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Revolta da Vacina e cidadania

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”Espeto Obrigatório”: uma sátira ao desmando do governo promovido pela Lei da Vacina Obrigatória.

Um dos grandes temas de discussão relacionados à instalação da República no Brasil se refere à transformação da situação política do país. Os militares participantes deste movimento alegavam que a República seria um passo fundamental para que os brasileiros, finalmente, se libertassem das últimas amarras de seu passado colonial. No entanto, esse discurso inclusivo não se traduziu literalmente no campo das ações políticas diretas.

É de suma importância nos lembrar que o Brasil ainda tinha uma economia ligada ao mundo rural e às antigas elites agro-exportadoras aqui estabelecidas. Desse modo, o governo republicano ainda se mostrou atrelado ao interesse político desse grupo sócio-econômico. Ao mesmo tempo, o início do período republicano trouxe o aumento dos centros urbanos e o crescimento, muitas vezes desordenado, das cidades desse período. Em um curto espaço de tempo, as questões urbanas teriam maior expressão nos debates políticos da época.

Entre outros temas, a remodelação do projeto urbano da cidade do Rio de Janeiro teve grande destaque. Populações inteiras, em grande parte oriunda do meio rural, ocuparam os bairros da cidade se espalhado em vários cortiços. Essas moradias ofereciam condições precárias de habitação e higiene, logo se tornado grandes focos de epidemias e doenças. Sendo um reflexo da falta de expressivas políticas sociais, esses cortiços tornaram-se um problema de calamidade pública.

Nesse contexto podemos questionar junto aos alunos o motivo pelo qual esses cidadãos não eram atendidos pelo Estado ao qual deviam tributos e obrigações. A ausência do poder público torna-se uma via de debate onde o professor pode relacionar a relação entre os cidadãos e o Estado ao longo da História do Brasil. Além disso, os conflitos entre cidadãos e o poder público suscitam um rico questionamento sobre o interesse de quem as nossas autoridades representam. Para exemplificar tal questão no início da República, o professor pode fazer uma análise sobre a Revolta da Vacina, de 1904.

Naquele ano as autoridades tinham instituído a Lei da Vacina Obrigatória. De acordo com esse decreto, brigadas da vigilância sanitária, acompanhadas por autoridades policiais, poderiam obrigar a população dos cortiços a receber a vacina contra varíola. A população, desinformada e confusa, reagiu contra o caráter impositivo da campanha de vacinação causando diversos levantes na cidade do Rio de Janeiro. As causas desse conflito podem abrir portas para a questão do desmando político na República Velha.

Mais do que denunciar a “ignorância” dos populares, esse episódio demonstra a reação de uma população que, ao longo de anos, nunca se viu representada pelos poderes por ela legitimados. A essa altura seria de grande importância rever com os alunos o conceito de democracia, estabelecendo os limites existentes nessa forma de regime político. Por fim, a aula pode ser encerrada com documentos que mostram as críticas feitas pelos meios de comunicação à revolta.

Causando ainda mais conturbação, os jornais da época denunciavam que a vacina causava males à saúde e que as mulheres recebiam aplicação em suas partes íntimas. Fora da especulação de tais denúncias, esses relatos podem oferecer ao aluno detalhes ricos sobre os padrões de moral daquela época. Nesse sentido, a revolta é um tema de grande eficácia para se trabalhar os costumes e o quadro político dessa época.

Oferecendo um conjunto de documentos ou um texto analítico sobre o movimento, os alunos têm a oportunidade de debater e refletir sobre as falhas do nosso poder representativo e perceber a distância existente entre os cidadãos da República Velha e suas instituições.

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Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola