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Três sugestões para a avaliação de Filosofia

A avaliação de Filosofia é um ponto delicado para os professores. Apresentamos três sugestões de como fazer uma avaliação integrada ao processo de aprendizagem.
O momento da avaliação de Filosofia pode ser uma oportunidade de aprendizado e de desenvolvimento
O momento da avaliação de Filosofia pode ser uma oportunidade de aprendizado e de desenvolvimento
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A avaliação é um ponto delicado para os professores de Filosofia. Muitas vezes nós sentimos que estamos indo contra a própria natureza da Filosofia ao estabelecer um modelo de verificação de aprendizagem duro, com alternativas certas e erradas, exigindo uma forma adequada de resposta. Isso tem a ver, entre outros fatores, com a forma como entendemos o momento da avaliação.

O momento da avaliação pode ser estimulante para os estudantes desde que o professor/a professora de Filosofia integre-o entre suas estratégias de ensino. Nós precisamos ver a verificação de aprendizagem como uma oportunidade de reforçar os pontos que não ficaram claros o bastante. Dentro dessa visão, ao estudante é dada a oportunidade de refazer a avaliação até que consiga um aproveitamento real dos pontos principais do conteúdo.

O desafio que nos é imposto é conciliar esse modelo que não vê a avaliação como ponto final do processo educativo, e sim como um ponto intermediário, ao modelo educacional obedecido por muitas escolas. Muitas de nossas instituições de ensino exigem que os educadores apliquem instrumentos de avaliação pré-formatados, alguns com questões de vestibular e concurso. Se essa estratégia pode funcionar para a memorização de conceitos, nomes de filósofos, títulos de obras e datas importantes, não contribui para o desenvolvimento da capacidade do estudante de pensar sobre o que está sendo estudado em relação à realidade em que está inserido.

Assim, até mesmo as filosofias políticas de Hannah Arendt e Michel Foucault, que são bastante atuais e escritas em linguagem contemporânea, podem parecer enfadonhas, pesadas e distantes. A forma como o estudante sabe que será avaliado influenciará sua relação com o aprendizado. Se eu, como estudante, sei que me será cobrado a data em que Michel Foucault nasceu, o título de sua principal obra e a definição de três termos desenvolvidos por ele, não me preocuparei em pensar além disso – afinal de contas, interessa-me apenas tirar uma boa nota, pois ela será definitiva e eu tenho que me preocupar em ter a menor quantidade possível de erros.

É importante que o estudante tenha conhecimento da história da Filosofia, mas que também consiga compreender os argumentos do autor, a estrutura do argumento, sua prática filosófica e, principalmente, que consiga desenvolver suas próprias questões em diálogo com ele. Uma boa avaliação permite que o professor/a professora esteja atento(a) não apenas à assimilação do conteúdo, como também à singularidade de cada estudante, manifesta por aquilo que move o seu pensamento.

Veja a seguir três estratégias de avaliação de Filosofia que podem contribuir para esse fim:

1) Escrita-base/ trabalho final:

Uma forma que eu uso para avaliar o desenvolvimento do estudante, e não o resultado, a fim de valorizar seus esforços é pedir, no início do ano letivo, uma escrita-base que será desenvolvida ao longo do ano. A nota atribuída compreenderá não apenas a correção dos termos, e sim a própria natureza da escrita e da pesquisa feita. Veja como eu desenvolvo, em passos:

1) Após a primeira aula, eu peço para os estudantes folhearem em casa seus livros de Filosofia e escolherem um tema com o qual se identifiquem. Aos estudantes que têm dificuldade na escolha do tema, sugiro temas mais gerais que poderão ser delimitados durante a escrita.

2) A partir da escolha dos temas, sugiro leituras específicas para cada estudante. A depender do tema, posso pedir para que eles façam o resumo de algum capítulo de uma obra filosófica relacionada.

3) Depois de dois meses que os estudantes começaram a pesquisa, marco um dia para que eles desenvolvam, em sala de aula, uma escrita a respeito do tema que escolheram. Permito que façam consulta aos textos estudados e aos seus cadernos.

4) Analiso os textos e devolvo aos estudantes com comentários e sugestões para dar continuidade ao texto. Não atribuo uma nota. Tiro uma cópia e guardo, para o caso de o estudante perder o original.

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5) A nova via do texto costuma ser entregue a cada quinze dias.

6) Ao fim de dois meses, ou seja, ao final de um bimestre, os estudantes fazem a entrega do texto que foi trabalhado até então. Atribuo uma nota tendo como referência não apenas o texto em si, mas também a participação do estudante no processo. Gosto de atribuir uma nota comparando a primeira escrita, feita em sala, com a escrita final.

7) No dia da entrega, os estudantes também realizam uma escrita em sala, sem consulta, sobre o tema, para que eu consiga perceber o quanto cada um conseguiu assimilar do conteúdo pesquisado e desenvolvido por ele durante dois meses. Considero importante essa escrita em sala e sem consulta para que eu possa fazer modificações na estratégia de acordo com cada estudante e perceber o que faltou ser compreendido.

8) Repito o processo durante todo o ano escolar. Recomendo que os estudantes continuem suas pesquisas, mas aceito caso queiram mudar de tema.

9) Ao fim do ano letivo, o último texto do ano é examinado por uma banca formada por outros professores de Filosofia (ou áreas afins) do colégio. A banca seleciona alguns textos (a depender da quantidade de turmas) para serem apresentados em um evento aberto à comunidade como forma de valorizar a produção dos estudantes.

2) Jogo de perguntas e respostas:

Para avaliar o conteúdo curricular, ou seja, aquele que ministrei nas aulas em conformidade com o MEC, costumo propor um jogo de perguntas e respostas. Costumo fazer assim:

1) Elaboro, com base no livro didático, materiais complementares e nas aulas, de 20 a 50 questões com alternativas;

2) Os estudantes devem responder às questões em casa e estudá-las;

3) Em sala, a depender da quantidade de pessoas por turma, faço uma divisão em grupos;

4) Sorteio questões para cada grupo e elas devem ser respondidas sem consulta.

5) Se um grupo erra, outro grupo tem a chance de responder.

Não costumo atribuir uma pontuação simbólica para cada acerto a fim de estabelecer um “grupo campeão”, mas isso pode ser feito se o professor/a professora acreditar ser uma boa forma de estimular a participação de todos. Outra possibilidade de execução é pedir para que os grupos elaborem em casa as perguntas que serão feitas aos colegas. O sorteio, nesse caso, não seria das perguntas, e sim de qual grupo responderá à questão. Por exemplo, o Grupo 1 está em sua vez de fazer a pergunta. O professor/a professora pode sortear entre os grupos 2, 3 e 4 qual deles deve responder.

3) Dicionário de Filosofia pessoal:

Uma estratégia que utilizo para acompanhar os estudantes em relação aos conceitos estudados em sala, se estão sendo bem compreendidos, é pedir que os estudantes façam um dicionário de filosofia pessoal. Isso funciona de forma bastante simples:

1) Cada estudante separa em seu caderno uma folha para cada letra do alfabeto.

2) Se eu ministro uma aula sobre Anaxímenes, por exemplo, peço para que os estudantes façam um verbete na folha reservada para a letra A, na qual deverão escrever sobre o filósofo. Se em uma aula sobre Kant, eu dou ênfase ao conceito de “autonomia”, peço que os estudantes façam um verbete explicando o que entenderam do termo.

3) Depois de um número específico de aulas, eu verifico os cadernos. Não costumo avisar qual será o dia em que farei essa verificação para identificar os estudantes que realmente estão desenvolvendo a tarefa processualmente e evitar que estudantes que não desenvolveram copiem de algum colega na véspera.

4) Quando é viável, peço para os estudantes fazerem um caderno separado, em brochura, para que eu possa ler com calma, fora do momento da aula.


Por Wigvan Pereira
Graduado em Filosofia