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Interpretar o passado, apesar dos vários obstáculos, pode ser uma interessante forma de exercitarmos a nossa capacidade de compreensão. Em sala de aula, sabemos que a infinidade de conteúdos a serem cumpridos e as outras obrigações rotineiras muitas vezes impedem a realização das atividades de revisão. No entanto, sabemos que esse tipo de prática consegue abrir caminho para a avaliação do conhecimento do aluno fora da situação de prova.
Para que a revisão seja benéfica, também não podemos cair na mesmice de organizar uma sabatina em que os alunos estejam subordinados à “temível” lista de perguntas do professor. Dessa forma, acreditamos que a retomada do conteúdo visto pode ser feita através de uma atividade em que os alunos revisitem o conhecimento internalizado pela voz das personagens que compõem o período histórico estudado. E nem é preciso um grande arsenal de recursos para que isso seja feito!
Reportando-nos para o século XVIII, o professor pode retomar vários conceitos e fatos históricos da Idade Moderna por meio de um curioso dito popular que circulava em Portugal nessa época. Pensando que os alunos já tenham estudado economia mineradora em História do Brasil, acreditamos que seja de grande proveito trabalhar com a seguinte frase:
“De todas as colônias inglesas, a melhor é o reino de Portugal” - Dito popular, Portugal - século XVIII.
Primeiramente, retomando o conteúdo já visto, o professor pode questionar aos alunos se, de fato, Portugal era colonizado pelos ingleses no século XVIII. Certamente, alguns alunos afirmariam que tal fato não ocorreu. Dessa forma, mediante tal constatação, como seria possível compreender o sentido dessa oração tão comum entre os lusitanos dessa época?
Buscando responder essa questão, acreditamos que o professor possa questionar à classe se Portugal e Inglaterra firmaram algum tipo de acordo econômico nessa época. Consultando os conteúdos já contemplados, algum aluno pode fazer menção ao Tratado de Methuen, assinado por autoridades portuguesas e britânicas em 1703. Levantada essa informação, questione à turma quais eram as características desse acordo e quais as implicações econômicas para cada um dos envolvidos.
Abrindo espaço para a participação dos alunos, logo se poderia compreender que o Tratado de Methuen causou diversos problemas para a economia portuguesa. Inicialmente, porque o acordo impediu a diversificação da produção agrícola de Portugal ao incentivar a exploração das terras para o cultivo de uva. Além disso, facilitando a entrada de tecidos em Portugal, o governo dificultava o desenvolvimento da indústria nacional.
Com o passar do tempo, essa definição acabou fazendo com que Portugal dependesse imensamente da produção têxtil da Inglaterra. Nesse aspecto, percebemos que a demanda por tecidos era imensamente maior que capacidade de se produzir vinho. Assim, os portugueses contraíram enormes dívidas com a Inglaterra, que passaram a ser pagas através do repasse dos metais preciosos encontrados na colônia brasileira.
Dessa forma, a Inglaterra lucrava duas vezes: ao dominar o mercado têxtil lusitano e recebendo parte de seus pagamentos com os valiosos carregamentos em ouro que vinham do Brasil. Ao dar tantos lucros à economia britânica e depender tanto da mesma, o professor tem condições de relembrar todos esses conteúdos ao explicar as questões e ideias que estão por trás desse simples provérbio que transforma Portugal em uma “colônia” da Inglaterra.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola