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Na década de 1960, a cultura jovem ganhou uma visível repercussão por meio de diferentes manifestações políticas e artísticas. Em várias situações, vemos que a sociedade de consumo é alvo do protesto de jovens estudantes engajados. Um pouco antes desse período, o movimento beatnik, nos EUA, já trilhava uma série de críticas que ia contra os padrões da sociedade industrial. Logo em seguida, os hippies apareciam como defensores de um modelo de vida alternativo.
Em muitas situações, os jovens atrelados a esse movimento criticavam os padrões morais de um tempo em que as guerras ceifavam a vida de milhares de inocentes. Não por acaso, o pacifismo do movimento hippie comungava com a defesa de uma nova sociedade, de outros padrões que pudessem alcançar uma sonhada harmonia de grande amplitude. Apesar de visivelmente pretensiosos, muitos jovens saíram do conforto do seu lar para viverem em sociedades dotadas de outros valores e anseios.
O interesse em conhecer e defender outros padrões de vida e comportamento acabou propiciando o desenvolvimento de toda uma cultura de forte expressão nos anos de 1960. Grandes ícones da “folk song” e do “rock’n’roll” norte-americano escreviam letras que abordavam os valores e situações de interesse dos hippies. Não se limitando a esse nicho específico, muitas dessas manifestações artísticas foram propagadas, via indústria cultural, para a população jovem de outros países.
A popularização desses valores acabou atingindo o Brasil e, em pouco tempo, poderíamos observar a presença de jovens e artistas que também buscaram se debandar dos padrões da época. Para que a presença dessa “vertente brasileira” possa ser inserida no contexto da sala de aula, indicamos o trabalho com a música “Primeira Canção da Estrada”, composta pelo trio “Sá, Rodrix & Guarabyra”.
Organizando um material em que os alunos possam acompanhar a execução desse exemplo musical, o professor deve elaborar uma linha de análise construída a partir de um conjunto de questões. A partir de cada uma das perguntas, os alunos teriam condição de construírem por si só a relação entre os valores e cenas do movimento hippie na canção desejada. Para tanto, vamos primeiramente disponibilizar os versos da canção a ser trabalhada.
Apesar das minhas roupas rasgadas
E acredito que vá conseguir
Uma carona que me leve pelo menos à cidade mais próxima
Onde ninguém vai me olhar de frente
Quando eu tocar na minha guitarra as canções que eu conheço
Eu tinha apenas dezessete anos
No dia em que saí de casa
E não fazem mais de quatro semanas que eu estou na estrada
Mas encontrei tantas pessoas tristes desaprendendo como conversar
Que parece que eu estou carregando os pecados do mundo
Que parece que eu estou carregando os pecados do mundo
Que parece que eu estou carregando os pecados do mundo
Narrada em primeira pessoa, a canção propõe a existência de um personagem principal de apenas dezessete anos, de roupas rasgadas e que saiu de casa a menos de um mês. Somente nessa simples captura de elementos, podemos ver que a canção constrói um personagem típico que integraria o movimento hippie em si. Destacando a busca de uma vida fora das regras vigentes, temos a clara sugestão de que o jovem descrito vaga pelas cidades através da carona que espera conseguir com algum desconhecido.
Além desses elementos centrais, podemos também assinalar que a reação negativa das pessoas a essa figura adversa também compõe a letra e abre caminho para outra temática da cultura hippie: o preconceito. Ao acreditar que na cidade mais próxima “ninguém vai me olhar de frente”, o narrador-personagem denuncia que sua opção de vida causa constrangimento ou repúdio a muitas das pessoas que não compartilham da mesma forma de compreender o mundo.
Por fim, não descartando o posicionamento crítico que se vincula ao próprio movimento, a canção encerra seus versos falando sobre o distanciamento das pessoas. Quando diz que encontrou ”tantas pessoas tristes desaprendendo como conversar”, a crítica ao seu tempo revela a insatisfação que tomava conta dos integrantes do movimento hippie dessa época.
A partir desse trabalho, o aluno pode perceber o comportamento que a circularidade dos bens culturais assume no século XX. Os meios de comunicação e a indústria fonográfica se transformam em meio de propagação de fenômenos culturais que transcendem a barreira imposta pelas fronteiras físicas e comportamentais. Só assim se torna possível falar sobre a possibilidade de existência dos hippies norte-americanos e brasileiros.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola