A Segunda Guerra Mundial é um dos assuntos mais estudados e que possui maior repercussão na chamada “cultura pop”. Músicas, filmes, séries de TV e jogos são constantemente produzidos utilizando a Segunda Guerra Mundial como temática. Isso abre um importante leque de opções para se estudar o assunto de maneira não convencional – desde que se contextualize o assunto de maneira apropriada. Outra forma não muito convencional de se estudar a temática é
por meio da abordagem das propagandas produzidas na época da guerra.
As propagandas que foram produzidas durante a Segunda Guerra Mundial possuíam objetivos claros: apresentar uma visão demonizada do inimigo e destacar os aspectos negativos de seus regimes. Além disso, essas obras buscavam ressaltar o nacionalismo na própria população, com o objetivo de incentivar as pessoas a contribuir para a guerra.
Apresentaremos neste texto diferentes curtas-metragens produzidos nos Estados Unidos e na União Soviética, seguidos de breves comentários. Trata-se apenas de uma sugestão de aula a partir do uso desses curtas-metragens. A abordagem e a condução da aula ficam a critério de cada professor.
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Os curtas-metragens americanos selecionados para esta aula são Education For Death e Der Fuehrer’s Face. Como curta soviético, separamos o título Fascist Boot Won't Trample the Soil of Our Motherland, como exemplo principal.
Outras sugestões: The Ducktators (americanos). A Journal of Political Satire № 2 (soviético).
Education for Death: The Making of the Nazi foi um curta lançado pela Disney, em 1943
Esse curta-metragem foi produzido pela Disney e lançado em janeiro de 1943 com o nome Education for Death: The Making of the Nazi. Foi difundido aqui no Brasil apenas como Educação para a morte. Esse curta-metragem foi baseado em um livro de mesmo nome, escrito pelo autor americano Gregor Ziemer. Hitler’s Children (Crianças de Hitler) foi outro curta-metragem baseado nesse livro e publicado em 1943.
O curta-metragem Education for Death acompanha brevemente a vida de Hans, um alemão que nasceu no período nazista e cresceu sob a égide e a doutrinação do regime. O curta mostra todo o processo educacional de Hans, cujo único objetivo era transformá-lo em um soldado obediente às ordens de Hitler.
O curta apresenta o pouco apreço de Hans (e dos nazistas) pela democracia e mostra como a educação oferecida pelos nazistas preparava os alemães para dominar o mundo e para destruir os valores do mundo ocidental, transmitidos pela arte, pela cultura e pelo cristianismo. No final desse processo de educação, Hans torna-se um soldado nazista convicto, sem vontades nem aspirações. Assim, a educação recebida por ele foi caracterizada como uma “educação para a morte”.
Em Der Fuehrer’s Face, produzido pela Disney em 1943, o Pato Donald é apresentado como cidadão da Alemanha Nazista
Der Fuehrer’s Face é outro curta-metragem da Disney, lançado em 1943. A tradução de seu nome para o português é A Face do Führer. Esse curta-metragem apresenta o personagem Pato Donald como um cidadão da Alemanha Nazista. A imagem do regime nazista apresentada retrata a falta de alimentos, a doutrinação constante, que forçava o personagem a gritar “Heil Hitler” a todo momento, além da carga exaustiva de trabalhos.
Existem versões legendadas desse curta-metragem disponíveis, mas é importante ressaltar a perda de sentidos gerada pela tradução. No desenho, a Alemanha é apresentada nas traduções em português como “Nazilândia”, mas, em inglês, o termo utilizado é “Nutzi Land”, composta por duas palavras: nuts (louco) e nazi (nazistas). Esse jogo de palavras deixa uma crítica bem sutil, mas relevante.
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Ao final do curta, toda a trajetória de Pato Donald na Alemanha Nazista é apenas de um pesadelo, e ele acorda comemorando o fato de ser um cidadão americano. Há nessa parte uma exaltação dos valores da sociedade americana, como a liberdade.
Nesse curta soviético produzido pela Soyuzmultfilm, em 1941, os nazistas são apresentados como porcos
Esse curta-metragem soviético foi produzido em 1941 e foi dirigido por Ivan Ivanov-Vano e Alexander Ivanov. A tradução livre do título em inglês é Bota fascista não pisará o solo da nossa pátria-mãe. Esse foi um de uma série de curtas-metragens produzida pela União Soviética durante a luta contra a Alemanha Nazista.
O curta apresenta uma bota com a suástica estampada marchando por diversos países da Europa, como forma de apresentar o expansionismo nazista. Durante essa marcha, são mostrados nazistas bombardeando diversos locais da Europa, e é apresentada uma mensagem sobre os nazistas: “o fascismo trouxe destruição, fome e morte para milhões de pessoas”.
A bota nazista – agora apresentada como um porco fascista – caminha sorrateiramente em direção à União Soviética. Aqui vale uma observação: a forma sorrateira com que o porco se aproxima da União Soviética passa uma ideia de traição nazista. Para entendermos isso, é importante considerarmos que Alemanha e União Soviética estavam sob efeito do Pacto de Não Agressão.
Por fim, quando o soldado nazista pisa em solo soviético, ele é imediatamente surrado. Em seguida, a mensagem “o Exército Vermelho erradicará os bárbaros fascistas da face da terra” é colocada na tela e uma canção começa a ser tocada. A ideia central desse vídeo é apresentar o inimigo de maneira demonizada e instigar o sentimento patriótico de quem o assiste.
Contextualização histórica
Naturalmente, a compreensão desses curtas-metragens por parte dos alunos só será eficaz se houver uma boa contextualização histórica sobre a Segunda Guerra Mundial. Assim, dentro da proposta trazida pelos curtas selecionados, é importante que o aluno possua um conhecimento prévio sobre a história do Nazismo.
Como se trata de Segunda Guerra Mundial, é importante que o aluno entenda todo o processo de expansão territorial dos nazistas pela Europa – motivo determinante para o início da Segunda Guerra Mundial. Por fim, deve-se compreender a luta entre soviéticos e alemães, que marcou a Segunda Guerra Mundial e iniciou-se em 1941, após os alemães darem início à Operação Barbarossa.
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Além de contextualizados, é importante que os curtas-metragens sejam problematizados e analisados, abordando-se a forma – muitas vezes jocosa – como o adversário é apresentado, as palavras de ordem e a ideia central apresentada.
Avaliações
Uma boa forma de se avaliar esse tipo de aula é solicitando a elaboração de uma resenha, na qual o aluno apresente sua interpretação sobre o que assistiu. Essa interpretação deve ser embasada no contexto histórico que foi apresentado em sala de aula. A partir do texto produzido, pode-se aferir o que o aluno aprendeu sobre o assunto, assim como sua capacidade de sintetizar ideias e de interpretar imagens.
Por Daniel Neves
Graduado em História