PUBLICIDADE
Reservar algumas aulas para discutir assuntos cotidianos é uma prática fundamental para que, nas aulas de História, possamos estabelecer o contato entre o passado e o presente. Nesse sentido, podemos tematizar o problema da representação política no Brasil por meio de fontes de informação diferentes que, por meio da discussão em sala, demonstrem essa questão em dois momentos de nossa História.
Para tanto, recomendamos inicialmente a organização de um pequeno texto que traz um conto de Machado de Assis. Utilizando da literatura, o professor pode demonstrar que as várias manifestações artísticas de um tempo servem como fonte de conhecimento histórico. No caso, o conto “Teoria do Medalhão” (1881) grifa uma interessante crítica ao comportamento político no fim do Segundo Reinado.
Preferencialmente, sugerimos o recorte especial de um diálogo em que o pai orienta os passos e comportamentos para uma possível carreira política do filho. Em determinado ponto, o progenitor salienta:
- Podes pertencer a qualquer partido, liberal ou conservador, republicano ou ultramontano, com a cláusula única de não ligar nenhuma ideia especial a esses vocábulos (...)
- Se for ao parlamento, posso ocupar a tribuna?
- Podes e deves; é um modo de convocar a atenção pública. Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: - ou os negócios miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica.
- Farei o que puder. Nenhuma imaginação?
- Nenhuma; antes faze correr o boato de que um tal dom é ínfimo.
- Nenhuma filosofia?
- Entendamo-nos: no papel e na língua alguma, na realidade nada. (...) Foge a tudo que possa cheirar a reflexão, originalidade, etc., etc.
De forma bastante jocosa, o escritor mostra a pobreza ideológica como uma prática necessária caso alguém desejasse incorporar o cenário político de seu tempo. Além disso, fala sobre a necessidade de exposição pública sistemática para que a atuação política pudesse estar cercada de algum tipo de credibilidade aparente. Contudo, conforme bem salientado na última fala, nada passa de um jogo de encenações que não produz nada de novo.
Para relacionar o tema com o mundo contemporâneo, o professor pode finalizar a aula trabalhando com a apresentação do vídeo “Aula de política com Maluf” *. Nessa entrevista, o professor pode demonstrar como o conteúdo do diálogo também gira em torno dos comportamentos a serem incorporados por um político na atualidade. Frisando a época em que o material foi produzido, o professor pode debater as diferenças e proximidades entre o político entrevistado e o pai da ficção machadiana.
Com o objetivo de finalizar essa interessante e curiosa discussão, o professor pode elaborar uma atividade em que eles mesmos procurem matérias ou textos que falem sobre o comportamento dos políticos. Além de requerer que alguns alunos apresentem o conteúdo em sala, peça para que o aluno produza um texto em que ele explica qual tipo de crítica pautada pelo texto em relação ao nosso cenário político.
* O vídeo poder ser encontrado sem maiores dificuldades em pesquisa na internet.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola