborar, por exemplo, aulas sobre as diferentes culturas responsáveis pela formação da cultura brasileira. Sendo este um tema preferencialmente desenvolvido nas séries iniciais do ensino fundamental, podemos trabalhar quais as contribuições africanas, indígenas, orientais e européias na formação da população brasileira. Nesse momento, o educador pode vislumbrar a quebra do antigo eixo tradicional onde a nossa história é contada a partir do “descobrimento” do Brasil.
Ao falar da nossa história a partir de 1500, o educador oferece outra impressão da situação dos índios brasileiros na época. Mesmo não expressando objetivamente tal idéia, o aluno acaba incorporando uma idéia de ausência das culturas indígenas. Seria como se nossos índios estivessem aqui usufruindo das belezas naturais quando, graças ao empreendedorismo português, o nativo foi apresentado aos valores civilizados do homem europeu.
Mesmo que a hipótese acima seja demasiadamente irônica ou exagerada, não podemos continuar a reproduzir velhas noções que perpetuam nocivos preconceitos. Nesse sentido, as discussões sobre os valores da cultura reforçam a constituição da História enquanto área de conhecimento que, com o auxilio de outras ciências, exige o deslocamento dos olhares de alunos e mestres para a mudança e a diferença.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola