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O livro infantil possui características estéticas que envolvem a literatura de uma forma geral e, ainda que seja peculiarmente definido pelo destinatário, a obra infantil pode levar o leitor a uma abrangente compreensão de sua existência.
Nessa perspectiva, pode-se afirmar que em qualquer possibilidade de delimitar o conceito de literatura infantil existirá o parâmetro de identificação do leitor com o texto que manuseia.
No entanto, sabemos que embora o texto seja consumido pela criança, é o adulto que elabora a obra. Mesmo que não seja o público alvo, como o livro Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, ao longo dos tempos, algumas histórias para adultos cativam o público infantil.
Na literatura brasileira, foi Monteiro Lobato o primeiro autor que deu voz às crianças por meio dos personagens, com a preocupação de ressaltar características infantis como curiosidade, criatividade, teimosia e imaginação. E fez compreender que não basta apenas falar sobre a criança, mas que é preciso ver o mundo através dos seus olhos, ajudando-a a ampliar esse olhar nas mais variadas direções.
As linguagens simples, cotidianas, com frases curtas e com uso de recursos como a onomatopeia, divertem o leitor infantil e chamam sua atenção. É possível dizer que essas estratégias de adaptação são necessárias para adequar a situação da história ao sujeito que vai vivenciá-la, ou seja, para colocar a criança em sintonia com o texto.
O psicólogo russo Liev Vygotsky revelou que o diálogo facilita o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da atenção por meio da interação social. Vygotsky acentuou ainda que palavra e ação estão completamente fundidas para a criança. Assim, ao arranjar a sequência de palavras, ela organiza o mundo para si e toma consciência do que sabe, pensa e sente.
Na corrente construtivista, o suíço Jean Piaget, em suas concepções, buscava fatores universais do desenvolvimento humano para as suas teorias. No livro “A representação do mundo real da criança”, de 1973, Jean Piaget explorou as explicações da infância para o funcionamento do universo - um exemplo, quando alguém pergunta a um aluno da pré-escola o que é um ser vivo. A reposta pode ser tudo o que se move ou caminha por conta própria. Portanto, na mente de uma criança, o vento pode ser uma coisa viva e não simplesmente um fenômeno da natureza.
O pensamento da criança e as histórias a ela dirigidas também podem ser representados por meio da observação do desenho. Segundo Piaget, até aproximadamente sete anos de idade, a criança pensa e vê o mundo do mesmo modo que desenha. Os educadores que ministram aulas para crianças até essa faixa etária podem ter familiaridade com essa afirmação.
Na área da literatura, através da ilustração, também é possível compreender aspectos importantes do desenvolvimento infantil. O livro “O pequeno príncipe”, de Saint-Exupéry, mostra a oposição entre o realismo intelectual e o realismo visual quando o narrador-criança expressa perplexidade aos adultos que pensaram que o desenho mais importante da sua vida – uma jiboia comendo um elefante – fosse apenas um chapéu.
Essa estreita ligação entre obra e leitor deve incitar os educadores a fazerem um esforço para compreender o desenvolvimento e a aprendizagem, para que a criança possa se tornar um leitor competente.
Em tempo, é importante ressaltar que a mesma lógica que a criança utiliza na linguagem está presente no desenho. E que estímulos e recursos são importantes para que ela possa se desenvolver, alimentar seus pensamentos, sua imaginação e compreender a realidade com a possibilidade de desdobramento de suas capacidades afetivas e intelectuais.
Eliane da Costa Bruini