Teatro das profissões
Eu sou um serralheiro,
Trabalho o dia inteiro,
Gosto muito do que faço,
Trabalho com solda e aço...
Eu sou um bombeiro,
Tenho ambulância e carros-pipas,
E sempre chego primeiro,
Combatendo o fogo e salvando vidas...
Eu sou um engenheiro,
E construo a cidades,
Projeto prédios inteiros,
Escolas, casas e maternidades...
Eu sou a médica,
Cuido dos doentes e machucados,
Dou remédios na dose certa,
Para que todos fiquem curados...
Eu sou a costureira,
Trabalho com linha e panos de algodão,
Faço roupa nova e faceira,
Mas também remendo furos e prego botão...
EU sou o marceneiro,
Faço móveis de todos os lugares,
Cozinha, sala, quarto e banheiro
Preenchendo todos os lares...
Eu sou o motorista,
E levo coisas que você ainda não viu,
No caminhão carga, no ônibus o turista,
Viajando pelas estradas do Brasil...
Eu sou a dentista,
E cuido bem do seu sorriso,
Cárie não aparece na minha vista,
Pois para tirá-la, faço o que for preciso...
Eu sou o eletricista,
Trabalho com eletricidade,
Levo luz para quem precisa,
Em qualquer lugar da cidade...
Eu sou a enfermeira,
E cuido dos dodóis dos doentes,
E dou vacinas certeiras,
Nos bumbuns de todas as gentes...
Eu sou o policial,
E patrulho todas as ruas,
Dia e noite, para mim é normal,
Para garantir a segurança sua...
Eu sou a professora,
Ensino matemática e ABC,
Para que tenhas uma vida promissora,
E assim, inteligente crescer...*
Marco Ramos
Aparentemente, em se tratando de propostas didáticas, o poema em questão parece não “casar” assim tão bem quando o assunto se refere, sobretudo, a um público cuja faixa etária se encontra num patamar mais elevado. No entanto, analisado sob outro prisma (deixando as adequações em segundo plano), ele parece se ajustar perfeitamente ao assunto que ora nos propomos a discutir, norteado, portanto, pela escolha da profissão, pelo futuro profissional, por certo ainda tão ‘incerto’ nas muitas cabecinhas daqueles que ocupam, nem que seja por algumas horas, uma cadeira no ambiente escolar. Assim, ao contextualizarmos a fase demarcada pelo Ensino Médio, na qual se subentende que as prioridades já se encontram bem mais ajustadas que no Ensino Fundamental, a pertinência para algumas abordagens acerca do caso parece ganhar ainda mais relevância, mais notoriedade, haja vista que são somente três anos para a tão discutida decisão (na verdade, apenas dois, pois no último deles a opção já tem de estar definida).
Nesse ínterim, influências há de toda parte, ou seja, existe o pai que, por exercer esta ou aquela profissão, deseja incessantemente incutir nos filhos a importância (isso, segundo a concepção dele) de seguirem a mesma trajetória. Existe também aquele lado, digamos assim, “negro”, que apenas dificulta a situação, quando não faltam pessoas para apontar acerca dos fracassos, sobretudo os financeiros, que se destinam a esta ou aquela profissão. Dessa forma, o(a) jovem acaba se perdendo, muitas vezes não vendo propósito algum em estar se preparando, fato esse que culmina nas constatadas evasões que atestam os muitos indícios de que já temos conhecimento.
Frente a essa realidade, estimado(a) educador(a), que essa prestigiada classe (dos professores) pode entrar com sua parcela de contribuição e promover um espaço para que esses aspectos sejam enfatizados e discutidos amplamente dentro de um ambiente que parece mais do que propício para tal. Dessa forma, aqui em caráter específico, direcionamos nosso olhar para o professor de Língua Portuguesa, o qual, dentre as oportunidades que lhe são concedidas para esse explorar, pode realizar um proveitoso trabalho com a Literatura.
Para tanto, elegemos “Futuro feito à mão”, cuja autoria se refere à Giselda Laporta Nicolelis, entre outros autores, uma vez que se trata de uma reunião de contos, em que cada um deles assume uma autoria distinta. O enredo que a eles se atribui, ainda que de maneira fictícia, aborda acerca das escolhas profissionais, apontando “as pedras no caminho”, desmitificando concepções, valorizando acerca da função social do trabalho, enfim, é uma obra para ser lida, discutida e explorada sob todos os níveis, sejam esses no aspecto linguístico, sejam no discursivo propriamente dito. Nesse sentido, apontando sobre essa função social que adquire o trabalho, a valorização de toda e qualquer profissão também entra em jogo, obviamente, e é assim que nada custa voltar ao poema em questão e propor algumas discussões acerca dele, antes, é claro, de partir para a leitura da obra.
Realizada tal proposta, seminários, debates, dramatizações, entre outras iniciativas, são sempre bem-vindas, mas para facilitar o seu trabalho, sobretudo porque formalizar por escrito também faz parte dos intentos pedagógicos, eis algumas sugestões:
1 - Ao lermos uma determinada obra literária, além de nos atentarmos ao enredo (história) propriamente dito, temos de estar cientes no que se refere a outros aspectos. Dessa forma, cite:
- Título da obra;
- Nome completo dos autores;
- Nome dos ilustradores;
- Nome da editora;
- Número da edição;
- Local onde o livro foi publicado;
- Ano em que a obra foi publicada.
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2 – Giselda Laporta Nicolelis, juntamente aos demais autores, aborda acerca de uma questão bastante pertinente nos dias atuais: a escolha do futuro profissional. Nesse sentido, eis que uma pergunta se revela como primordial: você, nem que seja por alguns instantes, já se pegou pensando sobre isso? O que acha dessa ideia?
3 – “Zelar” pelo nosso futuro é, sem dúvida, dever de todos nós, buscando sempre aprimorar os conhecimentos, investir na capacitação profissional, entre outros aspectos. Dessa forma, o que você considera como o mais importante: o lado econômico, ou seja, aquela profissão mais bem remunerada, ou a realização profissional? Por quê?
4 – De acordo com as experiências conquistadas por meio da leitura que realizou, você pôde constatar que o enredo é todo constituído por contos, os quais falam sobre algumas profissões, de modo específico. Assim, no primeiro deles, intitulado “O fator humano”, Élcio, um dos assessores do doutor Luiz Francisco, dirige-se à Samantha na intenção de perguntá-la se não ia bancar a madre Teresa de Calcutá, levando o dito-cujo para casa.
Relembrando, de quem ele estava falando? Qual foi a atitude que ela tomou ao perceber que não poderia contar com a ajuda de ninguém que trabalhava ali, na mesma empresa?
5 – Carpe Diem, outro conto da história, traz como protagonista a advogada Vanessa, recém-formada. Assim, advogando causas dos clientes, ganha de um deles um presente meio inusitado, diferente daqueles considerados “normais”. Que presente foi esse e o que ela fez com o objeto?
6 – Sempre quando lemos uma obra, algumas passagens parecem mexer mais com nossos sentimentos do que outras – fato que não podemos negar ao lermos o conto “Olhar com o coração”, não é verdade? Partindo dessa ideia, o Dr. Leonardo, médico entrevistado pela jornalista Sofia, disse-lhe algo bastante profundo, algo que nos conduz a uma reflexão constante, assim: “Há coisas na Medicina que não são compreendidas com o racional, com os olhos de uma repórter, mas apenas com o coração de uma pessoa que sente e enxerga além”. Assim, qual a sua opinião sobre a atitude que teve esse grande profissional, ao dizer essas belas palavras?
7 – Dada a importância da temática trabalhada em todos os contos, podemos identificá-la em distintas circunstâncias comunicativas, inclusive na música. Nesse sentido, observe alguns fragmentos extraídos da canção “Quem sou eu”, de autoria da banda Hori, na qual um dos integrantes é o filho do cantor Fábio Júnior – Fiuk:
[...]
Vou descobrir o que é melhor pra mim
Que profissão eu quero, futuro que eu espero
Vou encontrar o que me faz feliz
Sem saber o que vai ser (vai ser)
Sem saber o que vai ser
Se é pra eu tentar ser alguém bem melhor
Deixa eu tentar ser quem eu sou
Ganhar ou perder tanto faz
Não me importa
Eu quero é mais ser quem eu sou
[...]
Nota-se uma descoberta do próprio “eu” por parte da voz que expressa dentro da letra musical, concorda? Assim, você considera que é importante a pessoa se conhecer para fazer uma boa escolha profissional? Justifique sua resposta.
8 – A charge a seguir, apesar de explorar a linguagem não verbal, também enfatiza o assunto expresso na obra lida. Nesse sentido, tendo em vista que ao terminar a Educação Básica, a qual você se encontra cursando, logo irá ingressar numa universidade e fazer um curso de acordo com suas escolhas profissionais, interprete acerca do que você presencia na imagem a seguir, lembrando-se de que nem todo profissional, por um motivo ou outro, tem a sorte de ser bem-sucedido.
Charge de autoria do cartunista Daryl Cagle
9 – Ainda ressaltando acerca do conto “Olhar com o coração”, na página 72, Sofia, ao constatar o ritmo acelerado em que vivia tanto o Dr. Leonardo quanto o Dr. Gilberto, acaba chegando a uma importante conclusão sobre a Medicina. Assim, você seria capaz de citá-la?
10- Após se inteirar do assunto expresso em todos os contos, você, que também pretende ser um(a) profissional futuramente, consegue se identificar com algumas das profissões neles abordadas? Caso sua pretensão não se refira a nenhuma delas, relate qual deseja seguir e justifique o porquê de sua escolha.
E é isso que vai fazer a diferença do seu trabalho, como é o que o que faz a diferença do meu. Se fazemos com o coração, somos profundos, somos verdadeiros conosco mesmos e com os outros, e aí mostramos o quanto somos únicos e o quanto o que fazemos também é único.
(Palavras do Dr. Leonardo – personagem da história lida)
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras