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A reescrita textual concebida de forma mais ampla

A reescrita textual, quando bem explorada em sala de aula e concebida de forma mais ampla, desfaz a ideia de apenas se resumir à correção de erros.
A noção que se tem da reescrita deve ser compreendida de forma mais ampla, mediante a concepção dos aprendizes
A noção que se tem da reescrita deve ser compreendida de forma mais ampla, mediante a concepção dos aprendizes
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Não é difícil imaginar a concepção que o educando tem de reescrita textual. Ao se deparar com tal solicitação, o aluno certamente entenderá que a intenção se norteia tão somente pela correção de “erros”, tomados num sentido amplo. Talvez resida nesse aspecto a razão de tantos estigmas, de tanta repulsa acerca do hábito de redigir. Nesse sentido, torna-se necessário o quanto antes que o educador auxilie seu aluno a se desvencilhar de tal obstáculo. Um dos procedimentos que urgem nessa questão é fazê-lo entender que reescrever não se resume apenas ao ato de corrigir “falhas”.       

Mediante o ato da escrita algo é certo: as ideias, necessariamente, têm de fluir. Assim, muitas vezes elas são elencadas e transpostas ao papel, mas nem sempre constituídas da devida organização que lhes deve ser atribuída. Dessa forma, imprescindível é que tomem a ideia da escrita como um fazer iminentemente social, haja vista que sempre escrevemos para o “outro”, ou seja, quando assim o procedemos, desejamos atingir uma finalidade. Assim atestam as palavras de Luciano Martins*:

“O ato de escrever é uma das formas de buscar esse referencial. Ninguém  escreve para si mesmo. Ao escrever, estamos construindo visões de realidade com elementos tirados da fantasia, e nisso colocamos razão e sentimento, ou seja, ao escrever estamos dando nova forma a uma realidade filtrada pelas emoções. Precisamos no mínimo de que o ‘outro’  nos devolva um sinal de reconhecimento. [...]”

De forma inegável, este sinal de reconhecimento, ora retratado nas palavras do autor em questão, somente se tornará materializado por meio de um discurso claro, preciso e objetivo. Cabe afirmar, portanto, que a reescrita textual atinge horizontes mais longínquos, dada a possibilidade de o aluno se tornar um crítico de si mesmo, atentando-se para o que poderia ser mudado, reorganizado, substituído, enfim. Nesse refazer, não somente os desvios de ordem ortográfica, sintática, semântica são levados em consideração, mas também se abrem “portas” para um dos aspectos essenciais a tal modalidade – a coesão e, consequentemente, a coerência.

Mesmo que descartadas, aquelas ideias mais adequadas, mais convenientes à finalidade discursiva, certamente fluirão mediante a reescrita textual
Mesmo que descartadas, aquelas ideias mais adequadas, mais convenientes à finalidade discursiva, certamente fluirão mediante a reescrita textual

Muitas vezes, mediante o ímpeto de registrar as informações que surgem à memória, o aluno não se lembra de estabelecer a harmonia que deve se manifestar entre um parágrafo e outro. Outro aspecto, também de notória relevância, diz respeito à percepção que se deve ter para a questão do paralelismo, tanto sintático quanto semântico, pois, mesmo não concebendo uma falha assim tão grave, este acaba por vezes influindo de forma negativa na performance discursiva e, muitas vezes, na clareza dos enunciados. 

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Emergem também aspectos voltados para a prolixidade de ideias, sobretudo manifestada pela construção de frases longas, as quais apenas contribuem para a obscuridade de sentidos. Dessa forma, ao propor a reescrita textual o educador deve trilhar seus objetivos a serem conquistados, apoiado na ideia de que os benefícios obtidos por meio dessa prática, de forma inegável, serão:

# No plano sintático: reorganização de frases, períodos, de modo a tornar clara e precisa a enunciação;

# No plano semântico-estilístico: escolhas lexicais bem adequadas fazem a diferença na materialização do discurso propriamente dito. Nesse sentido, a reescrita propicia ao aluno dizer o que realmente se pretende;

# No plano relativo aos níveis de linguagem: como se trata de um registro voltado para a formalidade, tal procedimento também atua de forma apositiva, no sentido de fazer com que os educandos se atentem para a apropriação do discurso perante a situação comunicativa em questão. 

Em face de todas as elucidações aqui abordadas, resta-nos afirmar que se trata de um procedimento metodológico de grande eficácia, que, se bem utilizado, pode promover a competência discursiva dos educandos, tendo em vista que tal postura aguça o senso crítico e amplia de forma notória a percepção das múltiplas possibilidades que a língua nos oferece.

* MARTINS, Luciano. Escrever com criatividade. São Paulo: Contexto, 2001.