Todo professor sabe a importância que a utilização de mapas tem para o ensino de História, tanto do Brasil quanto de História Geral. Saber ler um mapa é fundamental para um aluno, tanto em sala de aula, durante as aulas de História ou durante os testes que serão exigidos dele durante sua trajetória escolar, como também na sua vida cotidiana, caso precise usar um mapa para alguma finalidade.
O uso de mapas em sala de aula, no entanto, esbarra muitas vezes em dois obstáculos: a falta de preparo do professor em entender e utilizar esse recurso em sala e o analfabetismo cartográfico, ou seja, a incapacidade ou dificuldade do aluno de realizar uma leitura apropriada de um mapa. Assim, professor, se você for utilizar um ou vários mapas em sala de aula, as lições desta aula podem ser úteis para que você realize um trabalho de introdução e de adaptação dos alunos aos mapas.
Utilizando mapas para estudar a história do Brasil
O ensino da história do Brasil é muito importante na vida do aluno, pois, enquanto indivíduo, ele necessita desse conhecimento durante seu processo de formação intelectual e para seu futuro ingresso em uma universidade; enquanto cidadão em formação, esse estudo torna-o capaz de compreender as contradições da trajetória histórica do Brasil e seu impacto na atualidade. No caso específico do Enem, a história do Brasil tem um peso fundamental, pois sabemos que grande parte das perguntas relacionadas ao conhecimento histórico são referentes à História do Brasil.
Diferentes recursos podem ser utilizados em sala de aula para se estudar a história do Brasil, como livros, músicas, documentários, filmes, fotos, pinturas e mapas, recursos que podem melhorar o processo de aprendizagem do aluno e que representam um elemento a mais para que a aula fuja do tradicionalismo voltado para livros e lousa.
A história do Brasil, como bem sabemos, é dividida em diferentes fases cronológicas, que foram organizadas pelos historiadores como uma forma didática de se apresentarem os conteúdos dispostos. No caso específico do Brasil, falamos de período colonial (1500-1822), período monárquico (1822-1889) e período republicano (1889-atualmente), cada um, naturalmente, com suas fases e suas particularidades.
Quando tratamos a respeito de assuntos relacionados ao período colonial, os alunos sempre se deparam com relatos eurocêntricos e fantasiosos dos europeus, bem como com as dificuldades que a nova terra impunha aos portugueses no processo de exploração e de imposição da colonização no Brasil. A forma como os colonizadores enxergavam o Brasil pode ser observada a partir dos mapas produzidos no século XVI e XVII.
Ao longo das sugestões apresentadas abaixo, perceberemos a preocupação dos portugueses (mas não somente deles, claro) com a elaboração dos mapas do Brasil e as finalidades que um mapa poderia ter. Além disso, serão discutidas questões relativas à História do Brasil e à Cartografia. Para isso, selecionamos, para serem debatidos aqui, dois exemplos que podem ser utilizados em sala de aula.
Mito da ilha Brasil
O mito da ilha Brasil foi uma fantasia cartográfica muito comum nos séculos XVI e XVII e foi muito encontrada na cartografia portuguesa, mas repercutiu também nas cartografias holandesa e espanhola. Esse mito consiste basicamente na crença de que o Brasil era uma ilha. Os historiadores debatem se as projeções cartográficas que apresentam o Brasil dessa maneira eram fruto do imaginário idílico do europeu em relação ao Brasil ou se havia alguma intencionalidade no uso do mito para aumentar a parcela do território português na América.
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Quanto à última hipótese, alguns historiadores – destaque para Jaime Cortesão – sustentam a tese de que a representação do Brasil como uma ilha era intencional. Esses historiadores argumentam que a finalidade de apresentar o Brasil como ilha era “burlar” a divisão estipulada pelo Tratado de Tordesilhas e, assim, ampliar o domínio português na América até, pelo menos, a foz do Rio da Prata.
Essa projeção cartográfica apresenta a Lagoa Eupana no coração da América do Sul, de onde emanam as bacias hidrográficas do São Francisco, da Amazonas e da Prata, o que configuraria a condição insular do Brasil. Para utilização dessa discussão em sala de aula, segue uma lista de mapas produzidos nos séculos XVI e XVII que trazem essa configuração:
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Mapa de Bartolomeu Velho de 1561. Esse mapa pode ser obtido aqui.
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Mapa de Luís Teixeira de 1586. Esse mapa pode ser obtido aqui.
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Mapa de Luís Teixeira de 1600. Esse mapa pode ser obtido aqui.
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Mapa de Willem Blaeu de 1606. Esse mapa pode ser obtido aqui.
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Mapa de Willem Blaeu de 1635. Esse mapa pode ser obtido aqui.
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Mapa de Willem Blaeu de 1642. Esse mapa pode ser obtido aqui.
Capitanias hereditárias
As capitanias hereditárias são um assunto extensamente abordado no estudo da história do Brasil em sala de aula. Sabe-se que as capitanias hereditárias foram uma divisão administrativa da Colônia, na qual dividiu-se o território atribuído a Portugal na América em quinze capitanias, cada qual sob a responsabilidade de um capitão donatário, que tinha como atribuição principal promover o desenvolvimento econômico de sua capitania.
Ao longo do tempo, convencionou-se, na historiografia, apresentar a divisão das capitanias por meio da representação cartográfica de Luís Teixeira realizada em 1586 (ver lista acima). Essa representação encontra-se, atualmente, na Biblioteca da Ajuda, em Portugal. Essa visão tradicional de representação cartográfica das capitanias hereditárias também é atribuída a um trabalho clássico de Francisco Adolfo de Varnhagen, um historiador brasileiro do XIX. Essa projeção clássica, no entanto, tem sido motivo de debate na historiografia, uma vez que uma nova versão para a representação das capitanias hereditárias foi apresentada a partir de 2013. Para acompanhar esse debate, sugerimos a leitura do seguinte texto (o novo mapa sugerido pelo autor encontra-se disposto na imagem 10).
Conclusão
Professor, ficam aqui, portanto, dois exemplos de como os mapas podem ser utilizados em sala de aula a fim de familiarizar o aluno com esse recurso e de alfabetizá-lo cartograficamente, permitindo que ele seja capaz de fazer a leitura dos signos dispostos. Além disso, essas sugestões são uma alternativa de trazer o ensino de História para a sala de aula. Assim, a partir desses exemplos, podem ser realizadas discussões não muito convencionais em sala – mas ainda assim muito importantes. Claro que existem muitos outros exemplos que podem ser trabalhados, mas, para isso, é importante que sejam realizadas pesquisas para que outras discussões (e outros mapas) sejam apresentados da melhor maneira possível.
Por Daniel Neves
Graduado em História