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Quem é profissional da área de Educação Física já deve ter ouvido falar na apropriação de autores clássicos da Antropologia, e na sua aplicação em nossa disciplina. É provável que o caso mais famoso seja o do competentíssimo Jocimar Daólio, professor da Unicamp, que se utiliza de Marcel Mauss e de Geertz para pensar e repensar a Educação Física escolar.
No entanto, há outra vertente da Antropologia que vem sendo apropriada não apenas pela Educação Física, mas pela educação em geral: os estudos culturais, encabeçados principalmente pela obra de Stuart Hall. Em linhas gerais, esse autor entende a cultura como o principal fator explicativo dos fatos sociais constituintes da sociedade contemporânea.
Aos estudantes e estudiosos de Antropologia, o termo “estudos culturais” pode parecer estranho e lembrar alguns estudos clássicos da linha de Boas e seus discípulos, como Ruth Benedict e Magareth Mead. Por isso, o termo em si causa dúvida. Até porque a cultura é o objeto de toda a Antropologia e, de modo algum, restrita à vertente dos estudos culturais.
Na Educação Física, essa ideia tem sido levada adiante principalmente por Marcos Garcia Neira e Mário Luiz Ferrari Nunes. O livro “Educação Física, Currículo e Cultura” é a carta de intenções preconizada pelos autores. Nesse caso, o currículo é apresentado como alvo de reformulação. Segundo os autores, é necessário que o professor avalie o ambiente e as crianças com as quais ele lida, para que assim ele possa identificar quais conteúdos trabalhar, bem como o método com que devem ser desenvolvidos. A preocupação em trabalhar conteúdos próximos aos alunos implica, necessariamente, em dar significado às práticas corporais trabalhadas como conteúdos. Na opinião dos autores, qualquer prática corporal que não ganhe significado, não pode ser aprendida, no sentido geral do termo.
Nesse sentido, o que se propõe é a flexibilização do conteúdo, de acordo com a localização espacial (se periferia, centro, campo, etc.), com a camada social, com as práticas corporais que são exercidas cotidianamente durante o tempo de lazer, etc.
Para saber mais:
NEIRA, M.G., FERRAZ, M.L.N. Educação Física, Currículo e Cultura. São Paulo: Editora Phorte, 2009.
Por Paula Rondinelli
Colaboradora Brasil Escola
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Mestre em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Doutoranda em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo - USP