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O uso da música para o ensino de História, pelo menos no Brasil, não é nenhuma novidade a ser divulgada entre os profissionais da área. Tanto em experiências relatadas, quanto nos livros didáticos, temos o uso de canções e até a explicação sobre alguns movimentos musicais que marcaram no tempo. Contudo, percebemos que é necessário aprofundarmos os limites e possibilidades que envolvem o emprego da música com fins de ordem didática.
O mais recorrente do uso da música em sala de aula relaciona-se ao emprego das letras de músicas. Sem dúvida, a canção, enquanto documento, tem a rica capacidade de tornar uma narrativa assimilável e, ao se valer de uma letra, debate diversos valores e questões que se constituem historicamente. Entretanto, existem algumas preocupações que são muitas vezes deixadas de lado pelo professor.
A primeira delas refere-se ao fato do professor encerrar a relação entre o texto da canção e o contexto histórico da sua produção em um sentido unidirecional. Muitas vezes, perdemos a possibilidade de aprofundarmos a compreensão de uma letra ao somente considerá-la um reflexo imediato do momento histórico de sua criação. Mais do que refletir uma época, uma canção tem a possibilidade de dialogar, repensar e constituir uma perspectiva própria de entendimento sobre o seu tempo.
Ao mesmo tempo, consideramos de fundamental importância expor alguns elementos que extrapolam o simples documento musical em si. Problematizar o gênero musical pelo qual uma canção é definida, contemplar elementos centrais da biografia do cantor/compositor e os processos de produção musical são de grande importância para que o chamado documento-canção extrapole a comum prática que o limita à dimensão de um documento escrito.
Além desses elementos, notamos uma visível ausência de propostas de ensino de história interessadas em pensar o significado das instrumentações e elementos sonoros presentes em canções. Contrariando noções calcadas no senso comum, os elementos sonoros de uma canção não podem ser vistos como naturais ou universais. Ao contrário disso, os instrumentos, timbres, notas e escalas são elementos que também podem ser pensados em termos históricos.
Estabelecidas essas questões elementares, observamos que os fatores a serem analisados em um documento musical passam pela compreensão da letra, mas não podem estar encerrados nela mesma. Sendo assim, devemos buscar os vários estudos presentes na Psicologia, Sociologia, Filosofia, Musicologia, entre outras áreas, para potencializarmos o uso desses sons que nos cercam.
Por Rainer Gonçalves Sousa
Colaborador Brasil Escola
Graduado em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG
Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG