PUBLICIDADE
Ao trabalhar o bandeirantismo em sala de aula, observamos que o professor pode obter resultados interessantes na medida em que explora a importância dos bandeirantes nesse período. Afinal, ao reconhecer a distinção entre as entradas e as bandeiras, muitos dos alunos têm a impressão que as expedições realizadas sob o comando da Coroa Portuguesa agiam de forma independente das expedições realizadas pelos bandeirantes pelo interior do território.
Visando quebrar essa compreensão, oferecemos ao professor a consideração de um documento do século XVIII, em que o imperador português, ao falar sobre a prospecção mineradora, acaba revelando diversas questões interessantes sobre o tema.
[…] se me representou que, pelas notícias que tinham adquirido com as entradas que haviam feito pelos sertões dessa América, se lhes fazia certo haver neles minas de ouro e prata, e pedras preciosas, cujo descobrimento senão havia intentado pela distância em que ficaram as tais terras, aspereza dos caminhos, e povoações de índios bárbaros que nelas se achavam aldeados; […] e porque deste descobrimento de minas podiam resultar grandes interesses à minha fazenda, se ofereciam a me irem fazer esse serviço tão particular, à sua custa, não só conquistando com guerra aos gentios bárbaros que se lhes opuserem mas também procurando descobrir os haveres que nas ditas terras esperavam achar, […] e que fazendo o serviço que se ofereciam esperavam ser-lhes remunerado com as honras e prêmios.
RESPOSTA DE D. JOÃO V ao pedido de licença dos bandeirantes, 14 de fevereiro de 1721. In: PALACÍN, Luís; GARCIA, Ledonias; AMADO, Janaína. História de Goiás em documentos. Goiânia: Editora da UFG, 1995. p. 22. (Adaptado).
Ao considerar tal documento, percebemos que Dom João V fala a respeito dos relatos dos bandeirantes sobre as potencialidades econômicas do interior. Acreditando na existência de pedras e metais preciosos nessas terras, os bandeirantes se prontificavam em realizar expedições pelo interior do território. Nesse sentido, o imperador justificou a não realização desses empreendimentos tendo em vista as grandes distâncias, as dificuldades de incursão e os possíveis ataques indígenas em tais regiões.
Além de ponderar sobre tamanhas dificuldades, o imperador não deixou de assinalar que a descoberta de regiões mineradoras poderia render grandes divisas ao império. Dessa forma, acabou percebendo que a ação dos bandeirantes poderia ser interessante na medida em que os mesmos poderiam servir como agentes da Coroa para o alcance de seus objetivos econômicos. Desse modo, considerava premiar os bandeirantes que conseguissem encontrar alguma região rica em minérios.
Ao analisar o conteúdo da documentação apresentada, é possível realizar a consideração de todas essas ideias junto aos alunos. Na medida em que falou dos bandeirantes, o imperador não só revelou o conhecimento oficial da Coroa sobre a atividade dessas personagens históricas do ambiente colonial, mas também demonstrou os desafios que envolviam tal atividade. Paralelamente, o mesmo documento situou uma estratégia metropolitana para que a mineração se desenvolvesse no espaço colonial.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola