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7 dicas de como utilizar filmes como recurso didático

É comum o uso de filmes como recurso didático. No entanto, isso apresenta alguns desafios que podem ser contornados com uma boa metodologia.
Os filmes, como recurso didático, devem contribuir para o ensino de alguma forma
Os filmes, como recurso didático, devem contribuir para o ensino de alguma forma
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O recurso a obras cinematográficas para complementar o conteúdo ministrado em sala de aula ou para sensibilizar os alunos tem sido bastante utilizado. No entanto, se não for bem pensado, esse recurso pode desviar os alunos do objetivo e deixá-los ainda mais dispersos e desinteressados.

Lembro-me que, na minha época de estudante de Educação Básica, meus colegas e eu ironizávamos a seleção de filmes feita pelos professores. Tinha o professor de geografia que nos obrigava a ver “A ilha das flores” pelo menos duas vezes ao ano, o professor de literatura que alternava entre “A sociedade dos poetas mortos” e “Meu Mestre, Minha vida”, a professora de inglês que passava a mesma animação “A lenda do cavaleiro sem cabeça”, a professora de educação física que era apaixonada pelo filme “O diário de um adolescente”, o professor de filosofia que optava por filmes bíblicos, a professora de biologia que levava documentários da década de oitenta sobre o universo ou vhs gravados por ela mesma a partir de algum programa de TV.

Mesmo que os filmes fossem bons, as estratégias que os meus professores usavam não eram sempre eficientes: às vezes, a depender da quantidade de aulas da disciplina, levávamos quase um mês para ver um filme inteiro e, depois, a única coisa que nos era pedida era um relatório. Depois, os professores davam prosseguimento às suas aulas sem sequer mencionarem os filmes em relação ao conteúdo.

Assim que iniciei minha prática docente, em 2007, comecei a pensar nas formas como poderia usar esse recurso sem que isso fosse frustrante para os meus alunos, enfrentando também o tempo de duração das aulas como maior adversário. Minhas primeiras experiências foram terríveis: o primeiro filme que exibi em sala foi “Asas do Desejo”, do alemão Wim Wenders. A estética do diretor, os diálogos profundos e a duração do filme fez com que os alunos adolescentes me pedissem para nunca mais passar um filme em sala. “Por favor, professor, dá aula mesmo que é melhor”, ouvi de um deles.

Outra experiência, também frustrante, foi quando fui substituto em uma turma de Pedagogia e passei o filme francês “Entre os muros da prisão” para discutirmos o conceito de “sociedade disciplinar”. Novamente, a turma rejeitou. Embora o filme fosse pertinente, não foi uma escolha muito acertada para uma primeira aula.

Desde o início da minha experiência como professor estabeleci alguns critérios para orientar a mim mesmo ao utilizar uma obra audiovisual como recurso didático. Compartilho com vocês e espero que seja de alguma ajuda. Embora eu fale a partir da minha experiência como professor de filosofia, penso que esses critérios podem ser aplicados por professores de outras áreas.

1) Ter um objetivo didático claro. Eu sempre me pergunto: para que eu vou passar esse filme? Isso é um bom critério de escolha porque um filme que seria adequado para sensibilizar os alunos para algum tema a ser abordado, não seria adequado para ser um complemento a um tema já abordado. São objetivos diferentes que têm impacto na seleção.

2) A sala de aula não é o espaço para eu mostrar minha erudição cinematográfica. É bastante tentador levar para a sala de aula um filme russo de cinco horas, admito. Ou filmes mudos do início do século, em preto e branco. Mas eu penso que se um filme atual puder dar origem a uma discussão sobre o tema que proponho, talvez seja mais eficaz optar por ele. Eu obtive muito mais êxito quando propus discutir a imortalidade da alma a partir do filme “Entrevista com um vampiro” do que com a minha tentativa frustrada de exibir “Asas do desejo”, por exemplo. Mas, para isso ser bem sucedido, vem o ponto 3.

3) Metodologia. Da forma como eu penso, o olhar do professor deve funcionar como o olhar de um curador de museu ao escolher não só as telas, mas a disposição que elas vão ocupar em uma exposição. Escolher o filme é só uma das etapas do trabalho. Uma preparação prévia antes da exibição do filme pode auxiliar nisso. Uma crítica a respeito ou uma lista de questões às quais os alunos terão que responder podem ser entregues. Pela pouca duração das aulas, dificilmente um filme pode ser exibido integralmente, a não ser que seja um curta-metragem ou que haja uma negociação com outros professores. Por isso, uma das metologias que uso é a seguinte:

a) aula 1: aula expositiva sobre a relação entre o filme, que será visto pelos alunos em casa, e o conteúdo trabalhado. É quando apresento uma crítica ao filme, tomando o cuidado para não tirar o interesse pelo enredo, e questões que servirão de “roteiro de leitura”.

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b) aula 2: recolho as questões respondidas e oriento uma discussão sobre os aspectos pertinentes. Dividir a sala em grupos pode dar mais dinamismo ao debate para que este não fique centrado em um grupo restrito de alunos.

c) aula 3: seleciono cenas do filme às quais eu gostaria de chamar a atenção e mostrar relações possíveis com o conteúdo que tenham passado despercebidas e para reforçar as ideias principais. Entrego um novo questionário, mais reduzido, de três perguntas ou peço uma pequena dissertação para que os alunos elaborem textualmente aquilo que conseguiram apreender.

4) A sala de aula pode ser espaço para formar um público cinematográfico. No início do texto, ao chamar a atenção para o risco de se exibir um filme que fuja aos padrões comerciais, não quis dizer com isso que devemos subestimar os alunos e não apresentar a eles coisas novas. Afinal, eu entendo que um dos muitos papeis do professor seja o de oferecer aos alunos algo que eles nem sabiam que queriam, mas que pode ser importante para o desenvolvimento de suas habilidades. Ensinar um adolescente a apreciar filmes diferentes daqueles aos quais ele tem acesso pelo cinema e pela TV pode ser um pouco demorado. Por isso, acho melhor introduzir os filmes não comerciais aos poucos, levando pequenas cenas para análise e depois de já ter habituado a turma ao exercício de discutir uma obra cinematográfica a partir da Filosofia.

5) Conhecer o público. Quando trabalhamos com jovens ainda sob tutela dos pais, é importante lembrar que sua família também deve ser considerada como “público”. Afinal, o adolescente pode comentar sobre o filme com sua família e, retirado do contexto, isso pode ser desastroso. Filmes com cenas de erotismo ou que tratem de algum tema muito espinhoso não precisam ser evitados, no entanto. Mas, na minha prática docente, eu faço o possível para que os pais não rivalizem com minha estratégia pedagógica e para que contribuam com ela. Dessa forma, antes de passar um filme que possa ser polêmico de alguma forma, convido os pais para uma conversa, explico o motivo de querer usar o filme, mostro que seria importante que os pais assistissem ao filme junto ao aluno e, caso haja resistência mesmo assim, proponho uma alternativa.

6) Apresentar filmes de culturas, países e línguas diferentes. Além da discussão filosófica, sempre vejo os filmes como oportunidades de levar aos alunos filmes que tragam algum conhecimento sobre a diversidade cultural que existe no mundo. Também gosto de alternar filmes de diversas épocas. Às vezes, nós temos a ilusão de que aquilo que nos foi ensinado é inquestionável, que “foi sempre assim” e que as nossas opiniões são as mais corretas; filmes que demonstram outra forma de relacionamento entre o ser humano com o outro, com a natureza, com a política, com a religião, com a morte, com o amor, por exemplo, podem ser muito enriquecedores para a formação do aluno. A consciência de que há outras formas de pensar sobre as mesmas coisas é uma condição de possibilidade para o exercício filosófico. Além disso, o professor pode fazer conjunto com os professores de línguas estrangeiras, quando for possível. Identificar sotaques, expressões e elementos da cultura dos países podem ser pontos a serem avaliados pelos professores de línguas estrangeiras.

7) O filme como recurso pedagógico precisa promover o ensino. Ver um filme é uma atividade de lazer e um prazer estético. Mas, o filme selecionado para um trabalho com os alunos deve estar relacionado ao conteúdo e contribuir para o ensino da disciplina. Se não fizer isso, não há razão de ser; é apenas uma atividade a mais, entre as muitas que os alunos já precisam cumprir. Um filme sem ligação com o conteúdo pode ser exibido aos alunos como atividade de lazer ou como estímulo para seus estudos. No entanto, recomendaria que essa exibição não fosse no horário da aula. Contar com o apoio da escola é fundamental, portanto.

Nestes textos você terá a oportunidade de conhecer outras sugestões de temas com os quais poderá trabalhar em conjunto com o ensino de Filosofia, veja:


Por Wigvan Pereira
Gradaudo em Filosofia