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Quatro metodologias para trabalhar o tema “Fé e razão”

Apresentamos quatro metodologias para trabalhar o tema “fé e razão” nas aulas de filosofia como forma de fixar o conteúdo e incentivar a tolerância.
Trabalhar o tema “Fé e razão” nas aulas de Filosofia é um desafio, principalmente em determinados contextos, como escolas religiosas
Trabalhar o tema “Fé e razão” nas aulas de Filosofia é um desafio, principalmente em determinados contextos, como escolas religiosas
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Trabalho com fragmentos de textos considerados sagrados

O Brasil é um Estado Laico e isso permite a coexistência de múltiplas expressões religiosas em nosso território. Mesmo assim, ainda vemos em nossas comunidades muito preconceito em relação à diversidade de credo, incluindo aí aqueles que não professam nenhuma fé.

É uma questão muito delicada de se trabalhar, principalmente se tivermos em conta fatores como contexto social, familiar e faixa etária – além da natureza do próprio colégio, por exemplo, se for um colégio religioso. Mesmo assim, não podemos nos esquivar desse desafio. Penso que a Filosofia pode contribuir para que se perceba que admitir que outras pessoas tenham uma fé diferente e respeitar essa fé não entra em contradição com os princípios nos quais se acredita.

O professor/a professora de Filosofia pode trazer para a sala trechos de livros considerados sagrados para diversas religiões, como o Bhagavad Gita e o Alcorão, para mostrar os pontos de aproximação com a Bíblia Cristã.

Outra forma de trabalhar com esses fragmentos é pedir que os alunos façam uma tabela nas quais vão listar as aproximações e diferenças entre as religiões.

Uma terceira forma é pedir para os alunos reconstruírem os argumentos que aparecem nos livros considerados sagrados. Isso se torna mais fácil quando o fragmento selecionado é de natureza prescritiva. Para ajudar os alunos, podemos apresentar o seguinte roteiro de interpretação:

1) O texto religioso analisado tem uma natureza prescritiva, ou seja, está oferecendo um modelo como as pessoas devem agir?

2) Se o texto tem uma natureza prescritiva, quais as consequências para quem se desvia do que é proposto e quais as recompensas para quem segue as normas?

3) Se não tem uma natureza prescritiva, qual o objetivo do texto religioso analisado?

O objetivo dessa atividade é desmistificar a natureza de outras obras religiosas, sobre as quais ainda temos preconceito. É importante que o aluno perceba até que ponto o texto religioso incentiva uma ação ruim, como as que vemos nos jornais, e até que ponto a ação foi provocada por uma interpretação equivocada do texto. Depois, pode-se levantar questões sobre “dogma”, “tradição”, “cultura” e “sagrado”.

Três sugestões de filmes para trabalhar o tema “Fé e Razão”

Como nosso país tem uma tradição africana que é alvo de muito preconceito e intolerância, a aula de Filosofia pode ser uma boa oportunidade para mudar um pouco esse cenário. O documentário “Brincando com os deuses” (Direção: Maria Augusta Galli e Simone Colombo/ Brasil/ 2012) pode ser exibido durante a aula, pois tem apenas 9 minutos de duração e mostra a religiosidade brasileira a partir da perspectiva da infância.

Nós também temos tradições religiosas indígenas que, muitas vezes desconhecemos. O documentário “A visão do Xamã” (Direção: Ricardo José Paranaguá/ Brasil/ 2009) pode ser recomendado aos alunos para que eles vejam em casa ou o professor/a professora pode dedicar à exibição do filme uma aula inteira. Importante que os alunos percebam que a religiosidade tem um aspecto de explicação da realidade, também têm uma função social e, para os indígenas, está associada à percepção da história do seu povo. O livro de Pierre Clastres, A sociedade contra o Estado, pode ser um referencial teórico utilizado.

Sobre a religiosidade indígena, o professor/a professora pode trabalhar ainda a coletânea de Marlui Miranda, Todos os Sons (1995), no qual ela coletou durante anos de pesquisa as musicalidades das nações indígenas. Uma questão que pode ser levantada é a da importância da musicalidade para as diversas expressões religiosas: o canto está presente em muitas delas como via de acesso ao sagrado. É interessante pedir para os alunos pesquisarem a respeito e/ou dizerem quais são suas interpretações a esse respeito. Outra forma de envolver os alunos é pedir para que eles apresentem, na aula seguinte, alguma música que é cantada em sua igreja. A apresentação pode ser feita pelo próprio aluno ou levada em mídia.

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Outro filme que pode ser trabalhado é “Persépolis” (Direção: Marjane Sartrapi e Vincent Paronnaud/ EUA e França/ 2008). A animação é sobre um período de transformação na sociedade iraniana, também pela perspectiva da infância. A partir desse filme, pode-se trabalhar também o vínculo que pode existir entre religião e política.

Pesquisa e feira cultural:

O professor/a professora pode, a partir do tema “Fé e razão”, trabalhar a noção de tolerância religiosa. Entender os motivos pelos quais as pessoas acreditam em determinada fé – ou nenhuma fé – é fundamental para que haja o respeito de todas as formas de expressão e para atacar o preconceito que ainda existe em nosso país em relação às religiões de matriz africana e ao ateísmo, principalmente.

Por isso, o professor pode pedir que, em grupos, os alunos pesquisem 1) o islamismo; 2) o judaísmo; 3) o espiritismo - Allan Kardec e Chico Xavier; 4) a umbanda e o candomblé; 5) as religiosidades indígenas; 6) o hinduísmo; 7) o ateísmo; 8) o agnosticismo; 9) o budismo; 10) as denominações do cristianismo. Pode ser realizada uma feira cultural no colégio em que os alunos apresentarão o resultado de suas pesquisas para a comunidade.

Outra forma de se realizar uma feira cultural é convidar pessoas que se identificam com as denominações acima para que falem sobre os principais preconceitos que sofrem em relação à fé (ou não fé) que professam, além de pontos principais de sua doutrina – recomendando a elas que façam isso de forma descritiva e a partir de uma abordagem histórico-social.

Música como recurso para promover debate:

Depois da exposição do conteúdo, a partir do referencial teórico escolhido ou o indicado pelo livro didático, o professor/a professora pode desenvolver a seguinte atividade:

a) Dividir os alunos em grupos e pedir para eles pesquisarem em seus smartphones (se o colégio permitir a utilização de smartphones em uma estratégia didática) as letras das seguintes músicas: “Romaria”, de Renato Teixeira; “Rosa púrpura do caicó”, de Chico César; “Fé Cega, Faca Amolada”, de Milton Nascimento; “Iansã”, de Clara Nunes e “Cartomantes”, de Ivan Lins.

b) Caso a escola não permita o uso de smarthones, o professor/a professora pode levar as letras impressas.

c) Depois de pedir que os alunos escutem as músicas, o professor/a professora pode pedir para que eles destaquem nas letras os versos que tratam de fé e de razão e analisar se elas estão opostas, em harmonia ou se apenas uma delas está presente.

d) O professor/a professora pode pedir uma pequena redação individual, de até dez linhas, estimulando que o aluno elabore seu pensamento colocando em diálogo a letra da música e o conteúdo estudado. O professor/a professora pode sugerir um fragmento específico de algum filósofo estudado em sala.


Por Wigvan Pereira
Graduado em Filosofia