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O trabalho pode ser visto como uma atividade responsável pela produção de riquezas e o meio pelo qual garantimos o nosso próprio sustento. Sem dúvida, essa importância atribuída à atividade profissional nem sempre foi elogiada nos mais diferentes contextos históricos nos quais ela foi estabelecida. Por isso, o professor pode utilizar desse simples elemento cotidiano para que seus alunos possam compreender como uma determinada ação humana pode ser alvo de diferentes formas de compreensão.
Inicialmente, o professor pode propor uma breve atividade de pesquisa onde os alunos investiguem a rotina de trabalho de seus familiares. Nessa primeira pesquisa, podem levantar quais parentes trabalham; como funciona a atividade que eles exercem e quais das vantagens e desvantagens em se ter uma rotina voltada para o trabalho. Além disso, o professor pode requisitar aos alunos que perguntem aos entrevistados se eles gostam e o que os leva a trabalhar.
Dessa forma, o professor estabelece um primeiro momento em que questiona com sua classe como as pessoas hoje compreendem o trabalho. Através de um quadro de respostas, o professor vai computar como os participantes da pesquisa analisam a questão do trabalho em seu dia-a-dia. Após essa primeira análise, o professor pode apontar como a rotina do trabalho foi diferentemente compreendida ao longo da história.
Para tanto, sugerimos que o professor estabeleça uma análise comparativa entre os costumes da antiga sociedade ateniense e a doutrina calvinista. Nesse aspecto, o professor deve anteriormente destacar uma breve explicação sobre cada um dos períodos históricos a serem utilizados, destacando quando e onde a cultura grega e o movimento calvinista aparecem. Passada essa diferenciação, o professor pode então oferecer um exercício interpretativo envolvendo as falas dos diferentes personagens históricos dessa época.
Primeiramente, respeitando a distinção cronológica anteriormente citada, o professor pode apresentar uma citação em que o historiador Paul Veyne descreve um processo jurídico ocorrido em Atenas. Nesse exemplo, Paul Veyne demonstra a questão do trabalho entre os atenienses ao relatar:
“Num processo em que era acusado e a multidão ateniense atuava como juiz, Demóstenes [orador político, 384-322 a.C.] jogou na cara do adversário [também um orador político] as seguintes críticas: ‘Sou melhor que Ésquines e mais bem nascido; não gostaria de dar a impressão de insultar a pobreza, mas devo dizer que meu quinhão foi, quando criança, freqüentar boas escolas e ter bastante fortuna para que a necessidade não me obrigasse a trabalhos vergonhosos. Tu, Ésquines, foi teu destino, quando criança, varrer como um escravo a sala de aula onde teu pai lecionava’. Demóstenes ganhou triunfalmente o processo.”
Logo em seguida, pode oferecer uma passagem em que João Calvino, sob a perspectiva religiosa, considera qual era a importância do trabalho na seguinte citação:
“Deus chama cada um para uma vocação particular cujo objetivo é a glorificação dele mesmo. O comerciante que busca o lucro, pelas qualidades que o sucesso econômico exige: o trabalho, a sobriedade, a ordem, responde também ao chamado de Deus, santificando de seu lado o mundo pelo esforço, e sua ação é santa”.
Partindo dessas duas concepções, o professor pode, em um debate em sala de aula, utilizar essas duas falas enquanto dois “novos depoimentos” em que se percebe a diferenciação do trabalho nas duas épocas históricas trabalhadas em sala. Dessa maneira, os alunos poderão ampliar sua reflexão ao perceber como o valor do trabalho funciona de maneira completamente oposta nos contextos trabalhados.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola