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No primeiro semestre de 2013 uma série de manifestações ocorreu em várias cidades brasileiras contra o aumento nas tarifas do transporte coletivo. O tamanho das manifestações e as ações violentas ocorridas nelas, tanto por parte de manifestantes quanto pelas forças policiais, transformaram-nas em revoltas pelo transporte coletivo e fizeram com que esse serviço público e a mobilidade urbana no Brasil fossem debatidos em âmbito nacional.
Questões como financiamento do transporte coletivo e cobrança das tarifas, bem como a qualidade do serviço oferecido, o controle empresarial sobre esse serviço público essencial e a comparação dos impactos do transporte coletivo e do individual na vida das cidades foram durante várias semanas pautas tratadas na imprensa.
A proposta aqui apresentada tem por objetivo oferecer ao professor algumas informações sobre duas manifestações relacionadas ao transporte coletivo ocorridas na história do Brasil – a Revolta do Vintém, de 1880, e a Revolta das Barcas em Niterói, em 1959 – para que ele possa debater com seus alunos, de forma historicamente comparada, o problema contemporâneo dos transportes nas cidades brasileiras, bem como as formas que têm sido adotadas por parte da população para expressar seu descontentamento.
Manifestações contra os valores das tarifas do transporte público não são uma atividade recente na história brasileira. A Revolta do Vintém foi a primeira manifestação popular contra o aumento de tarifas e se deu de forma violenta, no Rio de Janeiro oitocentista. No texto Revolta do Vintém, produzido pelo Brasil Escola, existe um panorama geral sobre a revolta e os motivos que levaram à sua eclosão. Existem ainda textos de outros historiadores que trabalham fontes da época, principalmente jornais, que analisam como foram tratadas no período as manifestações contra o aumento nas tarifas dos bondes na capital do Império. O resultado foi a extinção do imposto que gerou o encarecimento do valor da passagem.
Já no período republicano, ocorreu na cidade de Niterói, em 1959, a Revolta das Barcas. As ações dessa revolta também se direcionaram contra o aumento do valor das passagens e contra a qualidade das barcas que faziam o trajeto entre o Rio de Janeiro e Niterói pela Baía de Guanabara, antes da construção da ponte Rio-Niterói. A ação foi extremamente violenta, com destruição das embarcações e incêndios de estações e de propriedades da empresa que explorava o serviço. Após essas manifestações, o Estado passou a administrar o serviço e conseguiu controlar a insatisfação popular.
Por fim, pode-se chegar às manifestações que tomaram as ruas do Brasil em 2013. Iniciadas primeiramente em março na cidade de Porto Alegre, elas espalharam-se nos meses seguintes para Natal, Aracaju, Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e diversas outras cidades do Brasil. Entretanto, tais manifestações radicam nas ações ocorridas principalmente nas cidades de Salvador e Florianópolis em 2004 e 2005, sendo os movimentos da década de 2010 decorrentes, em algumas cidades, das ações nessas duas capitais. Tendo por reivindicação inicial a redução do valor das tarifas do transporte público, elas colocaram em debate nacional os problemas do transporte público como um todo, não se restringindo ao valor que foi cobrado, mas também ao modelo de gestão que foi adotado nas cidades.
Uma sugestão de debate para os professores pode ser feita com a comparação de algumas características que são comuns aos três fenômenos históricos:
- os tipos de reivindicações feitas pelos usuários dos transportes públicos e a forma de organização adotada para apresentá-las;
- as propostas de alterações no transporte público feitas pelos manifestantes;
- a relação entre a manifestação e a repressão policial, dando ênfase à questão da violência, praticada tanto por manifestantes quanto por policiais;
- as reações da imprensa em relação às manifestações, pesquisando principalmente os argumentos favoráveis e contrários às ações.
O objetivo dessa proposta é que os alunos façam uma atividade de análise comparada, buscando perceber permanências e alterações em uma manifestação social comum a diferentes períodos históricos do Brasil.
Por Tales Pinto
Graduado em História