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Hoje em dia, as pessoas percebem claramente que uma notícia tem o poder de correr o mundo em um simples piscar de olhos. Os meios de comunicação disponíveis empreendem um grau de acesso à informação capaz de disseminar o conhecimento sem maiores dificuldades. Mediante tanta rapidez, acabamos tendo uma imensa dificuldade para refletir como os fatos e informações circulavam antigamente.
Em sala de aula, muitos alunos não compreendem de que forma as ideias, revoluções ou movimentos intelectuais chegavam às terras brasileiras. Sem maiores dificuldades, o aluno pode acabar tendo a errônea impressão de que antigamente as pessoas não tinham acesso mínimo aos acontecimentos externos. De fato, esse mito acaba promovendo uma visão errônea das épocas históricas a serem estudadas.
Nesse sentido, buscando desmistificar essa ideia de que os homens do passado eram desinformados, o professor de História pode empreender um proveitoso trabalho sobre a Revolução Haitiana. Para tanto, partindo do pressuposto de que o aluno já tenha conhecimento sobre o fato, o docente pode discutir sobre os reflexos dessa experiência no território brasileiro.
Na obra “Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte”, o historiador Sidney Chalhoub realiza uma rápida descrição sobre como a Revolução Haitiana foi recebida no território brasileiro. Segundo o autor:
Em 1805, um ano após a proclamação da independência do Haiti, foram encontrados no Rio alguns ‘cabras’ e crioulos forros ostentando no peito o retrato de Dessalines, o ex-escravo e ‘Imperador dos Negros da Ilha de São Domingos’; em 1831, chegou ao conhecimento da polícia que dois haitianos haviam desembarcado no Rio de Janeiro e tinham sido vistos conversando com ‘muitos pretos’. (...) Não há, é verdade, nenhuma referência conhecida a uma insurreição de negros de grandes proporções na cidade do Rio no século XIX. Todavia, o temor de que isto ocorresse era sólido como uma rocha, e era realimentado de vez em quando por revoltas urbanas em outros lugares, por notícias de haitianos passeando nas ruas da Corte, ou pelos rumores de uma conspiração internacional para subverter as sociedades escravistas.
Por meio dessa fala, temos a oportunidade de mostrar aos alunos que a notícia da revolução acontecida no Haiti promoveu uma importante série de eventos na cidade do Rio de Janeiro. Por um lado, o relato conta que negros haitianos teriam difundido o sucesso revolucionário e que algumas pessoas saíram manifestando seu apoio ao acontecimento. Por outro, o mesmo fato causou a apreensão das autoridades e membros da elite que temiam uma revolta semelhante no Brasil.
Através da observância do documento, os alunos perdem aquela falsa impressão de que somente o mundo contemporâneo seja marcado pela circulação de informações. Mesmo não tendo a mesma rapidez da atualidade, as pessoas já estabeleciam essa relação de diálogo para com os fatos históricos ocorridos em outros lugares. Nesse caso, a extinção de uma sociedade escravocrata abriu portas para que a configuração social do Brasil no século XIX fosse debatida.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola