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O trabalho com a Ética refletido na leitura literária

O trabalho com a Ética refletido na leitura literária representa uma excelente opção didática, tendo em vista que a Literatura se concebe como instrumento de reflexão.
Concebendo-se como viável, eis como proposta didática o trabalho com a Ética refletido na leitura literária
Concebendo-se como viável, eis como proposta didática o trabalho com a Ética refletido na leitura literária
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Trabalhar a Ética, Pluralidade Cultural, Orientação Sexual, Meio Ambiente e Saúde atesta uma das prioridades eleitas pelos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais). Assim, independentemente de qualquer que seja a disciplina, inquestionável é que o explorar de tais aspectos influencia de forma significativa na construção da consciência moral, da consciência crítica do aprendiz e, de qualquer forma, atua no tão discutido e polêmico papel da escola, que acaba desenvolvendo atribuições que são (ou pelo menos deveriam ser) próprias do primeiro grupo – a família.

Nesse patamar, sentimo-nos na incumbência de eleger acerca desse trabalho dando uma ênfase para as escolhas da leitura literária que será adotada a cada bimestre, tendo em vista, obviamente, que ela, entre outras conquistas, cumpre um papel estritamente social, reflexivo. Assim, imbuídos nesse propósito, elencamos a obra “Quero ser belo”, de Tânia Alexandre Martinelli, cujo enredo explora a questão do culto ao corpo perfeito, o que, consequentemente, demarca a denúncia de quanto o ser humano se situa numa condição de submisso(a) aos ditames sociais, ou seja, àquilo imposto pelos padrões de beleza, afirmando e reafirmando que “ser magro”, ainda que seja a duras penas, expressa uma adequação, não uma opção.  

Dessa forma, sobretudo quando o público é voltado para os adolescentes (conforme indicação de leitura), os propósitos didáticos parecem ganhar ainda mais peso, dada a condição de vulnerabilidade em que se encontram os “atores” desse palco. Assim, tal como a personagem Priscila, a qual se deixou seduzir pela foto de uma modelo famosa; bem como André, influenciado pelo porte físico de um amigo que encontrara na academia; também pode se tornar qualquer um daqueles que ocupam as carteiras de uma sala de aula. Tal influência, uma vez manifestada, faz com que os adeptos dessa prática sofram as mais terríveis consequências, sendo que algumas delas podem causar transtornos irreparáveis à saúde.

Partindo de tais pressupostos, caro(a) educador(a), cremos que sua criatividade é tamanha para se fazerem materializadas as propostas didáticas com base na obra em questão. No entanto, sugerimos algumas que, porventura, auxiliar-lhe-ão num frutífero trabalho, o qual poderá se efetivar sob diferentes abordagens, desde seminários, dramatizações, apresentações no datashow, debates, e, para não ficar de fora, bem como para formalizar os objetivos a que se propõe, a atividade avaliativa escrita, podendo se nortear pelos seguintes questionamentos:

1 - Ao lermos uma determinada obra literária, além de nos atentarmos ao enredo (história) propriamente dito, temos de estar cientes no que se refere a outros aspectos. Dessa forma, cite:

- Título da obra;

- Nome completo do autor;

- Nome completo do (a) ilustrador (a);

- Nome da editora;

- Número da edição;

- Local onde o livro foi publicado;

- Ano em que a obra foi publicada.

2 – Tânia Alexandre Martinelli, utilizando-se de sua habilidade artística de trabalhar a linguagem, explora com todo esmero uma temática recorrente na sociedade atual: o culto ao corpo perfeito, aquele condizente aos “ditames sociais” quando o assunto é moda. Nesse sentido, qual a sua opinião acerca desse assunto, sobretudo agora, mediante a leitura que fez da obra?

3 – Logo no início da história, até mesmo pelo título - “Capa de revista”-, a protagonista, Priscila, alimenta um desejo incontrolável de se tornar exatamente igual à modelo Giuliana Fontes, o que a leva até mesmo a extravasar os limites do próprio corpo. Dessa forma, interagindo com o enredo, qual foi a sua impressão sobre a atitude dela?

4 – Em uma entrevista concedida à revista Marie Claire, Fernanda do Valle, turismóloga, 30 anos, revelou que, por conta de um conselho médico que limitava sua dieta, simplesmente parou de comer. Observe, pois, alguns trechos*:

Marie Claire-Como era a sua alimentação?

Fernanda -Eu fazia tudo errado. Ficava muito tempo sem me alimentar e, quando comia, perdia a mão e comia demais. Chegava a fazer 24 horas sem comer. Toda segunda-feira começava um regime novo, sempre por conta. Além disso, comia e ia correndo para a academia queimar o que havia ingerido. Comer de três em três horas só entrou na minha vida depois do tratamento contra a anorexia.

Marie Claire- O que você sentia quando ganhava peso?

Fernanda -Eu tinha muito medo de perder o controle. Sonhava que acordava e não conseguia levantar da cama de tão gorda que estava. Pensava que as pessoas não gostariam de mim se fosse gorda.

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Como se percebe, as ideias da entrevistada se assemelham às de Priscila, não é verdade? Ou seja, a pessoa acometida por esse instinto parece perder o amor próprio em função do que as outras pessoas vão pensar dela, e por aí vai.  Em sua opinião, o que leva, o que motiva o ser humano a adotar esse tipo de comportamento?

5 – André, outro personagem da história, também desenvolvia o mesmo culto à boa forma, tanto quanto Priscila. Assim, por ser adepto da malhação, conheceu Marcelo, também aluno da academia. Ao vê-lo todo “sarado”, desejou imensamente se tornar igual a ele, o que lhe rendeu “conquistas desastrosas”. Como isso seria impossível de acontecer de uma noite para o dia, o que ocorreu e quais foram as consequências desse ato?

6 – Ainda falando sobre André, exatamente a partir da página 154, podemos presenciar alguns fatos que denunciaram a atitude por ele tomada, que, por sinal, foi totalmente descabida. Assim, na certeza de que você se lembra perfeitamente de alguns deles, relate-os.

7 – Numa das aulas de Educação Física, a professora Deise pontuou que a atividade a ser realizada seria o jogo de handebol, foi quando Priscila entrou para atuar. Acerca dessa passagem, sabemos que, em decorrência das atitudes tomadas nos últimos tempos, ela não conseguiu permanecer na quadra por muito tempo. O que houve?

8 – O médico que atendera Priscila, ao constatar o quadro de saúde em que ela se encontrava, pronunciou alguns dizeres, tais como: Enquanto uma parcela da população passa fome por não ter comida, algumas pessoas resolvem privar-se dela, chegando mesmo a passar fome, por escolha própria. Diante dessas palavras, procure registrar as impressões que ficaram ao constatá-las, mesmo porque elas nos convidam a uma reflexão mais intensa.

9 – Cecília Meireles, uma singular representante do Modernismo brasileiro, deixou-nos várias criações artísticas como legado, sendo que “Mulher ao espelho” foi uma delas. Assim, eis que abaixo se encontram alguns fragmentos desse poema, por isso, leia-os de forma atenciosa, respondendo ao que se pede:

Mulher ao espelho

Hoje que seja esta ou aquela,

pouco me importa.

Quero apenas parecer bela,

pois, seja qual for, estou morta.

 

Já fui loura, já fui morena,

 já fui Margarida e Beatriz.

Já fui Maria e Madalena.

Só não pude ser como quis.

 

Que mal faz, esta cor fingida

do meu cabelo, e do meu rosto,

se tudo é tinta: o mundo, a vida,

 o contentamento, o desgosto?

 

Por fora, serei como queira

a moda, que me vai matando.

Que me levem pele e caveira

ao nada, não me importa quando.

[...]

Vê-se que o eu-lírico expresso no poema muito se identifica com os posicionamentos assumidos por André e Priscila, sobretudo no que diz respeito à total entrega ‘exigida’ pelos padrões sociais. Nesse sentido, procure, por meio de suas próprias palavras, dizer o que entendeu acerca da 2ª, 3ª e 4ª estrofe.

10 – Apoiando-se em duas passagens que finalizam a história, as quais dizem respeito aos personagens, Priscila e André, descreva qual foi a sua opinião sobre a atitude que ambos resolveram tomar, uma vez que esses trechos se encontram abaixo descritos:

(André)[...] Só agora compreendia que nas revistas que tinha não ia pesquisar nada do que o professor estava propondo. A não ser que ele quisesse falar sobre musculação, abdominais e outras coisas do gênero. Mas, claro, não era essa a sua intenção. Talvez fosse hora de começar a mudar suas leituras. Tinha muito a descobrir, principalmente que as pessoas não eram só músculos.

(Priscila)[...] Priscila respirou quando acabou de falar. Soltou todo o ar de uma vez. Era como se tirasse um peso dos seus ombros. O peso de querer, a qualquer custo, tornar-se o que não era. Chega. Não queria mais ficar parecida com ninguém. Queria, de agora em diante, ser ela mesma. E, o mais importante, gostar dela mesma.

*Entrevista concedida à Marie Claire


Por Vânia Duarte
Graduada em Letras