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Educação: Arte, Política e Conhecimento?

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Um livrinho (o diminutivo refere-se à dimensão física da obra) simpático e que veio à luz em 1994, mas que ainda é atualíssimo é o “Representações e reflexões sobre o ‘bom professor’”, que Mary Rangel publicou pela Editora Vozes.

Trata-se de um estudo que se fundamenta “em pesquisa, que constituiu tese do concurso para professor titular de Didática da Universidade Federal Fluminense” (Orelha).

O livro apresenta as representações, seguidas de reflexões da autora, de vários sujeitos que habitam os espaços da educação escolar, entre eles, estudante de escola particular e de escola pública, pai de estudante de escola particular e de escola pública, servente de escola particular e de escola pública.

Entre as representações registradas, uma chama a atenção por ser da lavra de Paulo Freire, o educador brasileiro que se dedicou à educação e a quis como processo de libertação do homem e da mulher. Paulo Freire confessa: “Para mim, a educação é simultaneamente um ato de conhecimento, um ato político e um ato de arte...” (p. 35).

A educação é um ato de arte, penso, não apenas por exigir a criação e a recriação constantes por parte de quem a faz, vivenciando o processo ensino-aprendizagem, mas, sobretudo, por ser o caminho a ser seguido pelo humano rumo à própria humanização. De fato, fazer de si uma obra de arte (já que o homem e a mulher são o que a educação fazem deles) constitui sério desafio para quem quer não apenas estar na vida, mas ser vida. E singular, única, irrepetível, suficientemente significativa para deixar neste mundo as marcas de quem atuou visando deixá-lo melhor para as gerações futuras.

A educação é um ato de conhecimento porque implica não apenas a memorização e a “decoreba” das matérias que, normalmente, compõem os currículos da escolarização, mas, principalmente, porque implica a avaliação contínua dos próprios conceitos, idéias, teorias, informações e saberes de que cada um é portador. Nesse processo, o conhecimento já consolidado e o saber em construção se entrecruzam, se interpenetram e se complementam para resultar na renovação daquilo que podemos chamar de mentalidade pessoal. Quando o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa 2006) revela que o Brasil não vai bem em ciências, leitura e matemática, temos de nos perguntar: Onde está o problema?

Para alguns, a culpa é do próprio estudante, que deixa de fazer o óbvio: estudar. Para outros, os responsáveis pelos maus resultados nessas áreas de conhecimento são os profissionais da educação, os quais também não têm realizado o que lhes compete: ensinar. Para outros tantos, são os gestores do sistema educacional que devem ser apenados pelo nosso fracasso escolar. Pensando mais detidamente: esses julgamentos dizem toda a verdade?

A pergunta acima nos faz visualizar, ainda que, grosso modo, as dimensões estruturais e conjunturais de nossa sociedade. Nessa perspectiva, uma depende da outra. Não podemos esperar conjuntura favorável no âmbito da educação se na esfera estrutural da sociedade as dimensões econômicas, políticas e culturais enfrentam situações adversas as mais variadas. A injustiça social não está do lado de fora da escola, mas atravessa-a e interfere no rendimento dos sujeitos que fazem e colhem os frutos da escolarização. A dimensão política, que vê no cidadão apenas um doador de votos, senta na carteira e se coloca à frente do quadro negro, e enegrece mesmo as possibilidades de o cidadão ou candidato a se sentir portador de poder, digno e capaz de fazer bonito quando o assunto é construção e produção de conhecimento. Por fim, nosso raquitismo cultural também interfere, tanto no ensino, quanto na aprendizagem. Sem condições econômicas suficientes, sem participação política nas decisões sobre a injustiça que nos golpeia e sem o aprimoramento espiritual possibilitado pela cultura, como nos interessaremos pelas ciências, pela matemática e pela literatura e assemelhados?

Na esteira desse apatismo generalizado, em meio a uma sociedade que cultua o dinheiro como fonte de poder e que relega ao segundo plano o saber como fonte de potencialidade humana, a educação como ato de conhecimento deixa de ter prestígio. Por isso, muitos desistem dos processos formativos realmente significativos e se rendem à tentação de estudar para ter nota, para “passar de ano”, para, de passagem em passagem de ano, chegar ao canudo e com ele alimentar a ilusão de que é portador de algum saber.

Essa visão da educação certificadora, porque cabe ao mercado selecionar os que têm habilidades e competências profissionais para se inserir no mercado de trabalho, parece produzir um reducionismo de monta quando o assunto é formação escolar. Antes disso não estaria o desenvolvimento humano a ser impulsionado em nossas escolas, de modo que o humano bem formado também pudesse ser cidadão e trabalhador?

As considerações anteriormente registradas estão em sintonia com a idéia de que a educação é um ato político. E assim pode ser compreendida porque ela implica sempre a pressuposição de um modelo societário a ser perseguido pela educação formal, bem como um modelo humano a ser formado. Nesse sentido, se já está decidido que o que vale é o ter, para que batalhar por conhecimento e saber? – pensam os incautos que julgam a vida pelas imediatidades da sociedade pragmática e utilitarista que construímos e com a qual temos de nos virar, desde as suas estruturas, se é que o sucesso em matemática, leitura e ciências ainda permanece como uma meta elementar a que a sociedade brasileira deve se dedicar.

Para isso podem contribuir o “Bom Professor” de que Mary Rangel fala em seu livro. Mas, “Bons Professores” não caem do céu. Eles devem ser formados, respeitados e incentivados concretamente pela sociedade que deles necessita, desejo que permanece como tal enquanto a nossa opção como povo for a de manter as estruturas injustas e aberrantes de nosso modelo societário.
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Referência bibliográfica:
RANGEL, M. Representações e reflexões sobre o 'bom professor'. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

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Por Wilson Correia
Colunista Brasil Escola