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Desde muito tempo vários professores de História se preocupam em tornar a sua disciplina interessante e relevante para as várias turmas e alunos que aparecem ao longo de sua carreira. Não raro, reclamam da resistência que muitos dos alunos têm em participar efetivamente das aulas. Resistência essa que passa pela incompreensão em lidar com um área do conhecimento ligada ao passado, ligada a tempos distantes à realidade vivenciada por esse mesmo aluno de ensino fundamental, médio ou superior.
Muitas vezes, frustrados com tal dificuldade, os professores passam a creditar tal situação à sua incapacidade de aplicar técnicas que possam tornar suas aulas mais atraentes. Não raro, buscam na Didática uma forma de acumularem um conjunto de habilidades, procedimentos e técnicas capaz de reverter tal problema. Contudo, isso nos traz uma importante questão: dar uma boa aula de História consiste apenas no acúmulo desses procedimentos a serem oferecidos pela Didática?
Visando responder a essa questão, notamos que o espaço da Didática esteve pouco prestigiada no meio acadêmico. Por muito tempo, especialmente a partir do século XIX, a Didática deixou de ocupar as preocupações daqueles que produziram o conhecimento histórico. Nesse meio tempo, como muito bem salientou Jorn Rüsen, a Ciência da História se centrou no desenvolvimento das questões inerentes ao processo de investigação do passado. Tal escolha, por sua vez, alimentou uma separação entre o âmbito da pesquisa em História e do ensino de História.
Como resultado, percebemos que a Didática ficou visivelmente desprestigiada nos programas de pós-graduação e nas grades curriculares de História. Dificilmente tínhamos à disposição a existência de historiadores amplamente capacitados para pesquisar e ensinar no campo da Didática. Chegamos até o ponto de questionar se a Didática e o Ensino de História não seriam matérias melhores tratadas pela Pedagogia. Sendo assim, alcançaríamos a estranha situação em que a transmissão do saber histórico não seria uma preocupação daqueles que escrevem a História.
Felizmente, nas últimas três décadas, observamos uma renovação da Didática. Neste novo olhar, surgiram historiadores preocupados com a transmissão do conhecimento histórico extrapolando a antiga ideia de que a Didática da História só tem a ver com a História transmitida. Partindo da contribuição de autores como Klaus Bergmann, Jorn Rüsen, Isabel Barca, Maria Auxiliadora Schmidt, vemos que a Didática retorna ao seu lugar como questão de séria preocupação por parte dos historiadores.
De tal forma, mesmo ainda sendo muitos os desafios, a Didática passa a ser bem mais do que uma disciplina comprometida com o desenvolvimento apenas de técnicas de ensino. Ela também trata de como a História é repassada em espaços sociais que extrapolam os limites da escola. Investiga como o passado é usado como referência na constituição de identidades, discursos políticos e representações que penetram diferentes âmbitos da sociedade.
Sendo assim, longe de ser um interesse menor, a Didática passa a retomar um lugar que há muito tempo orientava a produção do saber histórico. Afinal, não podemos acreditar que o conhecimento sobre o passado se faz necessário pela sua mera existência. Na medida em que o passado é investigado, somos impelidos por demandas do presente e pelo fundamental interesse de transmitir, da melhor forma possível, esse saber capaz de orientar o presente e permitir novas projeções sobre o porvir.
Por Rainer Gonçalves Sousa
Colaborador Canal do Educador
Graduado em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG
Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG