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A pesquisa sociológica e o método científico
O cenário político recente tem despertado um novo e ardente interesse de grande parte das pessoas, que, mesmo que não reconheçam interessar-se por tais temas, acabam assumindo fortes opiniões, muitas vezes inflexíveis, quanto a um ou outro assunto que se apresente.
Com tudo isso em mente, devemos reconhecer, entretanto, que, na mesma proporção que o interesse por assuntos de relevância política e social cresceu, também cresceram as dúvidas e a confusão. Isso se deve em grande parte à grande quantidade de informações disponíveis na internet e à grande facilidade em obtê-las. Nesse ínterim, a internet pode tornar-se uma “faca de dois gumes”, já que nem todas as informações que se apresentam são verdadeiras ou mesmo verificadas ou, ainda, podem tratar-se de uma interpretação seletiva de fatos, distorcendo um aspecto do objeto em questão em favor do argumento sustentado.
Como já bem sabemos, o trabalho do sociólogo é justamente ir além das interpretações superficiais que observamos em nosso dia a dia, e a pesquisa é o meio que temos para tanto. Portanto, acredito que seja de grande valia apresentar alguns princípios do método sociológico de pesquisa para que os alunos possam desenvolver a capacidade de observar e questionar a própria realidade em que vivem, de forma que se tornem capazes de desenvolver um olhar próprio e crítico sobre suas vidas sociais.
O olhar sociológico em sala de aula
As perguntas que os sociólogos buscam entender não estão distantes das perguntas de todas as outras pessoas. O que muda, na verdade, é a maneira como o pesquisador observa o objeto de suas indagações. Anthony Giddens¹ assegura-nos que “um trabalho sociológico de qualidade procura garantir a maior precisão possível às questões e reunir evidências factuais antes de chegar a conclusões”. Esse é um dos grandes princípios que devem ser apresentados em sala de aula.
É uma boa experiência indagar a sala com alguma questão aparentemente superficial e de cunho social. Para aprofundar ainda mais o debate e ilustrar melhor a questão, pode ser interessante a apresentação de alguns filmes que tratem do assunto que o professor pretende abordar. Um exemplo de tema que pode discutido a partir dessa perspectiva é a questão da mobilidade social.
Sugestão de atividade de pesquisa
Uma rápida pesquisa de opinião pode ser arranjada sem grande rigor. Questione sobre a percepção do aluno acerca das mudanças na condição de vida de sua família, se houve melhorias ou pioras no último ano. A aplicação de um pequeno formulário, bem simples e sem exigência de identificação, ajudará a encorajar respostas mais sinceras e garantirá aos alunos a seguridade do anonimato, além de servir de exemplo de um importante aspecto da construção de uma pesquisa. Outras informações como idade, sexo ou ainda se trabalham e estudam podem ajudar a trazer outras perspectivas sobre o assunto.
Finalmente, verifique os dados coletados em conjunto com a sala. Mostre as diferentes realidades que puderam ser observadas entre aqueles que sentiram melhorias em sua qualidade de vida, os que sentiram agravamento e aqueles que não observaram nenhuma mudança. Relacione essas informações com os demais dados (idade, sexo e trabalho) utilizando como parâmetro de comparação os indicadores de mobilidade social do IBGE, o que ajudará na contextualização dos dados observados.
É importante ressaltar que, por mais subjetivas que sejam as informações coletadas, elas ainda nos servirão de ilustração de um esforço de pesquisa. O que nos interessa não é propriamente a irrefutabilidade de dados, mas sim a aproximação do aluno com o esforço sociológico.
Ilustrando o objeto de pesquisa
Parte importante para que o aluno compreenda a questão levantada ou o objetivo do questionamento é a ilustração do problema. Para isso, o professor pode lançar mão de músicas, filmes ou documentários. Entre os documentários que tratam do problema de mobilidade social, por exemplo, indico “Onde a coruja dorme”, um retrato da vida de Bezerra da Silva e da música como forma de ascensão na escala social. Pode ser utilizado também o clássico “Ilha das flores”, que trata da desigualdade social associada ao fenômeno da mobilidade.
Espera-se que, com essa experiência, o aluno consiga perceber as nuances de uma pesquisa. Para tanto, é importante que o professor demonstre que a busca pela factualidade e pela verificação das informações coletadas e, consequentemente, das respostas apresentadas é o passo crucial para a compreensão do mundo que nos cerca.
Referência:
Giddens, ANTHONY – Sociologia – Tradução, Sandra Regina – 4º ed – Porto Alegre: Artmed, 2005.¹
Por Lucas Oliveira
Graduado em Sociologia