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Olhando os mapas como documentos

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Os mapas podem ser utilizados como grandes fontes de compreensão da História.

A cartografia é um dos mais ricos ramos de conhecimento trabalhado pela Geografia e por outras áreas afins. Por meio de um mapa podemos obter informações sobre o clima, a hidrografia, a população, a dimensão territorial, relevo e outros dados sobre determinada região. Em primeira análise, podemos ver nesse tipo de recurso uma importante fonte de informação sobre dados que auxiliam o desenvolvimento do conhecimento geográfico.

Contudo, o professor de História também pode utilizar dos mapas para salientar questões referentes aos valores históricos de uma época, dando outra dimensão sobre esse interessante recurso. Para exemplificar esse tipo de possibilidade sugerimos a elaboração de uma aula onde o professor exponha diferentes mapas ressaltando os valores desses grandes quadros que aparentemente almejam representar o mundo a sua volta.

Para tanto, indicamos o uso de um mapa do século XIII e um mapa do século XVIII. Por meio de uma análise comparativa, o professor tem a oportunidade de historicizar o valor ocupado pelos mapas antes e depois do processo de expansão marítimo-comercial e apresentar aos alunos como cada mapa dialoga com os valores históricos de seu tempo. Primeiramente, o professor pode expor o mapa “Mapa do Salmo”, de 1260, encontrado em uma versão do livro bíblico de Salmos, fabricado na Inglaterra.

FIGURA 01 – MAPA DO SALMO (1260)

 

Por meio desse antigo mapa, o professor pode demonstrar a dimensão do mundo conhecido até aquela época. Além disso, existe uma gama de imagens que pode nos mostrar um pouco do pensamento do século XIII. Na primeira visualização, temos a figura de Jesus Cristo e de anjos demonstrando o forte elemento religioso dessa época. Sua mão levantada representa o derramamento de bênçãos ao mundo e os anjos reforçam a idéia de intervenção do mundo espiritual sob o mundo terreno.

Além disso, a ausência do continente americano ressalta as limitações impostas por uma época em que as grandes navegações não haviam ocorrido e o homem medieval ainda não possuía uma visão mais ampla do mundo que o cercava. Paralelamente, o posicionamento central da Europa incide diretamente em outro valor em que o Velho Mundo é visto como ponto de partida da civilização. Esse tipo de distinção é percebido também pela presença de feras aquáticas presentes na base desse mesmo mapa.

Os lugares longínquos estão afastados da Europa que, por sua vez, ocupa uma posição mais próxima do “Senhor”. Nesse tipo de interpretação podemos ter uma visão eurocêntrica também percebida em um outro relevante detalhe deste documento cartográfico. Logo abaixo da grande figura de Cristo, há um pequeno círculo tomado por um rosto masculino e feminino. Na verdade, essas duas personagens do mapa representam Adão e Eva que, segundo a narrativa bíblica, teriam dado origem à raça humana.

Por fim, o trabalho com esses elementos do mapa medieval deve ser contraposto a um mapa francês do século XVIII, intitulado “Mappe-Monde”, de 1707, produzido por Guillermo Delisle (1675-1726).

FIGURA 02 – MAPPE-MONDE (1707)

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Nesse segundo documento, temos uma representação que incorpora novas regiões descobertas pelo processo de expansão marítimo-comercial, que inclui boa parte do continente americano, uma percepção mais ampla sobre a Ásia e a África; e a descoberta de novos espaços na Oceania. Além disso, vemos no brasão superior do mapa a procedência do material, que fora produzido pela “Academia Real de Ciências”, e que indica o financiamento do Estado a esse novo tipo de conhecimento.

Em contraposição ao primeiro mapa, não temos a marcante presença de elementos de natureza religiosa, o que demonstra as claras conseqüências trazidas pelos valores humanistas e racionalistas elaborados desde o Renascimento. O conhecido “desencantamento do mundo” se manifesta pela objetividade que vigora na esfera do conhecimento durante a Idade Moderna. Com isso, uma nova visão do espaço e novos valores podem ser contrapostos nesse rico exercício interpretativo.


OBS: Caso o professor queira versões mais ampliadas desses mapas, recomendamos uma pesquisa pela internet de ambos, a partir do nome dado a cada um deles.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola