De forma indiscutível, o trabalho com os diferentes gêneros no ambiente de sala de aula representa um recurso didático cuja eficácia é positiva. Além de colocar os aprendizes em contato com as diferentes circunstâncias sociocomunicativas do dia a dia, ainda os auxilia na conquista de determinadas habilidades no que tange à escrita, sobretudo dando ênfase às características discursivas inerentes aos muitos gêneros que existem.
Simplesmente ressaltar que a notícia compõe um desses gêneros, levando em conta alguns aspectos de natureza constitutiva (legenda, lide, título, título auxiliar, entre outros), torna-se algo insuficiente, haja vista a necessidade de os alunos comprovarem na prática as características de natureza linguística que a demarcam.
Nesse sentido, o artigo em questão tem por finalidade fazer algumas abordagens no que tange a tais metodologias, trabalhando com a leitura de notícias, cujo intento vai além de uma análise estrutural, como afirmado anteriormente.
Assim, ao estimular o aprendiz a analisar o conteúdo noticiado propriamente dito, o educador abre “brechas” para que alguns elementos de fundamental importância sejam detectados e, sobretudo, analisados. Elementos esses representados pelas marcas de intencionalidade, nem sempre identificadas a partir de uma leitura desatenta e descompromissada.
Dito isso, vejamos o que nos afirma Cláudio Bazzoni, selecionador do prêmio Victor Civita:
“Mais que ler palavras e compreender o significado semântico delas, os estudantes precisam se acostumar a entender as escolhas feitas por quem escreveu o material, lendo o que está nas entrelinhas, implícito, e o que está atrás das linhas, ou seja, que requer a interpretação do leitor” .
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Fazendo referência ao vocábulo “implícito”, esse parece denotar um ponto fundamental que irá incrementar ainda mais a discussão, haja vista que suscita um importante questionamento:
* Até que ponto se estende a neutralidade, a objetividade do emissor ao relatar acerca dos fatos noticiados?
Por mais que o discurso pareça objetivo (e precisa assim parecer), sempre haverá uma “pontinha” de intenção advinda de quem escreve. Dessa forma, outra questão poderá ser perfeitamente levantada:
* De acordo com o título apresentado, sequencialmente o subtítulo – ainda mais atrativo –, quais teriam sido as intenções ao expô-los?
Após permitir a familiaridade dos leitores com o assunto revelado pela notícia, torna-se fundamental que o educador os incite a expor os conhecimentos acerca de tal assunto, desde que faça parte do universo “deles”; caso contrário não terão grandes chances de se posicionarem. Assim procedendo, o aprimoramento da capacidade argumentativa – essencial à produção de textos – se torna ainda mais explorada, haja vista que o público terá a oportunidade de manifestar suas próprias ideias.
Elencados tais pressupostos, esses poderão ser de grande valia, no sentido de auxiliar o estudante a fazer uma análise discursiva mais apurada acerca dos textos que lê, detectando, sobretudo, as marcas de intencionalidade propostas pela enunciação.
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras