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Agir segundo os princípios éticos... pais e educadores como mediadores na construção da moralidade?

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A construção da moral deve ser entendida como um processo intenso e complexo

Não raro, o sentimento que prevalece entre pais e educadores ao se sentirem elogiados diante do bom comportamento dos filhos e/ou educandos é tão somente o de intensa satisfação. Nada mais natural, pois de acordo com o senso comum são eles os grandes responsáveis por tal aspecto, ou seja, o de garantir que ajam de acordo com a moral e os bons princípios frente ao grupo do qual fazem parte.

Longe de quaisquer questionamentos, são eles sim as figuras centrais nesse processo. Contudo, há que se considerar que mesmo compartilhando com esse notável apoio, a criança, o ser humano, representa o protagonista da história, pois de acordo com seu amadurecimento pessoal, bem como com os dilemas morais com os quais convive, vai, de modo paulatino, construindo desde cedo um conjunto de valores que norteia sua conduta.

Segundo estudiosos, tais como Jean Piaget, a concepção de justo e injusto tem uma forte ligação com o desenvolvimento cognitivo, pois de acordo com suas experiências, a criança desenvolve diferentes compreensões acerca das regras, adquirindo assim cada vez mais condições de se relacionar com elas de maneira crítica. Como exemplo disso, suponhamos alguém questionando o fato de as punições serem as mesmas para alguém que rouba um pão para saciar sua fome, simplesmente por não ter condições de comprá-lo e um bandido que rouba e mata. 

Tais apontamentos nos alertam para o fato de que quando a criança, ainda pequena, tende a criar o que chamamos de moral heterônoma, apenas obedecem às regras por respeito a uma autoridade maior, sem, todavia, refletir sobre esta ou aquela tomada de atitude e suas possíveis consequências.
Como casos ilustrativos podemos citar o fato de um irmão não brigar com o outro, pedir em vez de tomar bruscamente, entre outros. 
Nesse sentido, torna-se fundamental a participação de pais e professores no intuito de ensinar a criança a agir de maneira cooperativa em relação ao outro. O diálogo, nesse ínterim, é de fundamental importância.

Em se tratando do ambiente escolar, no intuito de fazer com que os educandos criem o que Piaget chama de moral autônoma, torna-se relevante que o educador utilize situações que gerem desequilíbrios na forma de pensar de toda a turma, como, por exemplo, o debate acerca de questões pertinentes. Dessa forma, contando com a mediação do professor em conversas orientadas, eles passam a conhecer a perspectiva do outro, ampliando assim, a noção de valores e o instinto de autonomia.

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Ainda ressaltando acerca das ideias piagetianas, vale mencionar que além do aspecto cognitivo, outra mola-mestra move a construção da moral: a afetividade. É por meio dela que estudos têm avançado cada vez mais, partindo do princípio de que o desenvolvimento da moralidade se define também como a ética do cuidado, centrada na reflexão que se faz sobre as relações entre as pessoas. Assim sendo, noções relativas ao senso de justiça passaram a ser vistas apenas como um dos muitos elementos mediante tal construção, pois outras virtudes também estão em jogo, tais como a generosidade, a compaixão e a lealdade – fatores esses elementares à construção da chamada moral autônoma. 

Para bem exemplificarmos como tais virtudes se manifestam, citamos exemplo de uma determinada pessoa que, ao se deparar com outra fazendo algo errado, opta por omitir e considera para si mesma que aquilo que presenciou, mesmo retratando uma infração, não merece ser repassado a outras pessoas. Assim, no intuito de enfatizar essa questão, citamos as palavras de Ulisses Araújo, docente da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP):

O desenvolvimento moral é um sistema dinâmico, um processo não só cognitivo, como afetivo, social e cultural. Por mais críticos e conscientes que jovens e adultos sejam em relação à moralidade, ninguém escapa de oscilar entre a moral heterônoma e autônoma em seus atos.   

Em face desses pressupostos, havemos de convir que o processo de construção da moralidade, longe de ser considerado como algo inato, representa algo que vai se aperfeiçoando e se moldando ao logo do tempo, o qual começa desde a infância, torna-se mais intensificado durante a adolescência e se perpetua pela fase adulta.

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola