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A competência linguística como um bem cultural

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A competência linguística como um bem cultural rompe paradigmas didáticos voltados para uma noção cristalizada do uso da gramática
A competência linguística como um bem cultural rompe paradigmas didáticos voltados para uma noção cristalizada do uso da gramática

A competência linguística como um bem cultural representa o arremate das ideias que aqui serão abordadas, visto que o discurso ora em evidência se mostra a serviço do ensino da língua culta, tendo como instrumento a gramática normativa, como mais uma dentre as muitas possibilidades de uso da língua.

Estamos nos referindo, pois, à concepção que deve se atribuir à gramática mediante o contexto escolar, haja vista que ela não pode ser “encarada” como uma camisa de força, mas sim como instrumento cuja finalidade é a de tão somente aprimorar a competência linguística do falante, representada por aquela que chamamos de gramática internalizada.
Ora, quando o educando chega a frequentar a escola, ele já possui um conhecimento do conjunto de regras da língua por ele dominada, mesmo que de forma inconsciente. Assim, possivelmente ele não utilizará discursos como “já escola vou eu à”, mas sim “eu já vou à escola”. Percebe-se que, mesmo sem manter contato com as técnicas que se impõem ao padrão formal, esse usuário já domina aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos da língua em si.

Pois bem, partindo do princípio de tal existência (gramática internalizada), chegamos ao ápice de nossa discussão: como tem sido o ensino do professor de Língua Portuguesa em sala de aula? Sabe-se que, com os avanços dos estudos linguísticos, a noção de “erro” em língua se revestiu de uma nova roupagem, dadas as múltiplas possibilidades linguísticas que se aplicam a situações interacionais também distintas. 

Caro (a) educador (a), procurando dar maior ênfase a essa discussão, seria interessante aliá-la a outro texto já existente nesse canal, “Língua culta como variedade de prestígio”, o qual explora essa questão a partir de dois elementos tidos como relevantes: “adequabilidade e aceitabilidade”. Ambos são indissociáveis, visto que temos de adequar nosso linguajar às diversas circunstâncias sociocomunicativas que norteiam nossa vida. Existem contextos em que não nos é permitido o uso de um tom coloquial (adequabilidade), assim como existem outros em que tal posicionamento se faz necessário (aceitabilidade).

Para que esse aspecto seja mais bem evidenciado, propomos o trabalho com a música “Cuitelinho”, cuja letra se manifesta logo abaixo:

Cheguei na beira do porto
Onde as onda se espaia
As garça dá meia volta
E senta na beira da praia
E o cuitelinho não gosta
Que o botão de rosa caia,ai,ai

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Ai quando eu vim
da minha terra
Despedi da parentália
Eu entrei no Mato Grosso
Dei em terras paraguaias
Lá tinha revolução
Enfrentei fortes batáia,ai, ai

A tua saudade corta
Como aço de naváia
O coração fica aflito
Bate uma, a outra faia
E os óio se enche d´água
Que até a vista se atrapáia, ai...  

http://letras.terra.com.br/renato-teixeira/298332/

Diante dessa criação artística, uma das possiblidades de se trabalhar os conteúdos gramaticais é dando credibilidade à concordância verbal. Partindo dela, o educador poderá enfatizar as variedades linguísticas e trilhar rumo aos objetivos antes firmados: fazer com que os educandos compreendam que a variedade padrão deve ser vista como a variante de prestígio, que nem sempre é acessível a todas as camadas da sociedade. 

Para tanto, eis que surgem algumas indagações com base nos propósitos didáticos, tais como:

* Mediante tal discurso, podemos afirmar que a interlocução foi efetivamente materializada?

O educador pode afirmar que a interlocução se materializou, mesmo com algumas incorreções de ordem sintática.

* Tais incorreções poderiam ser tachadas como erro por parte do emissor?

Partindo dessa indagação, o educador pode explorar a questão voltada para as variantes linguísticas, tendo em vista os fatores sociais.

* No que diz respeito a esse emissor, podemos dizer que ele possui competência linguística?   

Certamente que sim, contudo ainda não domina por completo a chamada competência gramatical.

* Em se tratando de situações discursivas formais, estaria esse discurso a elas adequado? Caso não, que tal analisarmos as possíveis “falhas”?

Eis o momento de o educador ressaltar que essas se deram no nível sintático, fazendo referência à falta de concordância entre alguns verbos e seus respectivos sujeitos. Outras se manifestaram no nível fonológico, referindo-se a questões ortográficas. Assim, no intuito de aprimorar a competência gramatical dos alunos, eles mesmos podem fazer essa reformulação, pontuando os aspectos evidenciados.

Realizado esse procedimento, o educador poderá mais uma vez deixar bem claro para os educandos que o desenvolvimento da competência gramatical deve ser aprimorado dentro e fora do ambiente escolar, com vistas a fazer com que ela represente um bem cultural, aumentando assim o poder de persuasão daqueles que utilizam a língua como instrumento de interação. Contudo, os alunos não devem sentir que as regras gramaticais lhes são impostas como uma obrigação em todas as situações linguísticas.


Por Vânia Duarte
Graduada em Letras