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O ano de 1888 é considerado como o ápice do movimento de abolição da escravidão no Brasil. No dia 13 de maio, a princesa Isabel assinou o decreto que dava fim ao trabalho escravo. Mesmo considerando a importância desse feito, não podemos colocar o abolicionismo como simples conseqüência do conjunto de ações do governo imperial que possibilitaram a libertação dos escravos. Mostrando a pluralidade das perspectivas históricas, o professor pode destacar as ações das populações negras frente à escravidão.
Nessa revolta, acontecida no ano de 1835 na cidade de Salvador, um grupo de negros malês empreendeu uma revolta contra as autoridades da região. Os malês era um grupo de origem nagô praticantes da religião muçulmana e falantes da língua árabe. Muitos deles se destacavam por suas habilidades para a prática do comércio e a administração de pequenos negócios. Dessa maneira, esse grupo de escravos urbanos possuía uma relativa liberdade.
Ao destacar as peculiaridades do malês o educador tem uma excelente oportunidade para diferenciar a situação dos escravos que viveram no Brasil. Levantando essas peculiaridades, os alunos entram em contato com outras possibilidades para fora do quadro que vê escravo no árduo trabalho braçal das lavouras ou no desconfortável ambiente das senzalas. Para facilitar esse contraponto, uma breve explicação sobre as diferenças da escravidão urbana e rural pode concluir melhor esta questão.
Prosseguindo com esse mesmo conteúdo, o professor pode colocar em foco como as liberdades e particularidades dos escravos malês contribuíram na articulação do levante. O domínio de uma língua desconhecida, o árabe, e o deslocamento por Salvador foram fatores de importante relevância na reunião destes revoltosos. Ao demonstrar esse tipo de situação, o professor coloca em xeque a idéia de que os colonizadores tinham “total domínio” sobre um grupo social “conformado” com a sua condição.
Um outro rico tema histórico a ser trabalhado neste assunto refere-se à questão religiosa no Brasil. Desde o período colonial, o catolicismo cristão agiu em associação com as elites instituídas no Brasil, galgando expressiva influência política. Em diferentes ocasiões, os malês tiveram seus locais de reunião destruídos e principais líderes religiosos aprisionados pelas autoridades oficiais. Dessa forma, o problema da intolerância religiosa consta como outro motivo para revolta.
Ao oferecer esse tema de discussão, seja por meio de aula expositiva ou com a discussão de um texto, o professor amplia as perspectivas de compreensão do aluno sobre o tema da escravidão no Brasil. A Revolta dos Malês deixa de ser uma simples revolta para empreender uma idéia mais interessante no que tange as formas de resistência à escravidão. Para finalizar esse assunto, o tema ainda pode ser relacionado com a Independência Haitiana (1804), onde os escravos lideraram o processo de independência da região de colonização francesa.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola