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Estrangeirismo X Regionalismo

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Mazzaropi, ator brasileiro que levantava em seus filmes questões regionais.
Antes de 1990, foi ignorado pela crítica e pela intelectualidade.

No ano de 1999, o então deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB – SP) criou um projeto de lei que visava proteger a Língua Portuguesa, banindo de nosso vocabulário qualquer palavra estrangeira (Lei 1676/99). Na ocasião, o projeto suscitou opiniões diversas quanto a sua aplicação. Uma polêmica girou em torno de palavras estrangeiras frequentemente usadas como mouse, e-mail, happy hour, surf, garçom, etc.

A língua é nossa forma de comunicação mais genuína. Através dela descobrimos a classe social do indivíduo, seu nível de escolarização, sua origem geográfica e outros. Mas o problema não é só linguístico. É cultural. O brasileiro está acostumado com a valorização estrangeira desde o nascimento: filho de João é João Junior. Desde cedo somos bombardeados por filmes, propagandas, tecnologias e padrões de vida diferentes de nossa realidade. Já que o “mercado” se apoia em ideias estrangeiras (por “mercado” entenda-se TV, internet e outras mídias formadoras de opinião) é dever do professor progressista corrigir esse dano. Mas como?

A sala de aula (mesmo em tempos de decadência) é o berço da grande maioria dos brasileiros. É na escola que aprendemos (ou deveríamos aprender) a escrever, a ler, a viver em sociedade e a respeitar o próximo. E a pedagogia do professor é fundamental em tal processo. A criança se espelha no profissional que lhe fala, já que, em alguns casos, a escola é seu lar. Se o orgulho nacional, o patriotismo, o bairrismo (e outros termos regionais) fossem estimulados em sala de aula, as futuras gerações não precisariam de leis impostas para valorizarem sua cultura. E, nesse assunto, a região Sul saiu na frente. Desde a educação básica os sulistas aprendem sobre sua origem, a origem de sua língua (constituída por expressões italianas, alemãs e holandesas, trazidas pelos imigrantes) e sua cultura (como arquitetura, usos, costumes). Já no Centro-Oeste brasileiro, mais precisamente em Goiás, o ensino de História Regional não é habitual, salvo raras exceções (escolas privadas, por exemplo). O goiano cresce sem saber de onde veio, como se firmou e, consequentemente, para onde ir. Então, na falta de heróis pra se espelhar, querer ser o Spider-Man é normal. E onde entra o professor?

O papel do professor é relacionar o conteúdo ministrado com a realidade do aluno. É valorizar a produção nacional e, principalmente, a regional. É levar o aluno a se interessar pela história de seu bairro, de seu sobrenome, não ter vergonha de sua música, de seu sotaque, de suas características físicas. É claro que não devemos abrir mão da cultura estrangeira, mas também não devemos rejeitar a nossa. Todo o conhecimento está ligado em uma cadeia de produção que começa no aluno, passando pelo escritor, e chegando até o professor. Se o aluno se interessar mais por sua cultura, todos ganham: inclusão é a palavra-chave. Somos “marionetes” do mercado porque estamos fora de nossa realidade. Muito já mudou, mas ainda falta muito mais.
 

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Por Demercino Júnior
Graduado em História
Equipe Brasil Escola