Uma das questões mais delicadas e complexas referentes à educação de crianças e adolescentes, nos dias de hoje, é a questão do confronto entre o cumprimento do currículo de disciplinas escolares e a formação propriamente dita desses jovens, ou seja, há uma disparidade entre educação formal e formação moral, humanística.
Digo formação humanística no sentido renascentista do termo, e não no sentido de formação em ciências humanas, com o qual pode ser confundido. A formação humanística, que vem do termo latino humanitas, implica a expansão da imaginação moral de uma pessoa. Essa expansão ocorre sobretudo através do contato com a arte, desde as artes plásticas, como a pintura, até a música, teatro, poesia e literatura em geral. É através da imaginação moral, isto é, da imaginação que nasce da experiência dos antepassados, que está registrada nas grandes obras de arte, bem como nas tradições populares, que um indivíduo se torna capaz de agir na vida prática guiado por virtudes e de compreender situações conflituosas.
Até as primeiras décadas do século XX, a formação humanística ainda tinha um grande peso na vida das pessoas que possuíam razoável acesso à educação formal. O estudo de línguas clássicas, como o latim, e a consequente leitura de textos clássicos latinos, como os de Virgílio ou de Horácio, possibilitavam aos alunos uma grande experiência formativa e a abertura para o estudo e compreensão de outras culturas. Entretanto, com a formação das sociedades de massa e dos grandes centros urbanos, as formas de organizações políticas modernas tiveram que se adequar às grandes demandas por educação formal. Nem sempre a oferta de educação está compatível com uma boa formação dos alunos.
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Geralmente, as políticas educacionais desenvolvem-se a partir das pressões exercidas por organismos internacionais. Dessa forma, o cumprimento da agenda de disciplinas é mais urgente que a formação humanística sólida dos alunos. Ainda que haja o espaço para teatro, música e literatura nas escolas, a depender das condições de cada uma delas, a formação profunda não se torna realizável.
Nesse sentido, o papel dos pais como garantidores desse tipo de formação aos seus filhos é fundamental. Uma boa educação não pode se restringir a cumprir planos escolares de capacitação e habilidades adquiridas por meio das disciplinas estudadas.
A formação da sensibilidade estética e a construção de um alicerce ético fundamentado no conhecimento da tradição e no contato com a arte são decisivas para crianças e adolescentes. Dentro de suas possibilidades (materiais, financeira, etc.), os pais devem dar aos filhos esse tipo de formação, seja levando-os a museus e bibliotecas públicas, seja ao teatro e a concertos musicais. Aos pais também está reservado o dever de sugerir e verificar se as escolas (também dentro das possibilidades e realidades de cada uma) oferecem esse tipo de formação. A construção de uma personalidade saudável é, em suma, tão importante (ou mais) que o cumprimento dos currículos disciplinares formais.
Por Me. Cláudio Fernandes