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Fatos históricos em Raul Seixas

Por mostrar eventos da história da humanidade, reais e fictícios, a música Eu nasci há dez mil anos atrás, de Raul Seixas, é um ponto de partida para debater fatos históricos.
Selo comemorativo do Rock in Rio, mostrando Raul Seixas e Cazuza *
Selo comemorativo do Rock in Rio, mostrando Raul Seixas e Cazuza *
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Uma forma descontraída para abordar o tema fatos históricos com os alunos em sala de aula pode ser encontrada na música Eu nasci há dez mil anos atrás, de Raul Seixas. A definição do que é um fato histórico geralmente expõe algumas discordâncias existentes na historiografia, e levantar essas questões com os alunos possibilita um maior esclarecimento da questão.

As discordâncias incidem principalmente em como definir um fato histórico. Seria qualquer evento do passado um fato histórico? Haveria hierarquizações de importâncias para defini-los? Ou ainda eventos religiosos podem ser considerados como fatos históricos?

A música expõe uma história contada por um velho músico de rua que pretende expor eventos ligados à história da humanidade. Seria interessante o professor apresentar a música aos alunos, acompanhada da letra, para que eles pudessem entender melhor o conteúdo da canção. Depois, pode ser pedido para os alunos apontarem o que eles consideram como fatos históricos entre os eventos cantados por Raul Seixas.

Obviamente que o professor deverá realizar o debate de acordo com o que for apresentado pelos alunos. Aqui, neste texto, serão apresentados alguns possíveis encaminhamentos da discussão, que podem ser úteis ao debate.

Observe os trechos seguintes:

Vi Conde Drácula

Sugando sangue novo

E se escondendo atrás da capa

Eu vi!... (final da 4ª estrofe)

e

Eu fui testemunha

Do amor de Rapunzel (início da última estrofe).

Nos trechos, o compositor expõe dois exemplos de eventos que não se constituem como fatos históricos, por serem passagens de obras literárias ou mesmo temas da cultura popular de países europeus. Mesmo que tais obras literárias possam ser consideradas como fontes históricas, elas não constituem um fato histórico.

Nos trechos abaixo, as observações são distintas:

Eu vi as bruxas pegando fogo

Pra pagarem seus pecados

Eu vi!.. (2ª estrofe)

e

Eu vi Zumbi fugir

Com os negros prá floresta

Pro Quilombo dos Palmares

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Eu vi!... (5ª estrofe)

e

Eu vi o sangue

Que corria da montanha

Quando Hitler

Chamou toda Alemanha

Vi o soldado

Que sonhava com a amada

Numa cama de campanha (6ª estrofe)

Os três trechos possibilitam apontar alguns fatos históricos: o assassinato de mulheres acusadas de bruxaria durante a vigência da Inquisição; a criação do Quilombo dos Palmares e a liderança de Zumbi frente aos escravos fugidos; os milhões de mortos produzidos após a deflagração da II Guerra Mundial; e a vida cotidiana dos soldados durante as guerras.

Apesar de nem todos os exemplos citados serem eventos que podem ser colocados cronologicamente, de forma exata, no tempo, como o caso da vida dos soldados, eles podem ser tratados como fatos históricos. Isso por representarem eventos possíveis de serem estudados pela história e também porque sua existência e realização podem ser comprovadas.

Outra possibilidade de debate surge com o trecho a seguir:

Eu vi Moisés

Cruzar o Mar Vermelho

Vi Maomé

Cair na terra de joelhos

Eu vi Pedro negar Cristo

Por três vezes

Diante do espelho

Eu vi!...

Os eventos tratam de passagens bíblicas e, de forma estrita, não podem ser considerados como fatos históricos, por não haver possibilidades de comprovação além do conteúdo do livro judaico-cristão. Entretanto, são eventos constantes da história das religiões judaicas e cristãs e representam momentos importantes para elas. Mas são eventos que são comprovados através da fé, e não através dos instrumentos da ciência histórica.

A música de Raul Seixas ao mesclar fatos históricos, passagens literárias e eventos religiosos pode ser um interessante ponto de partida para o debate sobre o que é um fato histórico.

* Crédito da Imagem: Neftali e Shutterstock.com.


Por Me. Tales Pinto