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Aula sobre a construção histórica da imagem de Tiradentes

Nesta aula sobre Tiradentes, o professor de História pode encontrar uma dica interessante de como conduzir a análise da construção da imagem dessa figura histórica.
Neste selo cubano de 1988, Tiradentes foi representado com traços semelhantes aos idealizados para Cristo *
Neste selo cubano de 1988, Tiradentes foi representado com traços semelhantes aos idealizados para Cristo *
Crédito: Shutterstock
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Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, foi uma importante figura da história brasileira. Seu envolvimento na conspiração organizada pela elite mineradora de Minas Gerais acabou custando-lhe a vida, ao ser utilizado como bode expiatório após a Coroa Portuguesa descobrir a trama dos conspiradores.

A punição dada a Tiradentes foi utilizada pela Coroa como exemplo para amedrontar novas tentativas de rebeliões entre os colonos. A partir da execução dele, sua imagem foi utilizada por ideólogos positivistas e transformada na figura de uma grande herói, um grande mártir da história brasileira.

O fato de haver um feriado em homenagem a Tiradentes, em 21 de abril, evidencia isso. Portanto, professor, vamos explorar isso em sala de aula e examinar, juntamente aos alunos, como houve essa construção histórica da figura de Tiradentes.

Contexto histórico

Professor, é importante que, antes de ser analisada a construção histórica da imagem de Tiradentes, seja feita uma contextualização histórica dos eventos que levaram a sua morte. Assim, vejamos rapidamente algumas informações importantes acerca de Tiradentes e da Inconfidência Mineira, evento que aconteceu no século XVIII.

Joaquim José da Silva Xavier nasceu na Capitania de Minas Gerais, em 12 de novembro de 1746, em uma família humilde. Ao perder os pais prematuramente e, para garantir sua sobrevivência, Joaquim José precisou exercer diferentes ofícios, entre eles, o de dentista amador, o que lhe rendeu o apelido de “Tiradentes”, pelo qual ficou historicamente conhecido. Quando a inconfidência foi descoberta pela Coroa, Tiradentes exercia uma função no exército.

A Inconfidência Mineira, da qual Tiradentes tomou parte, foi um movimento organizado pela elite da região mineira contra o domínio português. A insatisfação das elites locais era provocada, principalmente, pelos altos impostos cobrados por Portugal, mesmo com a atividade mineradora em decadência na região.

Esse movimento inspirou-se em ideais iluministas quando houve o contato de membros da elite colonial mineira com essas ideias na Europa. O historiador Boris Fausto aponta, por exemplo, que havia dez estudantes brasileiros em Coimbra que eram originários de famílias da Capitania de Minas Gerais|1|.

A insatisfação das elites locais foi intensificada com as ordens dadas ao novo governador da capitania, o visconde de Barbacena, de organizar a derrama. A derrama era a cobrança obrigatória de impostos com o objetivo de arrecadar a meta de 100 arrobas de ouro estipulada pela Coroa Portuguesa.

Com isso, no final de 1788, a conspiração dos inconfidentes começou a ser organizada com o objetivo de proclamar o republicanismo na capitania. Os inconfidentes ainda pretendiam que todas as dívidas da elite local fossem perdoadas e que os escravos nascidos no Brasil fossem libertos. O movimento, no entanto, foi denunciado por Silvério dos Reis, e a Coroa interveio rapidamente, prendendo os envolvidos.

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Tiradentes também participava desse movimento e, por isso, acabou sendo preso no Rio de Janeiro. Durante os julgamentos, alguns dos envolvidos foram condenados à forca, no entanto, todos os condenados – exceto Tiradentes – receberam clemência e tiveram suas penas substituídas pelo degredo (expulsão) para Angola. Tiradentes, portanto, foi feito de bode expiatório.

Tiradentes foi enforcado no Rio de Janeiro, no dia 21 de abril de 1792. Após morto, ele foi decapitado e sua cabeça foi colocada em exibição em uma estaca no centro de Ouro Preto. Seu corpo foi esquartejado e suas partes foram lançadas em diferentes locais da cidade dessa cidade. Tiradentes foi utilizado para passar a mensagem de que a Coroa não aceitaria conspirações na colônia.

Construção da imagem de Tiradentes

O resgate da figura de Tiradentes somente ocorreu anos depois, com a Proclamação da República, pois, durante o período monárquico, sua figura permanecia no esquecimento. Tiradentes permaneceu esquecido durante o Império, primeiro, por pertencer a um movimento de caráter republicano e, segundo, pelo fato de Dom Pedro I e Dom Pedro II serem herdeiros diretos de Dona Maria, que foi a responsável pela condenação do inconfidente.

A imagem de Tiradentes como herói e mártir brasileiro foi uma construção histórica realizada pelos defensores do republicanismo, inspirados em ideais positivistas. A ideia central era a de resgatar personalidades importantes da história brasileira para exaltar os valores do republicanismo em contraposição com a monarquia.

A partir de então, a figura de Tiradentes passou a ser exaltada como herói nacional e um mártir do republicanismo no Brasil. Aliás, as representações de Tiradentes passaram a assemelhá-lo às imagens construídas de Cristo, o que ressaltava a ideia da sua martirização e heroificação. Uma das etapas desse processo foi a transformação da data de sua execução em feriado.

Assim, professor, veja alguns tópicos importantes que podem ser abordados após uma contextualização do assunto:

  • Definição do conceito de herói: no caso, pode ser abordado a questão do herói como símbolo de identificação coletiva utilizado para legitimar um regime ou ideal político.

  • Contraposição da figura de Tiradentes no período monárquico e no período republicano: aqui, professor, podem ser evidenciados os diferentes usos que são feitos da memória histórica com essa contraposição, ilustrada pela forma como a figura de Tiradentes foi tratada em períodos distintos da história brasileira.

|1| FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2013, p. 99.

*Créditos da imagem: Lefteris Papaulakis e Shutterstock


Por Daniel Neves
Graduado em História