A nossa sugestão de aula sobre mídias e divisões sociais mostrará como as divisões de classes podem ser facilmente percebidas em meios midiáticos. O objetivo é realizar uma abordagem crítica e prática sobre as teorias de classes.
Contextualizando: relação entre mídias e contextos sociais
Os estudos socioeconômicos são de grande importância no mundo financeiro, pois servem como ferramenta de medição da realidade material dos indivíduos e são usados como parâmetros por diversos segmentos de nossa sociedade. A categorização de grupos que possuem condição econômica e status social semelhantes, o que grande parte dos estudos socioeconômicos dedica-se a fazer, foi chamada de divisão de classes sociais. Os critérios utilizados para a definição das classes são diversos, mas a condição material, como foi abordado pela perspectiva materialista histórica de Karl Marx, que é amplamente utilizada ainda hoje, ainda é vista como a variável de maior peso.
Também não é segredo que a divisão de classes é utilizada amplamente pelos meios de comunicação e mídia na construção de estratégias de abordagem de público. Isso quer dizer que as formas de abordagem estão ligadas a características predefinidas e associadas a certos aglomerados sociais. Invariavelmente, a condição econômica é a característica mais visada pelo mercado midiático, que busca vender seu produto e o produto de outros.
O estudo dos meios de comunicação é inegavelmente crucial diante de nossa realidade globalizada e intimamente conectada. A comunicação, ou seja, o ato de transferir informação para um indivíduo ou grupo para outro, é algo tão comum que, dificilmente, damo-nos conta do que acontece ou como o ato se configura. Um dos autores mais importantes da área dos estudos dos meios de comunicação, o canadense Harold Innis, afirmou que as formas que as organizações de mídia utilizam em uma sociedade influenciam fortemente as demais organizações. Isso quer dizer que sociedades que dispõem de meios de comunicação mais arcaicos, como civilizações mais antigas, têm grande dificuldade na expansão de seu domínio cultural.
Nesse contexto, podemos visualizar amplamente a noção de indústria cultural do alemão Jürgen Harbemas, isto é, a produção de “produtos culturais” em larga escala é motivada pela enorme possibilidade de geração de renda advinda do consumo das massas. Logo, a produção midiática na TV, nas rádios, nos jornais e revistas busca proporcionar um produto consumível direcionado a segmentos específicos de uma população.
Sugestão de aula: a teoria de classes nas mídias impressas
É a partir dessa perspectiva que a nossa proposta de aula será construída. O objetivo é que seja possível proporcionar aos alunos formas críticas de observação de seus meios de comunicação, mostrando como estão dispostas as divisões utilizadas pelos meios de mídia, seus parâmetros e como isso se relaciona com seus objetivos em uma maior escala.
Felizmente, o assunto é bastante palpável. Revistas e jornais impressos são a forma mais clara de demonstrar os artifícios utilizados para direcionar produtos para determinados públicos. Lembre-se: o objetivo é demonstrar a divisão de classes que está intrinsecamente associada à produção midiática. Portanto, é preciso demonstrar como essa diferenciação é feita.
Como sugestão, indico que o professor leve para sala de aula exemplares de jornais e/ou revistas, tanto físicos ou em formato digital, que sejam claramente direcionados a diferentes segmentos da população. Para identificar essas diferenças, é preciso observar características como a linguagem utilizada, a diagramação (formato de letras, cores, disposição de noticias), conteúdo e a forma como esse conteúdo é apresentado.
Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
Utilize tabloides ou jornais que possuam linguagem mais acessível e que utilizem imagens chocantes de violência como forma de atrair a atenção de possíveis leitores. Normalmente, esses jornais lançam mão de manchetes rápidas e textos curtos, que exigem pouca reflexão de seu leitor, para atingir uma maior camada da população, geralmente associada às classes sociais mais baixas.
Jornais que utilizam textos maiores e de linguagem mais específica podem ser exemplos de um direcionamento para um público de maior escolaridade, o que é considerado uma característica de classes sociais de maior condição socioeconômica. Nesse caso, a linguagem mais formal e a diagramação padronizada, geralmente pautada em cores acinzentadas, tendem a passar uma imagem de seriedade e confiabilidade quanto às informações que tentam passar.
As revistas especializadas possuem uma linguagem altamente técnica, voltam-se para um público fechado e tratam de assuntos específicos, utilizando dialeto técnico que geralmente só é acessível àqueles que possuem maior especialização na área. Revistas especializadas em economia, medicina ou as grandes revistas acadêmicas podem ser utilizadas como exemplo de mídias voltadas para um público visto como “elitizado”, em virtude do alto grau de escolaridade.
Ao menos duas aulas deverão ser utilizadas se o objetivo é a apreciação crítica das mídias impressas. Caso o professor deseje também passar o filme que será proposto mais a seguir, acredito que uma terceira aula será necessária. Para apoio teórico, sugiro o texto “Teoria das comunicações de massa”, do autor Mauro Wolf¹, que trata da pesquisa sobre os meios de comunicação de massa e o consumo dos produtos midiáticos pelos diferentes segmentos sociais em função de diferentes características socioeconômicas e culturais.
Proposta de atividade
É preciso que, acima de tudo, o aluno possa relacionar o que aprendeu em sala de aula com o que presencia em sua realidade. Portanto, como atividade, proponha uma redação curta com o tema “A divisão de classes nos meios de mídia que consumo”. Especifique que o aluno deve construir um texto a partir da observação de sua convivência com a família e com o tipo de mídia que consomem. A partir disso, sugira um debate em sala de aula a partir da leitura de alguns textos de alunos.
Sugestão de Filme
Outra possível atividade extra seria a apresentação de filmes que tratem do assunto. No caso específico de mídias, o que considero ser mais apropriado e mais rico no quesito de qualidade seria o filme “Cidadão Kane”, de Orson Welles, 1941. O filme traz à tona os problemas relacionados com a profundidade dos impactos que as mídias possuem em nossas vidas. Aproveite a inquietação que o teor crítico do filme trará para a sala de aula e forme grupos de debate acerca do assunto trabalhado. Uma pequena redação individual ou mesmo escrita em grupo pode tornar-se uma ótima opção de avaliação da absorção das aulas acerca do assunto.
Por Lucas Oliveira
Graduado em Sociologia