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“Todo conhecimento começa num sonho. O conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se ensina. Brota das profundezas da terra. Como mestre só posso então lhe dizer uma coisa: conte-me seus sonhos para que sonhemos juntos". Rubem Alves
A primeira frase proferida por esse grande mestre “Todo conhecimento começa num sonho”, rende-nos alguns questionamentos instigantes: será que todos aqueles alunos, sentados nas carteiras, têm mesmo um sonho? Ou será que ali estão apenas por imposição dos pais? Será que já se descobriram enquanto pessoas? E mais, ao final dessas célebres palavras, outro questionamento, não menos importante, ainda paira: será que os educadores estão dispostos e até mesmo preparados para compartilhar, cultuar, todos esses sonhos (se é que eles existem) com os educandos?
Partindo de posicionamentos como esse aqui firmado, é que daremos seguimento à discussão que ora se faz presente, especialmente voltada para a questão de que o ato de ensinar deve, ou pelo menos deveria, ir muito além da mera transmissão de conteúdos (haja vista que tal procedimento abarca dimensões mais extensas). Em outras palavras, é necessário não somente apreendê-los, mas também aprender como fazer uso deles na prática, na vivência do dia a dia. Assim, atentemo-nos às palavras de outra personalidade, desta vez um empresário, manifestadas em uma reunião do Conselho nacional de Educação:
“Precisamos de gente que pense, que tome iniciativas, expresse pensamentos e ideias, saiba ouvir o outro e trabalhar em grupo”.
Por meio de tais afirmações temos respaldo suficiente para sustentar os posicionamentos aqui defendidos, ou seja: é preciso repensar critérios, com vistas a ampliar a noção de um cenário onde apenas um ensina e os demais aprendem. A realidade urge, as transformações se fazem constantes e a preparação para a vida, a preparação para o enfrentar de obstáculos e, sobretudo, o saber como enfrentá-los são essenciais.
Trabalhar as competências – seria essa a expressão mais cabível neste momento – é necessário, no sentido de não oferecer ao aluno um conhecimento pronto e acabado, mas sim de auxiliá-lo a buscar a melhor forma para chegar até a esses conhecimentos. Assim, faremos referência a algumas das competências previstas na avaliação do Enem, uma vez expressar por:
* Ler e interpretar textos escritos na língua materna;
* Produzir textos orais e escritos para diferentes contextos e interlocutores.
No tocante à primeira delas, não basta apenas que o aluno pegue um texto e o leia apenas por ler. A leitura deve ir muito além de um aglomerado de palavras, orações e períodos, todos dispostos de forma ordenada. É preciso descobrir a verdadeira mensagem contida por detrás das palavras e compreender que todo texto possui uma finalidade, uma mensagem a qual é transmitida para seu interlocutor, ou seja, no discurso nada se apresenta como aleatório.
Nesse sentido, explorar as diferentes linguagens, tais como gráficos, tabelas, pinturas, esculturas, símbolos e outras manifestações artísticas representa um excelente artifício, haja vista que as inferências delas extraídas permitem que os alunos estabeleçam a relação existente entre essas linguagens e o contexto histórico.
Fazendo referência à segunda, vários são os contextos em que estabelecemos situações comunicativas, as quais se prestam também a diferentes finalidades discursivas. Ou seja, existem momentos em que expressamos nossas ideias, nossos pensamentos, apresentamos nossos argumentos acerca de um determinado assunto (pois assim nos mostramos seres não alienados, dotados de posicionamentos, de posturas definidas). Um aluno, no entanto, estará preparado para a vida, para defender seus argumentos diante de uma situação específica? Frente a essa realidade é que reiteramos o trabalho em grupo, a realização de seminários, de debates, com vistas a dar propulsão a tal habilidade – a de argumentar, de tomar decisões, de se posicionar, haja vista que essa competência deve prevalecer para o trabalho, para a convivência interpessoal, entre outras circunstâncias.
Os projetos didáticos tendem a imperar como fortes aliados na construção dessas competências, essenciais à formação dos educandos, não só a cognitiva, mas também a formação pessoal. Assim, suponhamos que o projeto esteja voltado para a criação de um abaixo-assinado para a criação de uma faixa de pedestres em frente à escola, uma vez constatada a falta de segurança tanto para a comunidade em geral quanto para os próprios alunos. De tal modo, o espírito de participação coletiva, de empenho e de transformação da realidade, demonstra estar atuante em uma das competências também propostas – a de atuar, de maneira criativa, na melhoria do mundo em que vivemos.
Mediante as elucidações aqui ressaltadas, notamos quão intensa se mostra a necessidade de preparar cidadãos para o enfrentamento da vida lá fora. Contudo, ainda há muitas outras formas de fazer com que tal intenção realmente se torne materializada, bastando para isso um pouco mais de empenho de toda a comunidade escolar, começando, sobretudo, pela figura do educador.
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras