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No trabalho com a História, é interessante que o professor utilize dos mais diversos recursos que ressaltem a relevância do passado aos alunos. Nesse sentido, acreditamos que as reinterpretações das experiências vividas para fora do ambiente acadêmico tenham grande valor. Quando não feito pela boca dos historiadores, o passado tem uma feição mais acessível e aberta ao exercício crítico daqueles que também consideram um mesmo tema.
Por essa razão, para estruturarmos uma aula sobre o Período Joanino (1808 – 1822), sugerimos aqui o uso de um samba composto pelo ilustre compositor e cantor Martinho da Vila. No disco “Samba Enredo”, de 1980, a faixa “Legados de D. João VI” oferece a clara intenção de falar sobre as marcas deixadas pelo monarca no tempo em que governou o Reino Unido de Portugal e Brasil. Desse modo, recomendamos que o aluno já tenha noção prévia sobre o tema para então trabalhar a canção abaixo:
Quando veio para a nação
Que mais tarde o consagraria
D. João VI, o nobre magistrado
Ao passar pelo estado da Bahia
Instituiu novo texto
Abrindo os portos do Brasil
Para o mercado universal
Logo após seguiu o seu roteiro
Com destino ao Rio de Janeiro
Quando aqui chegou, desembarcou com toda família real
Incomensurável séquito
Vulto de notável mérito
O eminente príncipe-regente
Um ano depois Sua Alteza
D. João ordenou
A invasão da Guiana Francesa
E depois criou com sabedoria
Academia da Marinha, Museu Nacional
Escola de Belas Artes
Também o primeiro jornal
Mais tarde o povo aclamou
Esta figura de grande marca
Unidos em coros mil
Viva o grande monarca
Regente dos destinos do Brasil
Antes de aqui adentrar o conteúdo da canção, o professor pode expor na estrutura estética do samba gravado, por meio de sua audição em sala, que a canção se enquadra na classificação de samba-enredo. Sob tal aspecto, vale a pena ressaltar que esse tipo de samba, usualmente composto para as competições carnavalescas, se toma por uma tradição em que tais sambas privilegiaram a construção de letras que exploravam temas de natureza histórica.
Realizando essa ambientação, o professor pode então trabalhar o conteúdo da canção com os alunos expondo a forma pela qual o governo de Dom João VI fora representado. Em uma primeira observação, notamos que a letra expõe o governo deste monarca de modo bastante positivo. Afinal, em nenhum momento da canção, os feitos do monarca são questionados ou criticados de forma negativa. A partir daí, a letra pode ser utilizada para se discutir justamente as questões históricas que a mesma deixa de citar.
Nesse sentido, ao destacar, por exemplo, a questão da abertura dos portos brasileiros, é possível questionar quais setores da população brasileira foram agraciados com tal medida. Além disso, no que se refere à invasão da Guiana Francesa, vale a pena discutir por quais motivos D. João empreendeu tal investida militar e como ele levantou recursos para esta e outras ações militares desenvolvidas ao longo do seu tempo de governo.
Levantando essas e outras questões que sejam interessantes, a letra não se torna um instrumento de autoridade sobre o assunto. Contudo, se bem trabalhada, suscita de forma simples e bem descontraída uma análise mais profunda e crítica sobre os significados que o período joanino venha a ter. Quase sem notar, os alunos se prendem ao tema sem que, para tanto, tenham que se deparar com as dificuldades inerentes aos documentos da época ou fala adensada de um acadêmico.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola